Helga Wilma Gröne

Texto de Antonio Carlos Popinhaki

Na noite do dia 13 de março de 2024, o então prefeito de Curitibanos, senhor Kleberson Luciano Lima, com a presença de várias autoridades do município, reinaugurou o Ginásio de Esportes que fica anexo ao Núcleo Municipal Leoniza Carvalho Agostini, na localidade de Marombas Bossardi. Foi uma daquelas solenidades nas quais os moradores da comunidade, pais de alunos e simpatizantes, compareceram para prestigiar. 

O Ginásio de Esportes foi disponibilizado, não só para os alunos do educandário, mas também, para o uso de toda a comunidade da localidade de Marombas Bossardi. Através da Lei Ordinária Municipal n.º 3627/2003, o então prefeito em exercício, no dia 17 de dezembro de 2003, denominou o Ginásio de Esportes construído na localidade de Marombas Bossardi de “Ginásio Helga Wilma Gröne”. Com o passar de mais de duas décadas, houve a necessidade de uma ampla reforma em geral. A iluminação foi substituída, bem como o piso e revestimentos internos. Conforme o texto lido na solenidade, foram feitas “reformas nas arquibancadas, que agora contam com guarda-corpos instalados. A cobertura dos banheiros e vestiários foi renovada, assim como todas as aberturas do espaço. O ginásio recebeu a instalação de novas redes de proteção com a  modernização completa dos banheiros e vestiários, bem como uma renovação na fachada externa”.

Ainda, na ocasião, estiveram presentes os parentes da senhora Helga Wilma Gröne, que tem o nome estampado na placa de inauguração, conforme a já citada Lei Ordinária de 2003. Também foi lido para os presentes um pouco da história da homenageada.

Achamos, através do Portal FamilySeach, o seu registro de nascimento, o qual transcrevemos a seguir:

N.º 384 — Livro de Registros de Nascimentos da Vila de Boa Vista do Erechim, Rio Grande do Sul

Nos vinte e cinco dias do mês de junho de mil novecentos e vinte e seis, nesta villa de Bôa Vista do Erechim, Estado do Rio Grande do Sul, neste cartório compareceu o senhor Augusto Gröne Filho, carpinteiro, e declarou que no dia 17 do corrente mês, às vinte e três horas, em casa de sua residência, nasceu uma criança de côr branca, do sexo feminino, à qual vai ser posto o nome de “Helga Wilma”, filha legítima delle, do declarante e de sua esposa, dona Leocádia Knapp Gröne, de profissão doméstica. Casados nesta villa, naturaes, elle da Alemanha e ella deste Estado, residentes à Rua Itália, nesta villa. São avós paternos: Augusto Gröne e Lina Gröne, e avós maternos: Felippe Knapp e Guilhermina Knapp. Do que lavro este termo que, lido e achado conforme, vae assignado pelo declarante e pellos, digo, declarante e pelas testemunhas abaixo. Eu, Isolina D. Guioto, ajudante do Official do Registro Civil, o escrevi. Eu, Estevam Guioto, Official do Registro Civil, o subscrevo e assigno.

A mãe de Helga, apesar de ter nascida na cidade de São Sebastião do Caí, Rio Grande do Sul, era neta de imigrantes alemães. O casal Augusto Gröne Filho e Leocádia Knapp tiveram duas filhas: Helga Wilma Gröne e Helena Cecília Gröne. 

Conforme o texto lido e apresentado pelo cerimonial da reinauguração do Ginásio de Esportes, Helga e sua família moravam no Rio Grande do Sul quando teve a oportunidade de estudar no “Colégio Evangélico de Marcelino Ramos até concluir o primeiro grau. Falava fluentemente a língua alemã. Cursou Técnico em Contabilidade e aprendeu muito cedo a profissão de corte e costura. Foi exímia costureira, trabalhando nesta profissão por muitos anos”. A arte da costura, ela aprendera com sua mãe, Leocádia era exímia costureira. Ela era tão requisitada que chegava a costurar para as alfaiatarias existentes nos lugares onde moraram.

É quase impossível falar da personalidade e do caráter de Helga Wilma Gröne, sem relembrar os fatos históricos da sua chegada em Curitibanos. O seu pai, Augusto Gröne Filho, um homem muito bem determinado, por volta de 1934/1935, vendeu a sua marcenaria, localizada na vila de Erechim e montou a sua primeira serraria no interior da cidade de Caçador, em Santa Catarina. Migrou para o estado vizinho, seguindo a tendência de vários outros amigos gaúchos, descendentes de italianos e alemães. Trouxe consigo a sua família para morar em Caçador, onde fixou residência.

