Rosa Maria França

Texto de Antonio Carlos Popinhaki

Rosa Maria França nasceu no dia 16 de maio de 1895, na vila de Curitibanos, conforme atesta o registro de batismo escrito pelo famoso padre Frei Rogério Neuhaus. Seus pais se chamavam Florêncio Rodrigues França e Francisca França de Almeida. Quando tinha 16 anos, no dia 28 de dezembro de 1912, ainda menor de idade, casou-se com o comerciante Theodoro França Pereira. Ele também era natural de Curitibanos. Theodoro, ou “Tiodorinho França”, como era conhecido, era seu parente, entretanto, após investigação, não foi achado nenhum impedimento para o matrimônio, uma vez que a menoridade da nubente e o grau de parentesco não impedia, por Lei, tal união. O casamento deu-se na cidade natal dos cônjuges, ou seja, em Curitibanos. Daquela união, nasceram nove filhos naturais, devidamente registrados no cartório da vila. Entretanto, há informações, que foram responsáveis pela criação de outros filhos não naturais.

Após o casamento, no ano de 1913, começaram a nascer os filhos, trazendo alegria ao lar dos França Pereira. A primeira que nasceu foi Graçulina, no dia 25 de setembro de 1913. Contudo, no ano seguinte, houve uma invasão na vila de Curitibanos, de mais de 200 fanáticos revoltosos, que queriam demonstrar força e vingar-se do antigo superintendente local, o Coronel Francisco Ferreira de Albuquerque. Dias antes da invasão, os moradores de Curitibanos abrigaram-se nos matos, sob o frio e a chuva intensa ocorrido naqueles dias. Theodoro, Rosa e a sua filha pequena, de nome Graçulina, tiveram que fugir da fúria dos revoltosos. A casa comercial da família foi saqueada e destruída pela horda de fanáticos. Theodoro abriu o negócio, mesmo antes de casar-se. Ele era um empreendedor nato, pois em 1908, começou a negociar em Curitibanos, com o estabelecimento da Casa Comercial de Armarinhos e Bar. A invasão da vila de Curitibanos ocorreu em 26 de setembro de 1914, um sábado. Com a residência de Theodoro e Rosa Maria França, outros 21 imóveis foram destruídos pela ação do fogo consumidor.

Tudo ocorreu da seguinte forma: Theodoro e Rosa Maria preparavam a festa de aniversário da pequena Graçulina, que no dia 25 de setembro, completava um ano de vida. Fariam a comemoração no sábado. De repente, viram a casa invadida e saqueada. Não tiveram muito tempo, fizeram algumas trouxas de roupas e fugiram para o mato. As trouxas foram o que sobrou dos bens da família. A casa toda foi incendiada. Ficaram morando com os pais de Rosa, o sogro, Florêncio e a sua esposa, Dona Francisca, no local chamado e conhecido como Potreiro dos França.

A reconstrução foi lenta, mesmo alguns anos após o sinistro, poucas casas haviam sido construídas ou reconstruídas. Era uma época difícil, havia medo e temor por parte dos moradores de Curitibanos, uma vez que o local era basicamente um sertão, com acesso por estradas ou caminhos precários e às vezes, intransitáveis por causa de ataques de índios ferozes que habitavam nas matas. Os rios eram transpostos por pequenas balsas ou pelos chamados “passos”, lugar de águas rasas, quando não chovia muito. Uma viagem de Curitibanos para Florianópolis, demorava até 30 dias, conforme as condições do tempo e dos caminhos. Esse era o prazo dado pelos Correios para a entrega de correspondência Florianópolis/Curitibanos: 30 dias.

Após entraves com moradores locais, foi permitido, em 1915, que a família de Theodoro e Rosa Maria França construíssem suas casas num terreno que ficava no limite Sul da vila, no final da Rua Dr. Lauro Müller, paralelo com a Rua Medeiros Filho, que também era conhecido como estrada geral de acesso Norte e Sul, que também foi o antigo Caminho das Tropas, por onde tropeiros conduziam gado e mulas. Dessa vez, de forma visionária, Theodoro e Rosa, ou “Rosinha” como era carinhosamente chamada e conhecida, além da Casa Comercial, Armarinhos e Bar, foram construídas no terreno citado: Bar, Hotel, Pensão e Maternidade. Isso mesmo, Dona Rosinha especializou-se como parteira profissional da vila, utilizando um local apropriado, numa das suas casas, para que as mulheres pudessem dar à luz, com a supervisão do senhor Alfredo Lemser, que era farmacêutico, mas especialista em obstetrícia da época. Muitos curitibanenses nasceram por suas mãos.

