Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Jorge Luiz Moraes Franklin nasceu no dia 22 de agosto de 1952, na cidade de Lages/SC. Seus pais se chamavam Irany Franklin da Silva e Dautina Moraes da Silva. Ainda criança, estudou no Colégio Diocesano de Lages. Quando completou 14 anos, começou a trabalhar na empresa Klabin S.A. Permaneceu nesse serviço até a época em que passou no vestibular para medicina na Universidade Católica de Pelotas — UCPEL. Nesta ocasião, ele tinha 26 anos. O ingresso na faculdade foi por seus próprios méritos, quando passou na prova, mas também, com a árdua ajuda dos pais e dos tios, que não eram pessoas de posses. Jorge teve sempre uma eterna gratidão pela ajuda dos tios no ingresso e permanência na faculdade. Quanto ao vestibular, fez a prova meramente por influência de um primo que havia feito a inscrição e queria que Jorge o acompanhasse. Após formado, revelou-se um excelente profissional, entretanto, o seu grande sonho era ser arquiteto ou engenheiro. Gostava muito das práticas de marcenaria, de desenhar e de construir. Os membros da sua família contaram que ele tinha, em casa, praticamente, uma oficina completa, com todas as principais ferramentas indispensáveis no dia-a-dia de uma rústica marcenaria. Depois de muitos anos, conseguiu concretizar um velho sonho, o de possuir um imóvel rural. Quando se mudou para o sítio, levou consigo as suas ferramentas. Era, também, muito hábil em desenhos. Na área da medicina, tinha uma mão cirúrgica invejável. Se destacava entre os cirurgiões pela maneira como fazia os cortes cirúrgicos (o traçado do corte), bem como, as suturas. Deixava, no operado, poucas cicatrizes expostas. Dessa forma, outros médicos reconheciam o seu trabalho, por exemplo, quando viam, numa paciente, a marca de uma cesariana.
Na faculdade, em Pelotas, conheceu a pessoa que seria a sua futura esposa, Íris Xavier, que também cursava medicina. Namoraram por 6 anos até o casamento, que ocorreu na cidade Bom Jesus/RS, terra natal de Íris. Depois, vieram morar em Curitibanos, onde se fixaram com residência. Jorge Luiz ainda ficou 2 anos em Porto Alegre, no Hospital das Clínicas, onde aprendeu a dominar as técnicas da Ginecologia e Obstetrícia. A partir de 1984, começou a trabalhar em Curitibanos, juntamente com a esposa. O Doutor Jorge Luiz Moraes Franklin atuou como médico por 37 anos. Além de atender no município de Curitibanos, ainda, foi médico nas cidades vizinhas de São Cristóvão do Sul, Ponte Alta do Norte e Frei Rogério. Foi um profissional dedicado, abnegado e determinado. Sentia-se realizado com a sua profissão. Do casamento com a Doutora Íris Xavier, teve dois filhos, Laura Xavier Franklin e Luiz Fernando Xavier Franklin. Ele também, a pedido da filha, que confiava muito no profissionalismo do pai, trouxe ao mundo a neta, Helena Xavier Franklin Ortiz. Era apaixonado pela neta, uma das alegrias da sua vida.
Após divorciar-se, depois de 24 anos de casado, viveu em União Estável até o seu falecimento, com Rita Eliane da Luz Cordova. A sua humildade e caridade eram características da sua personalidade. Sempre estendeu o auxílio a todos os que o procuraram. Ao longo dos anos, conseguiu muitos amigos, deixando sempre uma marca positiva por onde passou, sendo lembrado com carinho por todos. Era filiado ao Clube de Serviços Rotary de Curitibanos. Participava das reuniões e atividades.
Doutor Jorge tinha um apreço especial pelo tradicionalismo, em especial pelos cavalos. Talvez, como um meio de lembrar da cultura sulista brasileira. Ele também era um churrasqueiro. Gostava de preparar churrascos para os amigos. No seu carro, era comum encontrar, no porta-malas, os apetrechos para um bom churrasco, desde espetos, facas e tábuas para corte de carne. Às vezes, até panelas para cozinhar, levava, principalmente, quando viajava. Quando ia à casa do sogro, em Bom Jesus, levava desde bata-doce, até o charque para fazer um bom almoço em família. Quando ia a Balneário Camboriú, onde o seu filho residia, sempre arrumava um lugar apropriado para reunir a família, oferecendo a todos, um delicioso churrasco. Foi dessa forma que encontrou vários amigos que se reuniam semanalmente para uma boa conversa, para beber e degustar de um bom churrasco. Esse grupo ficou conhecido inicialmente com o nome de “Galpão Marca de Casco”.
