Texto de Antonio Carlos Popinhaki
A seguir veremos uma breve biografia de um dos mais importantes filhos de Curitibanos, mas que, infelizmente, não ficou conhecido popularmente em nossa terra. Trata-se de Illydio Rômulo Colônia, um homem que chegou ao posto máximo dentro das fileiras do exército brasileiro, galgando na sua reserva remunerada o posto de Marechal. Também foi, por curtos períodos, Embaixador do Brasil na França e no Peru, prestando honrosos serviços ao Brasil.
Nascido em Curitibanos, às 16 horas, na casa da residência dos pais, o Juiz Municipal e de Direito, Dr. Braúlio Rômulo Colônia, no dia 16 de junho de 1897, certamente trouxe alegria àquela casa, naqueles idos tempos, onde o local tinha aspecto de um vilarejo, apesar de ser legalmente reconhecido como município instalado com Comarca. O nome da sua mãe era Ana Altina Colônia, Illydio era o segundo filho do casal, uma vez que em 1894, nascera um irmão mais velho, de nome Octaviano Rômulo Colônia. Ana era a terceira esposa de Bráulio, isso, pela razão de que o juiz ficou viúvo duas vezes. Com as primeiras esposas, o Dr. Braulio teve onze filhos, dessa forma, Illydio tinha onze meio irmãos e irmãs, mas somente um irmão de pai e mãe.
Os pais, preocupados com a educação formal e secular do jovem menino, o encaminharam para a capital da República, com a finalidade de estudar e garantir uma carreira de estabilidade. Na página 5 da edição n.º 11.498 do Jornal “O Paiz”, de 31 de março de 1916, encontramos que naqueles dias, Illydio estava na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro e que iria prestar exames na disciplina de História Universal e do Brasil. Formou-se Aspirante a Oficial na Turma de 1919.
Illydio esteve entre os primeiros instrutores de Oficiais que receberam tratamento diferenciado no novo modelo implantado, na época, para a formação militar. O escritor Jehovah Motta, no seu livro “Formação do Oficial do Exército: currículos e regimes na Academia Militar, 1810-1944”, na página 218, escreveu que a história do exército brasileiro, na República, divide-se em dois períodos distintos e separados: antes da primeira guerra mundial (1914-1918), e depois dessa, com as reformas substanciais na sua estrutura de formação”.
No ano de 1922, houve um movimento rebelde praticado pelos Tenentes da Escola Militar do Realengo. Os Oficiais revoltosos tinham como objetivo impedir a posse do Presidente da República eleito, Arthur Bernardes. No dia 5 de julho de 1922, se prepararam para o confronto militar, com a intenção de não permitir a posse, a Escola Militar do Realengo, o Forte de Copacabana, a Guarnição de Niterói e a Guarnição de Campo Grande, no Mato Grosso. Esse movimento rebelde ficou conhecido nos anais da história do Brasil como “Movimento Tenentista”.
Rodrigues, no seu artigo “O tenentismo na Escola Militar do Realengo, página 45, relatou que “apesar de tudo isso, Arthur Bernardes tomou posse em 15 de novembro de 1922, pouco mais de dois meses após as grandes festas em comemoração ao centenário da independência do Brasil”. Entre os Tenentes rebeldes, estava o Segundo-Tenente Illydio Rômulo Colônia, que, apesar de preso temporariamente por ordem do Presidente da República, juntamente com vários Oficiais, inclusive o ex-presidente da República, Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, foi logo posto em liberdade, com os demais colegas de farda. Entretanto, de acordo com o historiador Fernando Rodrigues, na sua obra “Indesejáveis”, página 105, não escapou de ser processado. Apesar disso, entrou para os anais da história do Brasil. Dentro das fileiras do Exército, cresceu e progrediu, desempenhando diversas funções de responsabilidade.
No ano de 1924, já promovido, o Primeiro-Tenente Illydio Rômulo Colônia foi um dos novos instrutores de Infantaria da Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, tendo a responsabilidade de auxiliar na preparação dos novos cadetes que se tornaram, a partir daquele ano, os Oficiais do Exército Brasileiro. O processo pela rebeldia do movimento tenentista perdurou por alguns anos, saindo-se absolvido pelo Supremo Tribunal Federal, em 1926.
Em 1930, serviu como Primeiro-Tenente no 14º Batalhão de Caçadores de Florianópolis. O seu meio-irmão Archias Rômulo Colônia também estava nessa unidade militar e tinha o posto de Capitão, comandante da 2ª Companhia, sem efetivo. Em 20 de agosto de 1932, de acordo com uma nota no Jornal dos Sports, há referência de que Illydio Rômulo Colônia era Capitão e ocupava o cargo de Diretor Técnico do Centro Militar de Educação Física do Exército. O quadro de instrutores no ano de 1932, foi denominado de “Os grandes colaboradores da feitura da raça”.
