quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

José Pellizzaro

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Christiano Pellizzaro e Verginia Vedana, ela, natural de Trevizo, Itália, casaram no dia 26 de abril de 1911, depois do casamento foram morar no interior de Antônio Prado/RS, na Linha 10 de julho até o ano de 1947, quando um incêndio destruiu a casa e o armazém da família. Um dos filhos desse casal, de nome José Pellizzaro, nasceu no dia 12 de agosto do ano de 1913, posteriormente, casou-se no dia 7 de maio de 1932 com Ana Pierina Colombo e permaneceu morando com seus pais até o início de 1934, ocasião em que se mudou com a esposa para a cidade de Caçador/SC, onde se estabeleceram na Colônia do Rio Jacutinga, Capela São Pascoal, Cará. O lugar era tão no meio do mato que foi necessário abrir picada a facão e foice para conduzir a esposa e filhos até a pequena casa de chão de terra batida.

A família residiu na casinha, no interior de Caçador por vinte e dois meses. O sogro de José, mesmo antes do casamento, assegurou ao rapaz que ele não deveria se preocupar com o alistamento militar, pois não iria ser convocado para servir no Exército Brasileiro. Tanto falou sobre isso que o próprio José nunca se preocupou em verificar a sua situação relacionada às obrigações com a pátria. No entanto, no ano de 1941, com 28 anos e pai de sete filhos menores, e ainda mais dois de criação, eis que o prefeito de Caçador, Sr. Manoel Siqueira Bello o intima a pagar doze contos de réis para o fornecimento dos papéis que o dispensaria do serviço militar, caso não pagasse essa quantia, seria preso. Sem ter esse valor exigido, e temendo ser encarcerado, José se apresentou ao 9.º Batalhão de Caçadores na cidade gaúcha de Caxias do Sul.

Não conseguindo ser dispensado das suas obrigações militares, permaneceu na ativa por oito meses sem nenhuma permissão para visitar a sua esposa e filhos. No exército, José foi praticamente obrigado a fazer um curso de Cabo por ser escalado para ser uma espécie de “xerife” da turma, uma vez que era mais velho do que os demais que estavam servindo. Ao terminar o curso e ser promovido, recebeu como prêmio, a licença especial para voltar para a sua família em Caçador. A licença contemplava "não precisar mais se apresentar" no Batalhão do Exército.

A vida em casa, com a esposa e filhos durou cerca de um mês, quando ouviu pelo rádio que todos os militares que estivessem de licença naquela época, em função da Segunda Guerra Mundial, deveriam se apresentar num quartel imediatamente. Após várias tentativas de dispensa, seus esforços não foram animadores. José Pellizzaro permaneceu no 9.º Batalhão de Caçadores até o mês de fevereiro do ano de 1943, quando foi autorizado a voltar para sua casa e aguardar a dispensa definitiva. No mês de maio, ele recebeu o certificado de reservista e o soldo correspondente a quase três meses pelos serviços prestados à pátria.

As dificuldades foram enormes para o casal. Durante os dezoito meses em que José foi obrigado a permanecer no Exército, a esposa Ana Pierina permaneceu com os filhos na Colônia Cará, interior de Caçador, trabalhando arduamente na roça. Após o seu retorno ao lar e de assumir o controle familiar, por servir o exército e por ser uma pessoa de muita fé, José tornou-se para os moradores daquele interior, uma espécie de “Capelão”. Era requisitado para o terço nos dias santos na Capela São Pascoal e quando alguém falecia, os parentes o chamavam para fazer os serviços de enterro. 

Mais três anos passaram de muitas dificuldades, agora, em 1946 José e sua família eram conhecidos por serem agricultores e de serem possuidores de uma serraria. A principal cultura plantada e comercializada por eles era o trigo. Nesse mesmo ano, gafanhotos apareceram e comeram a sua plantação, era na época, a maior fonte da renda familiar. José parecia não ter sorte, apesar de todas as dificuldades nos negócios, ainda tinha que se preocupar constantemente com a saúde da esposa e das crianças que viviam constantemente doentes.

Certo dia, nas festividades de São Pascoal, o padre, que também se chamava José, sendo testemunha de todo o sofrimento da família Pellizzaro naquele interior, chamou o amigo e lhe disse:

一 Tocaio! Aceite um conselho, mude-se daqui, porque eu conheço os teus problemas e percebo que aqui não é o teu lugar.

