segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Valdir Ângelo Tagliari


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Valdir Ângelo Tagliari foi um dos poucos homens que eu conheci, o qual posso afirmar com segurança: “nunca ouvi ou vi nada que pudesse desabonar a sua conduta, ou o seu caráter e personalidade”. Uma pessoa querida por todos, de elevado grau de estima entre os curitibanenses. Nasceu em 11 de julho de 1945, na cidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Foi o terceiro filho de Luiz e Amábile Tagliari. Seu pai, o senhor Luiz Tagliari, lhe ensinou a fazer um pouco de tudo. A família era grande, composta de 9 irmãos. O pai, apesar de ter pouca instrução, desejava ardentemente que seus filhos, pelo menos, tivessem concluído o primário, que equivale ao “ensino fundamental” de hoje. Valdir dizia que a vida é feita de “repartir”, porque entre os seus irmãos aprenderam desde cedo a repartir as dificuldades que a vida lhes apresentava. A missa era sagrada para a família, todos tinham que ir à missa. Segundo suas próprias palavras, “roupa não tinha para todos irem à mesma missa. Então, uns dos irmãos iam à missa das sete, outros na missa das nove e os demais, na missa das 17 horas, usando todos a mesma roupa”. Numa ocasião, Valdir e um dos irmãos não podiam deixar de estar presentes numa dessas missas. Qual foi a solução encontrada por eles por não terem dois pares de sapato? Valdir enfaixou o seu pé direito, jogou um pouco de mercúrio em cima da faixa, o seu irmão enfaixou o pé esquerdo, e fez o mesmo com o mercúrio. Os dois foram à missa, cada um com um pé calçado e o outro enfaixado. Eles realmente aprenderam o que era dividir. Essas experiências fortaleceram a família Tagliari.

Apesar das dificuldades, segundo ele próprio contava, o seu pai nunca deixou de dar-lhe ensinamentos preciosos como o carinho, o respeito e a educação. O seu primeiro emprego foi com 9 anos, numa ferraria, onde aprendeu a fazer ferradura de cavalo e roda de carroça. Valdir cresceu, a vida o moldou para o bem. Com 18 anos, no ano de 1963, alistou-se e foi convocado para servir o exército na cidade de Alegrete/RS no ano seguinte, em 1964, o ano do início do regime militar no Brasil. Valdir sempre falava com eloquência e propriedade sobre esses acontecimentos ocorridos naquele ano de 1964, inclusive sobre as suas convicções sobre o “chamado golpe de 31 de março”.

O tempo passou, o senhor Luiz e a família vieram morar em Curitibanos, onde o provedor do lar trabalhou como empregado no antigo “Frigorífico Brofil”, da família Brocardo. Valdir continuou morando no Rio Grande do Sul, onde trabalhava como “Representante Comercial”. Casou-se em 10 de fevereiro de 1968 com Carmem Bonaldo. Numa das visitas que fez à família no ano de 1976, numa conversa com o seu irmão Sérgio, ficou sabendo que uma Faculdade de ensino superior, a Fundação Educacional do Planalto Central Catarinense — FEPLAC estaria iniciando as suas atividades em Curitibanos. Valdir mudou-se para Curitibanos devido ao seu sonho de poder cursar uma instituição de ensino superior. Em Curitibanos, Valdir foi trabalhar como bancário. Mais uma vez, as dificuldades foram grandes, superadas somente pela determinação. Nessa época, o casal tinha dois filhos, tinha o estudo e o trabalho. Mesmo assim, conseguiu se formar como contabilista.

Depois, Valdir Ângelo Tagliari foi empreender na agricultura, tendo algumas boas safras e outras perdidas por intempéries da natureza. Quando tudo parecia perdido, apareceu certa vez, batendo à sua porta, o então candidato a prefeito Generino Fontana (in memoriam), o Dr. Marcos Farias e o vereador Ubirajara Antonio Mello. Eles foram convidá-lo para ser candidato a vereador no pleito do dia 1 de outubro do ano 2000. Dessa forma, entrou para a vida pública como o segundo vereador mais votado do PMDB. O seu número foi o 15 612 e obteve 773 votos. Sua campanha foi centralizada nas questões ambientais, principalmente no tocante aos destinos corretos para o lixo urbano. Valdir sempre mostrou maneiras da separação correta do lixo e da proteção ao meio ambiente. No seu mandato, foi eleito presidente da Câmara de Vereadores.

