quinta-feira, 3 de abril de 2025

Tertuliano de Albuquerque Potiguara


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Nascido em 27 de abril de 1873 na Serra da Meruoca, então pertencente ao município de Sobral no Ceará, Tertuliano de Albuquerque Potiguara era filho do imigrante português Antônio Domingos da Silva e da cearense Rosa Cândida de Albuquerque. Sua formação militar começou na Escola Militar do Ceará, em Fortaleza, transferindo-se depois para o Rio de Janeiro onde ingressou na Infantaria em 1889, coincidindo com o ano da Proclamação da República, marco que definiria sua visão de ordem e disciplina militar.

Sua ascensão foi notável: promovido a alferes em 1894, alcançou o posto de 1º tenente em 1907 e capitão em 1909. A amizade com o marechal Floriano Peixoto moldou seu caráter autoritário e sua postura intransigente contra movimentos insurgentes. Entre 1910 e 1914, comandou a Brigada Policial da Capital Federal como major, experiência crucial para seu futuro papel na Guerra do Contestado (1912-1915), onde ganharia notoriedade e acusações de crimes de guerra.

O episódio sobre ações diretas ou indiretas contra o patrimônio do agrimensor e topógrafo Walter Schmidt foi um capítulo sombrio na carreira do então Capitão Potiguara. Durante as operações no sertão catarinense em busca do Reduto de Santa Maria, na região de Tamanduá, Potiguara ordenou pessoalmente a destruição da residência de Walter Schmidt, um civil alemão-brasileiro que paradoxalmente prestava serviços como topógrafo ao próprio Exército. Conforme registros do jornal "O Estado" de 18 de maio de 1915 e pesquisas da escritora Zélia de Andrade Lemos, Schmidt era um homem culto, engenheiro, agrimensor e artista refinado, cuja bela casa mobiliada, com biblioteca e equipamentos profissionais, foi reduzida a cinzas após Potiguara convencer sua família a se mudar para Canoinhas.

O General Setembrino de Carvalho, em suas memórias, registrou dúvidas sobre a real necessidade militar desta ação, destacando que representou a destruição de anos de trabalho intelectual e artístico. Esse episódio exemplifica os métodos controversos de Potiguara, que justificava tais atos como necessários para a “manutenção da ordem”.

Na Primeira Guerra Mundial (1917-1918), Potiguara integrou a missão brasileira na França, destacando-se na Batalha do Canal Saint-Quentin, onde foi ferido e promovido a tenente-coronel por bravura. Cartas do front reveladas por suas netas mostram um homem dividido entre o dever militar e o horror da guerra moderna.

De volta ao Brasil, sua trajetória continuou ascendente: coronel por merecimento (1921), general-de-brigada (1923) e general-de-divisão (1926), tornando-se uma das figuras mais influentes do Exército. Sua atuação nas revoltas paulistas revelou pragmatismo político: em 1924 reprimiu violentamente a Revolta Paulista na Mooca, mas em 1932 aliou-se aos mesmos tenentistas para combater a Revolução Constitucionalista.

Eleito deputado federal pelo Ceará, viu sua carreira ser interrompida por um atentado em 1937, um pacote-bomba lhe arrancou o braço direito. Morreu no Rio de Janeiro em 30 de julho de 1957, deixando um legado ambíguo: heroi de guerra condecorado e ao mesmo tempo símbolo de métodos repressivos. Hoje, seu nome batiza a 5ª Brigada de Cavalaria Blindada em Ponta Grossa e uma rua em Fortaleza, enquanto historiadores continuam a debater seu papel na formação do Brasil moderno - entre a construção da ordem republicana e o uso questionável da força contra civis.

Em Curitibanos, no dia 6 de novembro de 1963, o então prefeito Hélio Anjos Ortiz denominou, através da Lei Ordinária Municipal n.º 536/1963 uma rua da cidade de “Rua Capitão Potiguara”.



Referências para o texto:


Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 536/1963


GAERTNER. C. o Agrimensor Walter Schmidt. Blumenau em Cadernos, Tomo XV, Blumenau/SC, 1974, p. 27 – 29.


LEMOS, Zélia de Andrade. Curitibanos na História do Contestado. Edição do Governo do Estado de Santa Catarina, 1977. Curitibanos.


MARTINS, Vicente. Homens e vultos de Sobral. Fortaleza: Edições UFC, 1989.


McCANN, Frank D. Soldados da Pátria: História do exército brasileiro, 1889-1937. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. ISBN 8535910840.


POPINHAKI, Antonio Carlos. Walter Schmidt. Blog Curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2025/01/walter-schmidt.html


O Discurso do General. Jornal O Estado. Edição de 18 de maio de 1915. Florianópolis. Ed. n.º 4.

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