No ano de 1934, já tinha sido promovido ao posto de Tenente-Coronel e estava servindo no 11.º B. C. De acordo com uma nota no Jornal O Paiz de 6 de março de 1934, tinha regressado de férias em Santa Catarina e se apresentado no Departamento da Guerra. Não temos nenhuma notícia que Illydio Rômulo Colônia tenha voltado a Curitibanos, mesmo para visitar seus parentes. O seu irmão Octaviano mudou-se para a região de Florianópolis, onde até os dias atuais encontramos descendentes.
Illydio era casado com Maria Olívia da Silva, que era filha da senhora Alzira Bastos da Silva, natural da cidade de Salvador, Bahia. No dia 8 de novembro de 1939, a senhora Alzira faleceu, seus familiares colocaram uma nota no jornal Correio Paulistano, informando aos leitores, a respeito dos filhos e filhas. Na nota, há informação que neste ano, Illydio e Maria Olívia moravam na cidade gaúcha de São Leopoldo.
No ano de de 1941, na Arma de Infantaria, foi promovido, por merecimento, a Coronel, galgando dessa forma, novas responsabilidades. No mesmo ano foi Adido Militar, junto à Legação Militar no Equador. Foi um diplomata brasileiro naquele país. Morou, por algum tempo, na capital, Quito, na Avenida 12 de octubre. Em 1944, serviu no 8.º Regimento de Infantaria, na cidade de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul.
Apesar de viajar por vários lugares, Illydio também foi, por vários anos, o administrador da Revista de Educação Física do Exército Brasileiro. Revista fundada em maio de 1932 com o objetivo de padronizar as atividades de educação física do exército e do Departamento de Desportos do Exército.
Na madrugada de 8 de outubro do ano de 1950, Illydio, sua esposa e uma filha estavam à bordo do Navio Presidente Perón, com destino a Paris, na França, onde o nosso militar cumpriria uma missão a ele designada. O navio, que era argentino, saiu de Buenos Aires e fez escala no Rio de Janeiro, onde zarpou às 21:35 com destino ao porto de Liverpool, depois de algumas horas no mar, por um erro de manobra, chocou-se com as rochas existentes próximo à Ilha do Pai, ainda no Rio de Janeiro. O pânico foi generalizado, um incêndio começou a bordo, conseguindo, o comandante retornar à Guanabara às 02:10 da madrugada. Várias embarcações vieram ao encontro do navio para socorrer as vítimas. Passageiros foram transferidos rapidamente. Illydio Rômulo Colônia, conseguiu entrar numa lancha com sua esposa e filha. Ele relatou aos repórteres que houve um tremendo estrondo no momento em que o navio chocou-se com as rochas. De acordo com suas palavras registradas no Jornal Diário da Noite, “Pode-se dizer, que houve um inexplicável erro de manobra, que poderia nos ter custado a vida. O comandante atribuiu tudo ao mau funcionamento do radar, mas eu e todos os passageiros entendemos que foi um erro de rota”.
De 3 de fevereiro de 1955 a 13 de julho de 1955, foi Secretário Geral, da Secretaria Geral do Exército, com a patente de General de Brigada. Também foi presidente da Comissão do Fardamento do Exército Brasileiro. Fez, em 9 de fevereiro daquele ano, uma importante reunião na sede da Secretaria Geral do Ministério da Guerra, para tratar de assuntos relacionados à adoção de novos uniformes para serem instituídos nos asilos, para uso dos inválidos da pátria, na ocasião, foi aprovada por unanimidade a escolha dos uniformes. Em outubro daquele mesmo ano, integrou o Alto Comando do Exército, subordinado diretamente ao Presidente da República, como 2.º Subchefe do Estado Maior do Exército. A partir deste ano, esteve entre os principais generais do exército brasileiro, no topo da hierarquia militar.
No ano de 1956, foi homenageado no Jockey Club Brasileiro, pelo Ministro da Guerra, o General de Exército Teixeira Lott. No ano seguinte, esteve servindo na Academia Militar das Agulhas Negras — AMAN, em Resende, Rio de Janeiro. No ano de 1958, esteve entre os intelectuais no Concurso Literário, numa Sessão realizada no Auditório do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Na ocasião, estavam presentes cerca de 500 poetas e escritores de todo o país. O General Illydio Rômulo Colônia foi reconhecido como um intelectual e uma personalidade presente naquele evento.
No ano de 1962 festejou juntamente com seus companheiros Oficiais, a passagem dos 43 anos de formatura da Turma de Aspirantes a Oficial, Turma formada em 30 de dezembro de 1919. Uma nota encontrada no Jornal “A Noite”, informa que havia, na ocasião, apenas 11 Oficiais Generais servindo na ativa. 51 haviam falecido. Naquele mesmo ano, Illydio foi promovido ao posto máximo dentro das fileiras do Exército Brasileiro, o de Marechal e foi transferido para a Reserva Remunerada.
No ano de 1969, sob o regime militar, encontramos o Presidente da República, Arthur da Costa e Silva, convalescendo-se de uma enfermidade. O Marechal Illydio Rômulo Colônia enviou-lhe uma mensagem de desejos de pronto restabelecimento. O ilustre curitibanense faleceu no dia 16 de agosto do ano de 1971, com invejáveis 74 anos bem vividos. A causa da sua morte foi infarto do miocárdio. Seu corpo foi sepultado no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Entre várias notas do seu falecimento, uma chama a atenção, informando que por breve momento, foi duas vezes embaixador no exterior, uma na França e outra no Peru, prestando relevantes serviços ao Brasil.
