Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Cornelio de Haro Varella nasceu na cidade de Lages, Santa Catarina, no dia 16 de setembro de 1871. Sabe-se que ele estudou na capital gaúcha, Porto Alegre, mais tarde, tornou-se conhecido do então, eleito, Superintendente Municipal de Curitibanos, o Coronel Francisco Ferreira de Albuquerque, que o convidou para trabalhar como Secretário da Superintendência, assessorando o gestor municipal nos seus afazeres burocráticos. Cornélio assumiu as suas funções na Superintendência em setembro de 1903. Seus pais se chamavam Boaventura do Amaral Varella e Cândida Lopes de Haro.
No dia 16 de novembro de 1907, contando com 37 anos, na residência do senhor João Caetano da Silva, situada na Rua Coronel Vidal Ramos, em Curitibanos, às 17 horas, casou-se com a jovem Maria de Lima, de 23 anos, filha de Antonio de Lima e de Anna Caetano da Silva. Foram testemunhas da cerimônia de casamento, o Superintendente Municipal de Curitibanos, Coronel Francisco Ferreira de Albuquerque e o anfitrião, senhor João Caetano da Silva. Do casamento, nasceram quatro filhos: Leontina, Leony, Nabuco e Leonila. Houve também uma cerimônia de casamento na igreja, celebrada pelo famoso padre Frei Rogério Neuhaus.
Apesar de ter trabalhado por anos na Secretaria da Superintendência, Cornelio de Haro Varella também exerceu outras funções importantes em Curitibanos. Atuava como Solicitador (um nome que na área do Direito, principalmente em Portugal, tem o significado de alguém que possui algum mandato judicial ou que presta consulta jurídica), no caso de Cornelio de Haro Varella, como um rábula (um advogado que, não possuindo formação acadêmica em Direito, obtinha a autorização do órgão competente do Poder Judiciário, ou da entidade de classe, para exercer, em primeira instância, a postulação em juízo), advogou em inúmeras causas, a mais famosa, foi a defesa no Processo de Adeodato Manoel Ramos, último chefe da “Irmandade de São Sebastião” (Guerra do Contestado). Adeodato foi condenado a 30 anos de prisão, num processo aberto desde 1915, pelo ataque sertanejo à comunidade de Rio Bonito. O seu julgamento foi apenas uma formalidade que durou poucas horas.
Na época do conflito entre as forças legais e os fanáticos, que culminou com a invasão e o incêndio à vila de Curitibanos, Cornelio de Haro Varella sofreu muito, principalmente com o ataque do dia 26 de setembro de 1914, quando 22 casas da vila foram incendiadas. Logo após essa data, mudou-se temporariamente para a cidade de Rio do Sul, onde teve a oportunidade de ajudar, por informações, as tropas federais que se dirigiam para Curitibanos. Mais tarde, em roda de amigos, Cornelio contou sobre a situação precária dos soldados que vinham de várias partes do Brasil, cansados, espoliados e exaustos, enfrentando um sertão ainda por desbravar, combatendo os fanáticos, que estavam, praticamente, em casa, conhecedores de cada palmo da enorme floresta de araucárias.
No Jornal "O Dia, de 24 de fevereiro de 1917, consta uma nota que diz que "o capitão cornélio de Haro Varella, foi nomeado Adjunto do Promotor Público da Comarca de Curitibanos". Em 11 de março de 1917, no mesmo jornal, tem uma nota de agradecimento do chefe de polícia, tratando Cornélio de Haro Varella como Promotor Público da Comarca de Curitibanos. Deve ter havido um engano do Chefe de Polícia, pois no dia 17 de março de 1917, conforme o despacho n.º 87 do Diretor do Interior e Justiça, ficou nomeado como Adjunto do Promotor Público da Comarca de Curitibanos. Cargo que ocupou até o dia 14 de maio de 1917, quando foi exonerado.
Em 24 de dezembro de 1930, conforme nota no Jornal "A República", de 4 de janeiro de 1931, Cornélio foi escolhido para ser o orador do "Comitê da Aliança Liberal de Curitibanos". A nota informa o Interventor Federal no Estado de Santa Catarina, General Ptolomeu de Assis Brasil. Nessa época e também no ano de 1931, foi membro do Diretório Distrital do Partido Liberal.
Por certo tempo, Cornelio de Haro Varella morou na pequena Ponte Alta, onde fundou uma escola particular, com o intuito de poder sustentar a sua família. Foi considerado por muitos que o conheceram, como um homem íntegro e justo em suas ações.
No dia 14 de novembro de 1937, os sinos da pequena igreja de Curitibanos tocaram por algum tempo. Era o anúncio do falecimento de Cornelio de Haro Varella. Era o encerramento da sua vida terrena. Do homem que mais tarde, foi homenageado com o nome de uma importante rua de Curitibanos, pois, 22 anos depois da sua morte, através da Lei Ordinária n.º 399/1959, o então prefeito Bruno José Hartmann, no dia 21 de maio de 1959, denominou uma rua com o nome de Rua Cornelio de Haro Varella.
Referências para o Texto:
Chefatura de Polícia. Jornal O Dia. Florianópolis, domingo, 11 de março de 1917. Ano XVII, n.º 8570, p. 3.
Curitibanos — Lei Ordinária n.º 399/1959, denomina rua.
Comitê da Aliança Liberal de Curitybanos. Jornal A República. Florianópolis, domingo, 4 de janeiro de 1931. Ano I, n.º 60, p. 7.
Diversas. Jornal O dia. Florianópolis, sábado, 24 de fevereiro de 1917. Ano XVII, n.º 8555, p. 3.
Expediente do Sr. Director do Interior e Justiça. Jornal O dia. Florianópolis, sábado, 17 de março de 1917. Ano XVII, n.º 8576, p. 2.
Expediente do Sr. Director do Interior e Justiça. Jornal O dia. Florianópolis, quinta-feira, 31 de maio de 1917. Ano XVII, n.º 8646, p. 2.
MACHADO, Paulo Pinheiro. — Rábulas e Bacharéis na Guerra do Contestado: Direito, polícia e conflito social (1912- 1916) Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, vol. 9, núm. 1, enero-abril, 2017, pp. 3-20 Universidade Federal Fluminense Niterói, Brasil.
NERCOLINI, Maria Batista.— Cornelio de Haro Varella. Escritos biográficos. Curitibanos, maio de 1973. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.
Partido Liberal Catharinense. Jornal A República. Florianópolis, terça-feira, 22 de setembro de 1931. Ano I, n.º 277, p. 3.
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