Na época da Segunda Guerra Mundial, Augusto precisou vender os seus bens, pois os imigrantes alemães, italianos e japoneses, ficaram privados de possuir bens no Brasil. Foram tempos muito difíceis para esses imigrantes. Em Caçador, Augusto, graças à grande amizade que possuía com o delegado de Polícia local, o qual sempre encontrava algum serviço para ele fazer, não foi preso como alguns conhecidos seus. Nesse mesmo tempo, como tinha muitos conhecimentos na arte da construção, iniciou algumas montagens de maquinários para fábricas de Pasta Mecânica. A convite do gaúcho Napoleão Sbravatti, que residia em Curitibanos, estabeleceu-se na localidade Marombas, interior do município, para montar uma fábrica de Pasta Mecânica, da qual se tornou sócio após o término da montagem da mesma. A sociedade foi constituída em 1941 e era composta por diversos sócios. A razão social era Sbravatti, Bula, Granemann & Cia. Ltda. Com o passar dos anos, mudou a razão social para Marombas & Cia Ltda. Conforme os anos avançaram, houve novas alterações na Razão Social.

Após a morte do seu pai, Augusto, Helga assumiu, juntamente com a sua irmã Helena e o seu cunhado, Doromeu Bossardi a área administrativa da empresa familiar. Nesse sentido, foi uma mulher determinada e pioneira em Curitibanos no que diz respeito à administração feminina. Assim, assumiu com responsabilidades empresariais, que para a época não era tarefa comum para as mulheres. Com o passar dos anos, novos desafios surgiram. No ano de 1972, com o falecimento de seu cunhado, enfrentou o desafio de administrar a empresa sozinha, sem a presença de um representante do sexo masculino, juntamente com sua irmã Helena Cecília.

Dedicou toda a sua vida para o trabalho e as empresas da família, que prosperaram, assim como as comunidades vizinhas e em especial a localidade de Marombas. 

Lutou e interviu junto as autoridades governamentais da época, buscando melhor infraestrutura para a construção de estradas e pontes. A Marombas, como ela dizia, era a “menina dos olhos”. Todo o sacrifício era válido, sempre que fosse pelo Marombas.

Helga tinha orgulho da localidade de Marombas Bossardi, do lugar e da fábrica. Também, dos seus funcionários, os quais, na sua grande maioria, também eram seus grandes amigos. Helga foi uma mulher conhecida por sua garra e determinação. Contribuiu com exemplos de coragem e principalmente amor ao seu trabalho e à sua comunidade.

Não podemos esquecer de mencionar que ainda, em sua vida, atuou como professora de religião aos alunos que eram evangélicos na antiga escola Arcipreste Paiva, hoje chamado de Colégio Santa Terezinha. Gostava de cantar, fazia parte do coral da Igreja Luterana. 

Helga casou com Casemiro Dalberto Baldin. Não tiveram filhos, entretanto, adoravam os sobrinhos como se fossem seus próprios filhos. Na gestão do Prefeito Generino Fontana, nos anos de 1993 a 1996, numa Sessão Solene Especial, foi lhe conferido o Título de Cidadã Curitibanense. A Sessão contou com a presença do então Deputado por Curitibanos, Onofre Santo Agostini e foi muito emocionante. O então vereador Rubens Rosa, popularmente conhecido como “Rubão”, entregou para Helga, a placa confeccionada em metal, como forma de lembrança daquele feito.

No dia 31 de dezembro de 2002, com seus invejáveis 76 anos de vida, faleceu, deixando saudades. Helga vive em todos os corações daqueles que a conheceram e também, nos corações dos atletas e admiradores da história de vida e determinação da antiga administradora da empresa Marombas Bossardi.

Referências para o Texto:

Cerimonial da Inauguração do Ginásio de Esportes Helga Wilma Gröne.

Cerimonial da Reinauguração do Ginásio de Esportes Helga Wilma Gröne.

Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 3.627/2003.

Portal FamilySearch.

POPINHAKI, Antonio Carlos. Casemiro Dalbello Baldin. Blog curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2023/08/casemiro-dalbello-baldin.html

POPINHAKI, Antonio Carlos. Augusto Gröne. Blog curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2013/07/augustho-grone.html