O prefeito Generino Fontana convidou-o para ajudá-lo a resolver o grande problema que Curitibanos e as cidades vizinhas estavam enfrentando, quanto aos depósitos de lixo “jogados ao ar livre”, sem ter um destino consciente e correto. Ao estudarem os problemas desses municípios, sob a orientação de Valdir Tagliari, os prefeitos das cidades próximas se reuniram e criaram o “Consórcio Intermunicipal do Contestado — COINCO”. O principal objetivo desse “consórcio” era a “mútua colaboração para a gestão de infraestrutura em geral e a busca das soluções para o desenvolvimento integrado e sustentável, através de investimentos públicos e privados”, ou seja, dar o devido destino ao lixo urbano, sem agressão do meio ambiente, principalmente do solo.

O aterro sanitário e o próprio “consórcio” serviram de modelo e referência para outras cidades do Brasil afora. Essa foi uma das grandes obras deixadas para a região pela capacidade e intelectualidade administrativa desse grande homem. Ele ministrou aulas e palestras de forma incansável, persuadindo a todos a mudarem culturalmente no sentido de separar e dar o devido destino para o lixo doméstico.

No dia 12 de novembro de 2018, através do Diário Oficial da Câmara de Vereadores, edição n.º 204, conforme o Decreto Legislativo n.º 5/2018 foi concedido a Valdir Ângelo Tagliari o título de “Cidadão Curitibanense”. Um prêmio muito justo em reconhecimento pelos longos anos de trabalhos à frente do COINCO, até ser chamado para uma nova missão. Abrindo uma vaga na Associação de Municípios da Região do Contestado — AMURC, Valdir foi convidado para a direção do órgão. Ele desempenhou de forma brilhante as suas atividades até a campanha eleitoral do ano de 2020, ocasião em que foi um dos coordenadores da campanha da coligação MDB/PSD “O progresso vai continuar”. Após assumir esse compromisso, mostrou-se mais uma vez, uma pessoa dedicada. Estava bem cedo na sede do “Comitê de Campanha”. As suas reuniões eram às oito da manhã, de curta duração. Ele dizia que o resto do dia era para os candidatos saírem pedir votos. Além das responsabilidades acima elencadas, exercia a vice-presidência do MDB e era o Coordenador Regional do partido.

Após algum tempo transcorrido, depois da alegria da vitória do candidato da coligação, à qual ajudou a coordenar, Valdir Tagliari escreveu uma pequena mensagem no grupo do MDB: “Penso que vou aumentar as estatísticas dos infectados”. Era COVID-19! Dessa forma, lutando sempre, Valdir Ângelo Tagliari nos deixou no dia 15 de fevereiro de 2021, com 75 anos. Coincidência ou não, o número do MDB é 15. Lutou bravamente. Deixou-nos o seu exemplo, que procuraremos seguir. O prefeito municipal, sr. Kleberson Luciano Lima, através do Decreto nº. 5.460/2021 de 15 de fevereiro de 2021, decretou luto oficial no município de Curitibanos por três dias.


Referências para o texto:


TRE-SC. Eleições 2000, em 1º/10/2000 - turno único. Resultado por Município. On line: Disponível em: http://ejesc.tre-sc.gov.br/site/fileadmin/arquivos/eleicoes/histeleiweb/2000/RFM2000180934.htm#Vereador

CURITIBANOS. Decreto nº. 5.460/2021 - Decreta Luto Oficial. 15 fev. 2021.

Curitibanos se despede do ex-vereador Valdir Tagliari, vítima da COVID-19. A Semana. On line: Disponível em: http://asemanacuritibanos.com.br/not%C3%ADcias/2.1200/curitibanos-se-despede-do-ex-vereador-valdir-tagliari-v%C3%ADtima-da-covid-19-1.2301807

CURITIBANOS. Câmara de Vereadores de Curitibanos. 1ª Sessão Solene. On line: Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CFd5qW2Jxkw

CURITIBANOS. Diário Oficial da Câmara de Curitibanos/SC EDIÇÃO Nº 204 de Segunda-Feira - 12 de Novembro de 2018 . On line: Disponível em: https://www.camaracuritibanos.sc.gov.br/assinatura/assinado/DOC-2018-11-12-204.pdf#page=1

http://www.coinco.sc.gov.br/

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