José, num tom descontraído, retrucou o sacerdote:

一 Padre, o senhor conhece a doutrina?

一 Qual a razão desta pergunta?

一 Se o senhor a conhece, deve saber que a doutrina diz que Deus está em todos os lugares.

Passados os dias das festividades, conhecedor que na sua terra natal de Antônio Prado havia bons profissionais da medicina, resolveu mandar para lá, a esposa e um filho para se consultarem e se submeterem a algum tratamento de saúde. Antes da esposa e o filho partirem para o estado gaúcho, falou-lhe essas palavras:

一 Quando você voltar, vou procurar um lugar que me agrade para ver se as coisas melhoram.

Algumas semanas depois que a esposa e o filho viajaram, enquanto trabalhava, recebeu a notícia de que um incêndio destruiu a casa e o armazém dos seus pais. Num impulso, sentindo-se impotente naquela situação, longe da propriedade dos pais, longe da esposa, não viu outra alternativa, a não ser bater na porta de um parente que morava na região de Caçador para auxiliá-lo. Deixou com esse os demais filhos e partiu para Antônio Prado para tentar ajudar de alguma maneira os pais. Quando chegou ao local, encontrou os pais numa situação de tristeza e desolação. Permaneceu com eles alguns dias, pois ele mesmo precisava dar um rumo para os seus problemas.

Em Caçador, para a família Pellizzaro, o principal meio de subsistência era a produção e a comercialização do trigo. O trigo tinha um valor muito elevado e era controlado devido à sua escassez. Era proibido por lei um estado vender trigo para outro estado devido ao racionamento. José tinha um cunhado de nome Ernesto Bortolotto, esse, tinha um caminhão que fazia fretes e costumeiramente, alguns pequenos contrabandos. José e Ernesto acertaram uma viagem para transportar trigo para fora de Santa Catarina, escondido sob vasilhames de cerveja. Se a fiscalização parasse o caminhão, a carga exposta era evidentemente de cerveja, pois o trigo estava escondido. Na nota só constava cerveja, uma vez que não poderiam comercializar trigo para outro estado. Na volta dessa viagem, tiveram que parar forçadamente, devido a uma forte chuva, na cidade de Curitibanos. Não tinha como prosseguir até Caçador. Pernoitaram no Hotel Coninck. Enquanto estavam hospedados naquele hotel, foram abordados por alguns representantes da empresa Driessen & Almeida. Esses homens ofereceram para José e Ernesto um pinhal, como se costumava dizer, para um Capão de Araucárias. Esse pinhal estava localizado na localidade de Marombas, próximo à estrada que liga Curitibanos a Lebon Régis.

José Pellizzaro não tinha poder aquisitivo para a compra dos pinheiros, por isso, propôs uma sociedade, onde ele entraria com a serraria e a produção seria dividida em partes iguais, com uma condição, a empresa Driessen & Almeida deveria pagar da sua parte, 35 cruzeiros por cada dúzia de 168 pés, como ajuda de custos para a manutenção e o funcionamento da serraria. Os representantes da empresa concordaram com os termos e condições. Para a montagem e o funcionamento da serraria, José chamou três cunhados e propôs a eles sociedade no empreendimento: 40% para José, 20% para Ângelo Colombo, 20% para Ernesto Bortolotto, 20% para Santo Agostini.

Uma vez acertados, começaram no árduo trabalho. José se embrenhou nas matas fechadas, abriu estradas e construiu uma pequena casa para moradia, vindo assim, toda a sua família residir na localidade de Marombas. Foi além, procurou o seu pai, na cidade de Antônio Prado e propôs dar-lhe metade da sua parte da empresa, ou seja, 20%, desde que ele viesse morar em Marombas com sua família. O pai poderia abrir um pequeno armazém para fornecer mercadorias para os empregados da serraria. Os irmãos poderiam trabalhar na serraria.

Então foi assim: José Pellizzaro era o mais experiente no ramo madeireiro, por isso além de sócio, era também o gerente. Não demorou muito, no ano de 1950, convenceu o seu irmão Catharino que morava e trabalhava na agricultura na cidade de Seara/SC a mudar-se para Marombas. Aceita a proposta, o irmão veio e comprou uma casa em Marombas, onde abriu com o pai um comércio de secos e molhados. Além do pai, a sociedade tinha ainda os irmãos Achyles, Alcides e Olimpio.