Além de Alfredo Lemser, trabalharam com a Dona Rosinha no setor de saúde da mulher curitibanense, os médicos Henrique Berger Filho, José Macedo e Marcos Splitzer. No dia 26 de fevereiro de 1939, sob a presidência de Felippe Granemann, houve a primeira reunião para a deliberação de atos e movimentos em função da construção de um hospital na cidade de Curitibanos. Segundo a Ata daquele encontro, o início da reunião foi às 15 horas. Estiveram presentes homens importantes, personagens que contribuíram, de certa forma, dentro das suas esferas de poder, com a construção do que hoje é o município de Curitibanos. Entre os citados, estavam Felippe Granemann, Napoleão Sbravatti, Osny Câmara da Silva, Faustino Sbravatti, Heraclides Vieira Borges, o então prefeito, Graciliano Torquato de Almeida, Ceslau Silveira de Souza, José Antônio de Mello, Luiz Dacol, Fioravante Ortigari, Anacleto Antunes de Souza, Alfredo Lemser, Henrique Coninck Junior, Walter Tenório Cavalcanti, João Pedro Carneiro, Antonio Francisco de Campos, Antonio Tenório Cavalcanti, Sebastião Calomeno e Theodoro França Pereira. O hospital começou a funcionar, mesmo que precariamente, no final da década de 1940.

Rosa Maria França faleceu no dia 23 de agosto do ano de 1953, às 8 horas da manhã, na sua residência, localizada na Rua Medeiros Filho, faleceu de insuficiência cardíaca, associada com diabete, trazendo profunda tristeza, não só para os familiares, mas também, para todos os moradores de Curitibanos. Não é possível expressar em números, simplesmente, porque não foram contados, os que conheceram a luz deste mundo e nasceram por suas mãos.

Da mesma forma que escrevi sobre o seu marido, há ainda uma lacuna a ser preenchida por parte do setor público, no que se refere a uma homenagem, de forma a preservar para a posteridade o nome de Rosa Maria França, a Dona Rosinha. Até o ano de 2023, não existe nenhuma rua, via, logradouro, prédio, ou edificações que tenha o seu nome. Nenhum prefeito ou vereador atentou para isso, pessoas ou personagens que fizeram menos, que não nasceram em Curitibanos, receberam honrarias mais expressivas. Para alguns, uma injustiça, contudo, ainda há tempo para corrigir.

Referências para o texto:

Com informações de Alexandre Fossatti

Com informações de José Jesus França Souza

Com informações de Neiva Germiniani

Com informações de Rosa França Camargo

Fotografia colorizada por Alexandre Fossatti

Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. Livro n.º 157. Livro de Atas da Comissão para a construção do Hospital Frei Rogério.

POPINHAKI, Antonio Carlos. O Hospital Frei Rogério. Blog pessoal de Antonio Carlos Popinhaki. On-line, disponível em: https://antoniocarlospopinhaki.blogspot.com/2023/03/o-hospital-frei-rogerio.html

POPINHAKI, Antonio Carlos. Theodoro França Pereira. blog curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2023/03/theodoro-franca-pereira.html

POPINHAKI, Antonio Carlos. O Hospital Frei Rogério. Blog pessoal de Antonio Carlos Popinhaki. On-line, disponível em: https://antoniocarlospopinhaki.blogspot.com/2023/03/o-hospital-frei-rogerio.html

Registro de Casamento de Theodoro França Pereira e Rosa Maria França. Cartório de Registro Civil de Curitibanos

Registro de óbito de Rosa Maria França. Cartório de Registro Civil de Curitibanos

Registro de óbito de Theodoro França Pereira. Cartório de Registro Civil de Curitibanos.