quarta-feira, 8 de março de 2023

Theodoro França Pereira


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Theodoro França Pereira nasceu no dia 9 de novembro de 1888, em Curitibanos, Santa Catarina. Seus pais se chamavam Balduino Rodrigues França e Balbina França Pereira. Quando tinha 24 anos, no dia 28 de dezembro de 1912, casou-se com a jovem, também curitibanense, Rosa Maria França, que também era sua parente. Ela, na ocasião, tinha 16 anos, entretanto, não foi achado nenhum impedimento para o matrimônio, uma vez que a menoridade e o grau de parentesco não impedia, por Lei, tal união. O casamento deu-se na cidade natal dos cônjuges, ou seja, em Curitibanos. Do casamento, nasceram nove filhos naturais, devidamente registrados no cartório da vila. Entretanto, há informações que foram responsáveis pela criação de outros filhos não naturais.

Theodoro tinha a alcunha de “Tiodorinho França”, por esse apelido, era conhecido em Curitibanos. No final do ano de 1915, ele e seu cunhado Sergilio Rodrigues França tiveram algumas dificuldades, por conta das construções de casas no terreno baldio que ficava entre o final da Rua Dr. Lauro Müller (em 2023, Casa da Televisão) até a atual Rua Altino Gonçalves de Farias. Essa Rua Dr. Lauro Müller terminava onde hoje tem o prédio que está instalada a Casa da Televisão. No lado Leste, paralelo à Rua Dr. Lauro Müller, existia a estrada que era o caminho para o Sul e também para o Norte, ou seja, entrada e saída da vila de Curitibanos (a atual Rua Medeiros Filho). No local, existia uma Praça pública, utilizada para passeios e descanso dos viajantes que por ali passavam. Algumas pessoas, moradoras da vila, cujos nomes foram anotados em requerimentos da época, mas ainda existentes, Henrique Weber, Ricardo Ganz, Clemente Alves do Prado e José Ortigari, tentaram, perante a Superintendência Municipal, embargar as construções, alegando que as mesmas estragariam a Praça que existia no local. O Superintendente da época era o coronel Marcos Gonçalves de Farias, ele, e o Conselho Municipal, deliberaram sobre as construções, dando, posteriormente, autorização para a continuidade das obras, alegando aos que reclamavam, que as residências construídas representariam progresso para a vila de Curitibanos, pois além das residências, os imóveis também serviriam para uso comercial. Posteriormente, a família de Theodoro França Pereira adquiriu a região, onde foram construídas as casas, passando em lotes menores para a descendência, alguns, até os dias atuais.

Dessa forma, Theodoro França Pereira abriu uma casa comercial que fornecia mantimentos e utensílios variados para os seus frequentadores. Em fevereiro de 1932, encontramos pagamentos feitos a Theodoro França Pereira pelo fornecimento de ferramentas para uso geral da Prefeitura de Curitibanos. Em maio de 1932, encontramos o registro do fornecimento de latas de pólvora, também para a mesma prefeitura, para uso na construção da estrada que ligaria Curitibanos até Santa Cecília. Naquele tempo, as estradas eram construídas com a utilização de pessoas, e o uso de ferramentas e, consequentemente, a força braçal, quando deparavam com enormes rochas, era necessário a detonação, por essa razão, a utilização de pólvora. Informações encontradas no Museu Histórico Antônio Granemann de Souza de Curitibanos, dizem que em janeiro de 1908, Theodoro abriu a sua primeira casa Comercial de Armarinhos e Bar, mas que durante a invasão dos fanáticos em 26 de setembro de 1914, teve o seu estabelecimento comercial e a sua residência queimados. Foi isso que pesou positivamente na hora da liberação das construções, a vila tinha perdido vários imóveis e era necessário urgentemente de novas construções. Dessa forma, Theodoro e seu cunhado, foram autorizados a terminarem as obras de construção das suas residências, bem como, Theodoro, a explorar as atividades comerciais de Bar, Hotel, Pensão e Maternidade. Além da casa comercial, foram construídas no terreno antes citado, algumas edificações menores, para a atividade de locação. Vários inquilinos moravam nesses casebres. Em 1957, no livro de inspeção de higiene pública, encontramos a reclamação para a demolição e construção de privadas para atender os hóspedes e inquilinos.

Em Curitibanos, Theodoro esteve envolvido com a política local, apesar de não encontrarmos o seu nome em meio das pessoas eleitas para ocupar cargos no setor público, esteve sempre próximo dessas. Era aliado político de Graciliano Torquato de Almeida, Cornélio de Haro Varella, Salomão Carneiro de Almeida, … Em 1931, fez parte do Diretório Municipal do Partido Liberal Catarinense. 

A sua esposa, Rosa Maria França, tinha muito prestígio em Curitibanos. Além de criar os seus filhos, ainda tinha tempo para ajudar os médicos que por aqui passaram. É importante informar, que havia, em Curitibanos, até os anos da década de 1940, uma casa (na atual Rua Medeiros Filho), disponibilizada para atendimento aos enfermos pelo farmacêutico que atuava como médico na região, o senhor Alfredo Lemser. Theodoro França Pereira e a sua esposa Rosa, não mediram esforços para atender os doentes e os necessitados. Havia no local, duas salas, com camas, uma para parturientes, onde a senhora Rosa atendia como uma habilidosa parteira da época, sempre auxiliada e sob orientação do farmacêutico. Na outra sala, o germânico farmacêutico atendia outros pacientes que apresentavam diversos sintomas.

