Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Alzerino Waldomiro de Almeida era legalmente, de forma registrada em cartório, o único filho do Tenente-coronel Henrique Paes de Almeida (Filho), uma vez que havia e ainda há, comentários de que o antigo superintendente de Curitibanos tinha mais filhos ou filhas fora do seu casamento. Dessa forma, Alzerino acabou herdando inteiramente os bens do pai, por ocasião da sua trágica morte. O nome da sua mãe era Virgínia Rodrigues de Almeida. Ele nasceu no dia 3 de agosto de 1904, em Curitibanos. Anos depois, ainda na juventude, no dia 7 de setembro de 1922, data especialmente escolhida, pois fazia exatamente 100 anos da proclamação da independência do Brasil, casou-se com a jovem Amélia Alves Sampaio, da mesma idade, ou seja, ambos com 18 anos. Formaram um jovem casal, com ideais, sonhos e planos para um futuro incerto, num Brasil cheio de problemas políticos e sociais. Do casamento, nasceram 4 filhas, às quais receberam os seguintes nomes: Analy, Norma, Normaly e Normalita.
O assassinato do pai de Alzerino, deu-se da seguinte maneira. O Tenente-coronel da Guarda Nacional era uma pessoa que sempre andava com outros homens, empregados, que agiam como sua segurança pessoal e particular. Ele mesmo requisitava esses homens, após certificar-se de que eram homens bons de tiro e de briga, a maioria, encrenqueiros e alguns até foragidos da justiça de outros centros. Certo dia, no final do mês de maio de 1932, ele vendeu 200 bois a dinheiro. Isso era e é uma quantia considerável, mesmo para os padrões atuais. Havia em Curitibanos um homem que fora secretário da Superintendência Municipal nas gestões de Francisco Ferreira de Albuquerque e Marcos Gonçalves de Farias, de nome Ceslau Silveira de Souza. Como não havia agências bancárias em Curitibanos, esse senhor Ceslau era o correspondente do Banco do Brasil da agência de Lages. Periodicamente, ele ia a Lages e levava consigo, dinheiro em espécie para depósito dos curitibanenses que lá tinham conta bancária e trazia valores que eram os saques bancários solicitados por aqueles que moravam em Curitibanos. Era comum ele fazer esse serviço semanalmente. No dia 28 de maio de 1932, apareceu em seu estabelecimento comercial o Tenente-coronel e ex-superintendente de Curitibanos Henrique Paes de Almeida (Filho), com uma bolsa cheia de dinheiro:
— Ceslau! Você poderia levar esse dinheiro e depositar para mim, na minha conta, em Lages? — Disse-lhe Henrique.
— Certamente! Vamos contar o dinheiro para ver quanto que tem aqui.
— Não precisa! Homem igual a você é de minha inteira confiança.
— Coronel, vamos contar para eu lhe dar o recibo. — Insistiu Ceslau.
A família do ex-superintendente sabia da venda dos bois e sabia que naquele dia ele estaria portando o dinheiro da venda, talvez não sabiam que ele dispensara seus homens de segurança. O curioso foi que, justamente naquele dia, Henrique estava sozinho, havia dispensado a sua guarda pessoal e particular. Deu folga para os protetores. O que a família não sabia é que Henrique havia depositado o dinheiro com Ceslau, o correspondente do Banco do Brasil. Pensaram que ele levaria o dinheiro para a sua fazenda, no Guarda-mor. Após dispensar o recibo e não deixar Ceslau contar as cédulas na sua frente, aparentou pressa, despediu-se e partiu para a sua fazenda no interior de Curitibanos. Antes de alcançar a região conhecida como Fazenda do Butiá, ainda próximo ao centro urbano, foi alvejado numa tocaia e tombou morto. Ele sempre levava dois cachorros para protegê-lo e dar algum tipo de alarme. A sua morte, legalmente, é um mistério até os dias atuais, pois nunca foi descoberto quem cometeu tal crime. Há quem diga que foi vingança familiar, por questões de herança e política, mas ninguém nunca conseguiu provar na justiça essa hipótese.