Jorge tinha alguns cavalos da raça Campeiro, aos quais despendia amor e dedicação. Ele não os vendia, cuidava desses animais até a morte. Com outros criadores de cavalos, para deixarem os animais, utilizavam um velho galpão, no terreno da família Costa, próximo ao Parque de Exposições Pouso do Tropeiro. Tinha uma família que morava no local, encarregada de tratar e cuidar. Seu filho, Luiz Fernando Xavier Franklin, desde os 2 anos acompanhava o pai nas cavalgadas. Hoje, após vários anos, já adulto, relembra de forma nostálgica de uma desses tempos:
É impossível pensar no meu pai e as lembranças não serem associadas a medicina, aos cavalos, cavalgadas, acampamentos e o tradicionalismo gaúcho. Depois do trabalho, sempre que possível, gostava de se reunir com os amigos aonde rolavam as conversas, trovas e planejamentos para as próximas cavalgadas, de preferência acompanhados de uma boa comida campeira, um mate e uma cachaça bem curtida. Nas horas vagas adorava arrumar os equipamentos para as próximas empreitadas, eram caixas de lonas, caixas de cordas, caixas de fios e lâmpadas, caixas e caixas… e assim era conhecido pela sua organização e estar sempre munido de apetrechos nos eventos. “Se alguém precisar de alguma coisa: peça pro Jorge!”. Apesar de muito organizado, às vezes meu pai tinha as suas teimosias. Certa vez estávamos em uma cavalgada em Lages, eu tinha na faixa dos 9 anos de idade, então ele vivia na função de cuidar de mim e arrumar a minha montaria. No meio da cavalgada eu disse para ele: “Pai, acho que minha encilha está frouxa” e ele me responde “Não, estou vendo daqui, tá boa!”. Mais uns quilômetros andados: “Pai, minha encilha tá frouxa!” e ele “Não, não, pode continuar que tá boa!”, quando faltavam uns 500 metros pra chegar na fazenda aonde seria a parada pra almoço eu falo “Pai, minha encilha tá bem frouxa” e ele insiste “Não, tá tranquilo, já estamos chegando!”, passados uns 30 segundos eu falo “Pai, tô caindo!” E fui caindo lentamente daquele jeito agarrado na encilha que ia escorregando vagarosamente pra barriga da égua, que por sinal, era muito mansa. Foi um tombo em câmera lenta, mas meu pai se preocupou, porém, como sempre tudo virou piada e rimos muitas vezes dessa história.
Jorge sempre gostou dos cavalos. Havia pegado apreço aos animais muitos anos antes de Curitibanos, principalmente, quando viajava para Bom Jesus, na casa do sogro. Eles tinham um sítio com vários animais. A história envolvendo Jorge e os cavalos em Curitibanos deu-se da seguinte forma: uma irmã de Jorge ganhou um cavalo e não sabia lidar com o animal. Jorge assumiu os cuidados do cavalo da irmã, arrumando o já citado galpão localizado no terreno da família Costa para a estadia. Surgiu uma amizade duradoura entre o doutor Jorge e um dos proprietários do terreno de nome Dirceu Costa. Dirceu e Jorge foram companheiros de cavalgadas por longos e duradouros anos.
Na política curitibanense, Doutor Jorge também deu a sua contribuição, sendo um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira — PSDB. Numa ocasião, no ano de 1992, lançou-se como candidato pelo partido a uma vaga na Câmara Municipal, não eleito, mas obteve 351 votos. O seu número era 45678. Naquele pleito, que tinha 76 candidatos, ficou em 23.º entre os votados.
Voltando aos tempos de campeirismo, Doutor Jorge participou de várias cavalgadas na história da Semana Farroupilha de Curitibanos. A primeira delas, na gestão do então prefeito Ulysses Gaboardi Filho, teve a adesão de 16 cavaleiros. Número que cresceu gradativamente, ano após ano.
Jorge Luiz Moraes Franklin faleceu no dia 12 de janeiro de 2021, num dos leitos do Hospital Santa Izabel da cidade de Blumenau/SC, tendo como causa da morte, complicações hepáticas. Seu corpo foi cremado no “Crematório Memorial Parque das Araucárias de Curitibanos”. Dr. Jorge deixou saudades na região de Curitibanos. No dia 13 de janeiro, um dia após o falecimento, o prefeito da cidade de Ponte Alta do Norte, Ari Wolinger, prestou homenagens ao médico que tanto auxiliou na área da saúde daquele município. As prefeituras das cidades da região, emitiram Notas de Pesar aos familiares.
No ano de 2023, numa reunião realizada no início do ano entre os tradicionalistas Curitibanos, foi levantada a hipótese de nominar a cavalgada deste ano, com o nome de “Cavalgada Farroupilha Jorge Luiz Moraes Franklin”, nas atividades da Semana Farroupilha do município. A comissão presente, em comum acordo, assentiu positivamente, pois segundo os mesmos, era mais do que justa a homenagem a um homem que muito lutou pelo tradicionalismo curitibanense.
No dia 21 de agosto, foi apresentada, pelo vereador Bill Popinhak ao plenário da Câmara Municipal de Vereadores, a Moção de Congratulações n.º 29/2023, reconhecendo o empenho dos envolvidos na organização das atividades da Semana Farroupilha de Curitibanos (edição de 2023), bem como, da Cavalgada Farroupilha Jorge Luiz Moraes Franklin. A mesma foi aprovada por unanimidade. Uma bela homenagem a este homem que muito realizou por Curitibanos e região.
Referências para o texto:
42.ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos.
Certidão de Óbito. Cartório de Registro Civil, Títulos e documentos e Pessoas Jurídicas de Curitibanos.
Com informações de Aldair Goetten de Moraes
Com informações de Íris Xavier
Com informações de Laura Xavier Franklin
Com informações de Luiz Fernando Xavier Franklin
Curitibanos — Moção de Congratulações n.º 29/2023 da Câmara Municipal de Vereadores.
Fotografia. Acervo da família.
Luto na Medicina. Jornal A Semana. Curitibanos, SC, 15 de janeiro de 2021. Ed. n.º 1932, p. 3
TRE-SC. Resultado das eleições curitibanenses de 1992. On-line, disponível em: https://apps.tre-sc.jus.br/site/fileadmin/arquivos/eleicoes/histeleiweb/1992/RFM1992180934.htm
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