No ano de 1956, adquiriram outra serraria, a “Madeireira Consulbrama Ltda.”, que passou a denominar-se “Madeireira Pellizzaro, Bortolotto Ltda.”. A serraria funcionou até o ano de 1960.

A partir da compra dessa serraria, vários membros da família Pellizzaro, a maioria, filhos de Christiano tornaram-se sócios e trabalharam unidos para o negócio prosperar.

No ano de 1959 José mudou-se para Curitibanos. Um ano depois, em 1960, um incêndio destruiu a serraria da família. José então, com os demais sócios, resolveram mudar a serraria para Curitibanos. A nova empresa com o nome de “Madeireira Pellizzaro Ltda.” funcionou até o ano de 1980.

Logo que se mudou para Curitibanos, José Pellizzaro adquiriu cotas do Cine Teatro Ópera que estava em fase de construção. No primeiro ano de funcionamento desse cinema, sob a gerência do senhor Otto Hoppen, houve um prejuízo de cerca de 120.000 cruzeiros. Sabendo que essa dívida seria executada, José convocou uma Assembleia como tentativa de achar uma solução conjunta. Como não conseguiram entrar num acordo para o pagamento, José propôs comprar as cotas de quem quisesse vender, no valor de 50% do seu preço. Acabou comprando quase 50% delas.

Inexperiente no ramo de cinemas, José conseguiu no ano seguinte pagar todas as dívidas existentes e fazer com que sobrasse algum valor como saldo positivo. Havia outro cinema concorrente em Curitibanos, o Cine Teatro Monte Castelo. José, após perceber que poderia ganhar algum dinheiro nesse ramo, acabou comprando o cinema concorrente, dominando assim o mercado na cidade de Curitibanos.

Após mais de uma década, o movimento nos cinemas começou a definhar, uma vez que em tempos de presidentes militares houve o fomento ao cinema nacional. Por força da lei, a exibição desses filmes era obrigatória. Os valores cobrados pelas empresas fornecedoras das cópias também eram altos, cerca de 60% da renda bruta. A maioria dos filmes era de conteúdo pornográfico. Isso afastou o público, forçando a venda dos cinemas de Curitibanos para uma empresa da cidade de Lages/SC.

A partir do ano de 1963, José dedicou-se também à pecuária e em 1988 fez doações das pequenas fazendas aos filhos. Do casamento de José Pellizzaro e Ana Pierina Colombo nasceram 13 filhos. Ele faleceu no dia 05 de abril do ano de 2010 com 96 anos. 

No dia 26 de fevereiro de 2018, por reconhecimento público pelos relevantes serviços dedicados ao desenvolvimento de Curitibanos e região, foi sancionada pelo prefeito municipal José Antônio Guidi a Lei Ordinária nº 5986/2018, denominando uma via pública no bairro São José com o nome de Rua José Pellizzaro.


Referências para a produção do texto:


CURITIBANOS. Câmara Municipal de Vereadores. Pasta Digital - Autógrafo nº 0001/2018 ao Projeto de Lei do Legislativo nº 0001/2018


CURITIBANOS. Lei Ordinária nº 5986/2018. Denomina via pública de “Rua José Pellizzaro”. 26 fev. 2018.


PELLIZZARO, José. Resgatando as Origens. Família Pellizzaro. Gráfica Thipograf. Curitibanos. 2000 54p.


PELLIZZARO, Reinaldo Assis. A Saga da Família Pellizzaro no Brasil. 8ª ed. 2012. On line: Disponível em: https://issuu.com/churrasquim/docs/asaga

Um comentário:

  1. Parabéns Antônio Carlos Popinhaki, pela magnifica publicação, José Pellizzaro foi o responsável pela criação e educação de seus 9 irmãos, em decorrencia da morte prematura de seu pai -nosso avô paterno- Catherino Pellizzaro, inclusive de meu pai Antônio Pellizzaro...foi mesmo tudo isso que você tão bem registrou; e para nossa família um exemplo de fervoroso católico, empresário empreendedor, líder comunitário de escol, e uma pessoa por todos nos muito querida que jamais esqueceremos. Parabéns Amigo!

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