Henrique Paes de Almeida (Filho) tinha um belo relógio de valor, quem o assassinou, não lhe roubou nada, nem mesmo esse relógio. No dia do enterro, após muitas conversas e especulações, seu filho Alzerino Waldomiro de Almeida confidenciou a todos:
— Não sabemos quem matou o pai, mas sabemos que o assassino levou o dinheiro da venda de 200 bois, mas o relógio de valor, ele não quis levar.
Ainda no cemitério, Ceslau chamou Alzerino num canto e de forma particular, disse-lhe:
— Zilico, você pode passar depois lá em casa? Quero conversar com você.
Depois do enterro, Alzerino, que tinha o apelido de Zilico Almeida, foi ter com Ceslau. Para surpresa dele, ficou sabendo do depósito feito antes do assassinato e da forma como tudo se procedeu, na ocasião da visita do seu pai. Dessa forma, Ceslau Silveira de Souza era mesmo considerado um homem de confiança, de alta estima e honestidade que viveu em Curitibanos.
Assim, Zilico Almeida herdou, além do dinheiro da venda dos bois, os demais bens do pai, se tornando um dos grandes fazendeiros da região de Curitibanos. Ele também se envolveu na política local, tal qual seu pai e seu avô, entretanto, nunca chegou a ter o cargo de superintendente e nem de prefeito de Curitibanos. Foi vereador por duas gestões ou mandatos, assumiu pela primeira vez em 3 de dezembro de 1947, às 10 horas da manhã, na Sala de Audiência do Juiz de Direito da Comarca de Curitibanos, na presença de autoridades civis e religiosas. Quando foi declarada aberta a Sessão Especial de instalação da Câmara de Vereadores do Município de Curitibanos, Alzerino foi empossado para exercer o mandato de vereador até o dia 3 de fevereiro de 1951. Depois, em 6 de fevereiro de 1951, na Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos, foi eleito para o quadriênio de 1951 a 1955. Nessa ocasião, foi o Presidente da Câmara de Vereadores.
No dia 3 de outubro de 1950 houve eleições gerais, por Curitibanos, elegeu-se Deputado Estadual, o senhor Walter Tenório Cavalcanti, com 2.361 votos pelo partido PSD, como suplente, ficou Alzerino Waldomiro de Almeida com 2.024 votos pela UDN. Após brigas internas dentro do Diretório da União Democrática Nacional — UDN em Curitibanos, em 1955, Alzerino apoiou o candidato a governador que não se elegeu, Francisco Gallotti do PSD. Naquele ano, elegeu-se governador por Santa Catarina, o senhor Jorge Lacerda, do PRP. Nessa gestão, Curitibanos não teve representantes na Assembleia Legislativa. A decisão de apoio, deu-se devido a conflitos deflagrados em 1953. Aparentemente, Zilico era um homem de grande prestígio dentro do partido UDN, além de ser vereador por dois mandatos, era o presidente da Câmara de Curitibanos. Em 1950 tinha quase se elegido, ficando como suplente por poucos votos. Segundo nota no Jornal O Estado de Florianópolis, tudo se deu devido a um complô que ele descobriu, alegando que membros do Diretório local o estavam isolando para eliminá-lo e enfraquecê-lo politicamente em Curitibanos. Nessa ocasião, ele foi até Florianópolis buscar apoio do Governador e das autoridades devido ao extremismo que ocorreu em Curitibanos. Foi aberto, segundo o jornal, rigoroso inquérito policial. Segue a nota na íntegra:
Quando este se procedia na Delegacia de Polícia, certo dia, entrou precipitadamente o senhor Wilmar Ortigari, secretário do Diretório da UDN, o qual, de revólver em punho, procurou atirar sobre o senhor Zilico, sendo impedido nos seus propósitos, pelos presentes. Em altos brados, o senhor Ortigari insultou asperamente seu desafeto, sendo desarmado pela autoridade policial, que a isso se limitou, com pasmo de todos, deixando de ser feito o auto de flagrante delito, muito embora o atentado represente crime de ação pública. O fato teve enorme repercussão em Curitibanos, onde a vítima e o agressor politicamente têm situação diversa: o senhor Zilico é pessoa por todos estimada, inclusive pelos adversários, enquanto o senhor Ortigari, no intuito de se fazer chefe, tem cometido violências injustificáveis, que se refletem negativamente na opinião pública, trazendo prejuízos para o partido (O Estado, 9/set/1953, p. 8).