No início da década dos anos 1930 atendia também em Curitibanos, de forma particular, o médico alemão, Doutor Henrique Berger Filho, num consultório estabelecido numa sala da sua residência. No mesmo ano de 1939, quando se deu início às conversações para a construção do Hospital em Curitibanos, chegou na cidade um médico formado noutro centro, o Doutor José Macedo. Esse continuou o trabalho do senhor Alfredo Lemser, atendendo os doentes no mesmo local do casal França Pereira. A dedicação pela área da saúde era demasiada por parte do casal. Na primeira reunião, de formação da “Comissão” pró-construção de um hospital em Curitibanos (Hospital Frei Rogério), lá estava o senhor Theodoro entre os ilustres nomes de Curitibanos.

Em 23 de agosto do ano de 1953, às 8 horas da manhã, em sua residência, localizada na Rua Medeiros Filho, faleceu de insuficiência cardíaca, associada com diabete, a senhora Rosa Maria França, trazendo profunda tristeza, não só para os familiares, mas também, para todos os moradores de Curitibanos. Não é possível expressar em números, os que nasceram por suas mãos. Mesmo viúvo, Theodoro precisou continuar com a sua missão terrena. Ele foi uma das pessoas mais conhecidas e importantes que viveu em Curitibanos, pois sempre esteve no meio dos tomadores de decisões, não importando a ideologia partidária. Era conhecido pelos habitantes do município, dessa forma, tinha-se certa facilidade em encontrá-lo, quer fosse nas ruas ou na sua Casa Comercial, em trajes humildes, todavia, limpos e desgastados pela ação do tempo.

Theodoro França Pereira adquiriu experiência nos negócios, após inúmeras conversas com os tropeiros, os vendedores ambulantes e os viajantes, que passavam por seu imóvel comercial, utilizando a Rua Medeiros Filho como rota obrigatória, pois no passado, aquela via, também foi chamada e conhecida como "o caminho das tropas". Os antigos que o conheceram, que ainda vivem, atestam que ele prosperou rapidamente, numa época em que não havia uma agência bancária em Curitibanos. As pessoas em crise financeira, o procuravam por empréstimos, fazia-lhes frente, conforme a demanda, mediante cobrança de juros e uma assinatura numa nota promissória. Essas mesmas, afirmavam que ele era um homem de palavra, "honrava o bigode", como se dizia naqueles tempos. Theodoro, sempre que podia, afirmava: Amizade e negócios não se misturam, às vezes, a palavra pode ser esquecida, o bigode também pode ser raspado”. Mesmo com a vinda da agência do Banco “INCO”, para Curitibanos, várias pessoas continuaram a procurá-lo por serem atendidos de forma rápida e sem burocracia.

Os que não tinham condições de quitar o compromisso firmado, como forma de pagamento, Tiodorinho recebia gado, cavalos, terras e produtos que poderia comercializar. O mal pagador ou que passava do prazo estabelecido, era visitado diariamente em sua residência, tanto pela manhã, como à tarde, até que o mesmo pudesse quitar a sua dívida. Ele faleceu em 27 de dezembro de 1966, em sua cidade natal, com 78 anos, de insuficiência cardíaca, sendo sepultado em Curitibanos. Deixou bens a inventariar. Depois de repartidas as partes, tanto as filhas, como os filhos, ficaram muito bem amparados financeiramente.

Ao encerrar os escritos sobre esse ilustre curitibanense, filho legítimo da terra, eu não poderia deixar de salientar, que há ainda uma lacuna a ser preenchida por parte do setor público, no que se refere a uma homenagem, de forma a preservar para a posteridade o nome de Theodoro França Pereira. Até o ano de 2023, não existe nenhuma rua, via, logradouro, prédio, ou edificações que tenham o seu nome. Nenhum prefeito ou vereador atentou para isso, pessoas ou personagens que fizeram menos, que não nasceram em Curitibanos, receberam honrarias mais expressivas. Para alguns, uma injustiça, mas que ainda dá tempo de corrigir.



Referências para o texto:


Balancete da Receita e Despesa da Prefeitura de Curitibanos para o mês de Fevereiro de 1932. Jornal República, Florianópolis, sábado, 19 de março de 1932, p. 7.


Balancete da Receita e Despesa da Prefeitura de Curitibanos para o mês de Maio de 1932. Jornal República, Florianópolis, domingo, 19 de junho de 1932, p. 7.


Com informações de Alexandre Fossatti


Com informações de José Jesus França Souza


Com informações de Neiva Germiniani


Com informações de Rosa França Camargo


Fotografia colorizada por Alexandre Fossatti


Livro n.º 158 de Inspeção de Higiene Pública. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. 


Livro n.º 370 de Requerimentos à Superintendência/Prefeitura Municipal de Curitibanos. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. 


Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. Livro n.º 157. Livro de Atas da Comissão para a construção do Hospital Frei Rogério.


POPINHAKI, Antonio Carlos. O Hospital Frei Rogério. Blog pessoal de Antonio Carlos Popinhaki. On-line, disponível em: https://antoniocarlospopinhaki.blogspot.com/2023/03/o-hospital-frei-rogerio.html


Registro de Casamento de Theodoro França Pereira e Rosa Maria França. Cartório de Registro Civil de Curitibanos


Partido Liberal Catarinense. Jornal República, Florianópolis, 22 de setembro de 1931. Anno I, n.º 277. P. 1


Registro de óbito de Rosa Maria França. Cartório de Registro Civil de Curitibanos


Registro de óbito de Theodoro França Pereira. Cartório de Registro Civil de Curitibanos

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