Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Frei Gaspar Flesch, nascido Afonso Flesch em 29 de outubro de 1879, em Sterkrade (Oberhausen), diocese de Münster, na Alemanha, foi uma figura marcante na história da Ordem Franciscana no Brasil. Sua vida foi dedicada ao serviço religioso, à caridade e à propagação da fé católica, especialmente nas regiões mais remotas e carentes do país. Sua trajetória é um testemunho de humildade, dedicação e espírito de sacrifício.
Afonso Flesch cresceu em um ambiente familiar profundamente religioso. Seu pai, Augusto Flesch, era doutor em filosofia, e sua mãe, Maria Lantermann, era uma mulher de grande virtude e dedicação à família. Com 14 irmãos, Afonso foi criado em um lar onde reinava a harmonia e o respeito aos preceitos cristãos. A influência religiosa em sua vida foi fortalecida quando uma de suas irmãs mais velhas decidiu seguir a vida religiosa, tornando-se freira. Além disso, a proximidade de um convento de Capuchinhos em Kreuztor, onde a família morava, também contribuiu para o despertar de sua vocação religiosa.
Aos 14 anos, Afonso ingressou no colégio de Harreveld, na Holanda, e no ano seguinte transferiu-se para Bleyarheide. Sua formação inicial foi marcada por uma educação rigorosa e pela dedicação aos estudos. Ele era conhecido por sua facilidade de aprendizado e por sua veia poética, que o acompanharia por toda a vida. Apesar de sua inclinação para a vida religiosa, Afonso inicialmente hesitou em seguir os Capuchinhos, considerando-os um tanto "desasseados". No entanto, sua decisão final foi pelos Franciscanos, ordem que ele julgou mais alinhada com seus ideais.
Em 1894, com apenas 15 anos, Afonso Flesch embarcou para o Brasil como parte de um grupo de jovens missionários conhecido como a "Cruzada das Crianças". A missão era liderada pelo Comissário Provincial Frei Irineu Bierbaum e contava com 25 alunos, além de sacerdotes e irmãos. O grupo chegou a Recife em 3 de dezembro de 1894 e foi alojado no antigo convento de Olinda, que há 50 anos não tinha moradores. Apesar das dificuldades iniciais, Afonso ficou encantado com a nova terra, especialmente com a beleza das palmeiras e da natureza exuberante.
No entanto, a estadia em Olinda foi breve. Após quatro meses, uma doença misteriosa acometeu vários membros do grupo, incluindo Afonso. Apesar de ninguém ter morrido, a ordem veio da Alemanha para que os jovens se mudassem para o sul do país. Em abril de 1895, eles chegaram a Blumenau, onde Afonso continuou seus estudos e se adaptou ao clima mais quente.
Em 9 de maio de 1897, Afonso iniciou o noviciado no Convento de Blumenau, sob a direção do experiente mestre de noviços Frei Modesto Bloeink. Durante esse período, ele demonstrou grande seriedade e dedicação, compreendendo plenamente as responsabilidades da vida religiosa. Após concluir o noviciado, Afonso continuou seus estudos teológicos e filosóficos, sendo ordenado sacerdote em 21 de dezembro de 1902, na catedral de Curitiba, pelo bispo Dom José de Camargo Barros.
Após sua ordenação, Frei Gaspar Flesch iniciou uma longa e frutífera carreira missionária. Seu primeiro destino foi Curitibanos, onde serviu como pároco de 1904 a 1914. Durante esse período, ele enfrentou inúmeras dificuldades, incluindo longas viagens a cavalo para visitar capelas distantes, condições precárias de alimentação e acomodação, e até perseguições políticas. Apesar disso, Frei Gaspar sempre manteve um espírito de sacrifício e dedicação, construindo a igreja de Curitibanos e ganhando a admiração e o respeito dos sertanejos.
Em 1914, Frei Gaspar foi transferido para Palmas, onde continuou seu trabalho missionário, visitando capelas e atendendo às necessidades espirituais das comunidades locais. Em 1920, ele foi enviado para Rio Negro, onde serviu como cooperador da paróquia por 13 anos. Durante esse período, ele visitou inúmeras capelas e deixou uma marca indelével na vida dos fieis, que o lembravam com carinho, mesmo décadas depois.
Em 1948, Frei Gaspar foi transferido para o Convento de São Francisco em São Paulo, onde passou os últimos 11 anos de sua vida. Mesmo em idade avançada, ele continuou ativo no confessionário, sendo conhecido por sua paciência e dedicação aos fieis. Ele também serviu como cronista do convento, mantendo registros detalhados das atividades e dos visitantes.
Frei Gaspar faleceu em 14 de janeiro de 1959, aos 80 anos, após uma breve internação no Sanatório de Santa Catarina. Ele foi enterrado no cemitério do Santíssimo Sacramento, ao lado de outros veteranos da Ordem Franciscana. Sua morte foi sentida com profunda consternação por todos que o conheceram, tanto por sua bondade quanto por seu exemplo de vida dedicada ao serviço de Deus e do próximo.
Frei Gaspar Flesch deixou um legado de humildade, caridade e dedicação. Sua vida foi marcada por um profundo espírito de sacrifício, especialmente durante suas longas viagens missionárias e seu trabalho incansável nas comunidades mais carentes. Ele era conhecido por sua piedade, sua observância rigorosa das regras da Ordem e sua capacidade de perdoar e ajudar aqueles que o cercavam.
Sua história continua a inspirar gerações de religiosos e leigos, servindo como um exemplo de como uma vida dedicada à fé e ao serviço dos outros pode deixar um impacto duradouro. Frei Gaspar Flesch foi, sem dúvida, um verdadeiro servo de Deus, cuja vida e obra continuam a ser celebradas e lembradas com profundo respeito e admiração.
Frei Gaspar era conhecido por sua simplicidade e humildade. Ele raramente falava de si mesmo ou de seus feitos, preferindo destacar o trabalho dos outros. Sua piedade era intensa e sincera, e ele mantinha uma rotina rigorosa de oração e meditação. Mesmo nas situações mais difíceis, ele mantinha a calma e a serenidade, confiando na vontade de Deus.
Ele também era conhecido por sua caridade e disposição para ajudar os outros. Em Ituporanga, por exemplo, ele frequentemente visitava o hospital, levando frutas e pequenos presentes para os doentes, animando-os com sua presença e palavras de conforto. Sua dedicação ao próximo era tão grande que ele chegava a carregar as malas e cuidar dos cavalos dos padres que partiam para as capelas, demonstrando um espírito de serviço que ia além do esperado.
Frei Gaspar Flesch foi um exemplo vivo de como a fé e a dedicação podem transformar vidas e comunidades. Sua vida de sacrifício, caridade e humildade continua a inspirar todos aqueles que conhecem sua história. Ele foi, sem dúvida, um verdadeiro servo de Deus, cujo legado de amor e serviço ao próximo permanece vivo na memória daqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo e na história da Ordem Franciscana no Brasil.
Em 19 de dezembro de 1961, por meio da Lei Ordinária Municipal n.º 483/1961, o então prefeito de Curitibanos, Hélio Anjos Ortiz, nomeou uma rua do município como Rua Frei Gaspar, em uma singela e justa homenagem.
Referências para o texto:
Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 483/1961.
SEIFERT. Frei Olavo R. - Frei Gaspar Flesch. 9 páginas. On-line, disponível em franciscanos.org.br
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