Com isso, após encerrar o seu mandato como vereador em 1955, Zilico deixou a política um pouco mais em segundo plano. Cabe aqui ressaltar que ele foi, além de fazendeiro, político, também o primeiro maçom de Curitibanos, sendo iniciado na Loja Maçônica Luiz Balster de Caçador, juntamente com outros irmãos, fundaram em 16 de outubro de 1951, em Curitibanos, a Loja Maçônica Estrela do Planalto. Erroneamente, em publicações posteriores à sua morte, pesquisadores o associaram às autoridades da época da Guerra do Contestado, sendo que ele ainda era uma criança, com 8 anos.
Mais sobre a sua trajetória de vida em Curitibanos: em 8 de fevereiro de 1929, foi nomeado pelo Governador Adolpho Konder, primeiro suplente do Juiz de Direito da Comarca de Curitibanos. Além das suas ocupações na pecuária, Zilico possuía espírito humanitário e filantrópico, foi também um destacado membro do Rotary Club de Curitibanos, onde a sua atuação e apoio foi sempre em favor dos humildes e desprovidos de recursos, aos quais, muitas vezes socorreu com seus sábios conselhos e a sua bolsa.
Ele e a sua esposa, Amélia Alves de Sampaio, construíram uma casa, que existe até os dias atuais, localizada na Avenida Coronel Vidal Ramos, em frente de onde está a agência do Bradesco. No dia 24 de agosto de 1954, data da morte do presidente Getúlio Vargas, ele plantou dois ciprestes, que, passados quase 70 anos, estão imponentes, como duas colunas que se elevam ao céu. No dia 23 de janeiro de 1956, na sua casa, por volta do meio-dia, faleceu com 51 anos, de um infarto fulminante no miocárdio. Seu corpo foi sepultado no cemitério público de Curitibanos, na ocasião do sepultamento, inúmeros foram os votos de pesar endereçados à sua família, a população de Curitibanos compareceu quase que maciçamente no pequeno cemitério. Na beira de seu túmulo, foram muitos os que usaram da palavra, com eloquentes discursos, mostrando verbosidades articuladas, enquanto muitos choravam de emoção.
Após o seu falecimento, dona Amélia mudou-se para Curitiba, vendendo a casa para o senhor Fioravante Morais, que conservou os altivos ciprestes. Por ocasião da desapropriação de uma grande área de terras para a instalação do Núcleo Tritícola, dona Amélia, de forma amigável, acertou com o governo a transferência da área desapropriada, cedendo o local para os fins experimentais do Estado. Fizeram o ato de desapropriação, por força da Lei, contudo, foi-lhe pago o valor justo pela área. Ao mudar-se para Curitiba, vendeu todos os bens que possuía em Curitibanos.
O prefeito Bruno José Hartmann denominou uma rua de Curitibanos com o nome de Rua Alzerino Waldomiro de Almeida, através da Lei Ordinária Municipal n.º 399/1959. Uma forma de homenagear um dos construtores de Curitibanos.
Referências para o Texto:
Com informações de Aldair Goetten de Moraes;
Com informações de Nelson Moraes;
Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 399/1959, denomina rua.
POPINHAKI, Antonio Carlos. Henrique Paes de Almeida Filho. Blog curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2021/03/henrique-paes-de-almeida-filho.html
POPINHAKI, Antonio Carlos. Ceslau Silveira de Souza. Blog curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2021/08/ceslau-silveira-de-souza.html
Lista de governadores de Santa Catarina. On line: Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_governadores_de_Santa_Catarina
Lista de prefeitos de Curitibanos. On line: Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_prefeitos_de_Curitibanos
Registro de casamento de Alzerino Waldomiro de Almeida e Amélia Alves de Sampaio. Cartório de Registro Civil de Curitibanos.
O que é que está havendo em Curitibanos? Jornal O Estado de Florianópolis, 1915-1973. Ano 1953, ed. 11701, p. 8
Registro de óbito de Alzerino Waldomiro de Almeida. Cartório de Registro Civil de Curitibanos.
Informações contidas nos monumentos da Praça França Felipe Abrahão.
Escritos biográficos. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. 7 de maio de 1.973.
Fotografia da Carteira de Identidade, disponibilizada na internet, no portal FamilySearch.
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