Restou aos gestores de Curitibanos uma última homenagem ao filho da terra. No dia 15 de agosto de 1975, o então prefeito Onofre Santo Agostini, através da Lei Ordinária Municipal n.º 1171/1975, denominou uma via pública com o nome de “General Illydio Rômulo Colônia, próxima ao Conjunto Habitacional Cruzeiro do Sul, hoje denominado de COHAB I.
Referências para o texto:
A Administração do Centro. Jornal dos Sports. Ano II, n.º 444. rio de Janeiro, sábado, 20 de agosto de 1932, p. 4.
Apresentação de Officiaes. Jornal “O Paiz”. Ano XLVIII, n.º 16.916. Rio de Janeiro, terça-feira, 6 de março de 1934, p. 5.
Assuntos do Ministério da Guerra. Jornal Correio da Manhã, Rio de Janeiro, quinta-feira, 10 de fevereiro de 1955, ano LIV, n.º 18981, p. 2, 2.º caderno.
Berto, Rosianny Campos, 1981- B545r Regenerar, civilizar, modernizar e nacionalizar : a educação física e a infância em revista nas décadas de 1930 e 1940 / Rosianny Campos Berto. – 2008. 182 f. : il.
Brasil — Decreto n.º 16.394/1924, de 27 de fevereiro de 1924, aprova o regulamento para a Escola Militar.
Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 1171/1975, denomina via pública.
Decretos na Pasta da Guerra. Gazeta de Notícias. Ano 70 — n.º 159 — Rio de Janeiro, sábado, 8 de julho de 1944, o. 4.
Echos da Sedição de Julho.Jornal A União. Ano XIII, n.º 96. Rio de Janeiro, domingo, 3 de dezembro de 1922. — p. 2
FERREIRA NETO, Amarílio. Escola de Educação Física do Exército (1920-1945): Origem e Projeto Político-Pedagógico. In: FERREIRA NETO, Amarílio (org.). Pesquisa Histórica na educação física, vol. 3. Aracruz ES: Faculdade de Ciências Humanas de Aracruz, 1998. 69-95.
Foi tremendo o estrondo. Jornal “Diário da Noite”. Ano XXII, n.º 4.486. Rio de Janeiro, segunda-feira, 9 de outubro de 1950, p. 4.
Fotografia da Galeria de Secretários da Secretaria Geral do Exército.
Grande Prêmio “Duque de Caxias”. Revista Vida Doméstica, ano XXXVIII, n.º 463, outubro de 1956, p. 44.
LOUREIRO, Marcus Wagner Antunes. O Regulamento n.º 7 e o Método Francês de Ginástica: Um Projeto de Educação Física Nacional (1928-1934); dissertação apresentada no curso de mestrado da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Dourados/MS, 2019, p. 120.
Ministério das Relações Exteriores. Relatório — 1941. Relação dos Adidos Militares Brasileiros no Estrangeiro. Imprensa Nacional. Rio de Janeiro, p. 133.
Promoções no Exército, Decretos assinados pelo Chefe da Nação. Jornal “O Imparcial”, ano VII, n.º 2.021, Rio de Janeiro, sábado, 27 de dezembro de 1941, p. 5.
Registro de nascimento de Illydio Rômulo Colônia. Portal FamilySearch. On-line, disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X3XQ-VFN?i=159
Registro de óbito de Illydio Rômulo Colônia. Portal FamilySearch. On-line, disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HT-6L63-TDX?i=148&cc=1582573&personaUrl=%2Fark%3A%2F61903%2F1%3A1%3A7M1Q-Y26Z
Revista de Educação Física. Ano XVII, n.º 62. 1949, p. 1.
Secretaria Geral do Exército. Galeria de Secretários. On-line, disponível em: http://www.sgex.eb.mil.br/index.php/galeria-de-secretarios.
Pelas Escolas. Jornal “O Paiz”, ano XXXII, n.º 11.498. Rio de Janeiro, sexta-feira, 31 de março de 1916, p. 5.
MOTTA, Jehovah. Formação do oficial do Exército: currículos e regimes na Academia Militar, 1810-1944. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 2001.
RODRIGUES, Fernando. Indesejáveis: instituição, pensamento político e formação profissional dos oficiais do Exército Brasileiro (1905-1946). Jundiaí: Paco, 2010.
RODRIGUES, Fernando Silva. O tenentismo na Escola Militar de Realengo. Revista da Escola Superior de Guerra, vol. 37, n.º 80, p. 40-50, maio-agosto de 1922.
ROESLER, Rafael — A missão indígena e sua atuação na Escola Militar do Realengo (1919-1922). XXVIII Simpósio Nacional de História — 27 a 31 de julho de 2015. Florianópolis. p. 6.
ROESLER, Rafael. O impulso renovador: a atuação da Missão indígena na Escola Militar do Realengo (1919-1922). Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: CPDOC/ FGV, 2015.
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