Frei Rogério Neuhaus

Texto de Antonio Carlos Popinhaki

Bernard Heinrich Neuhaus nasceu em Borken, Westfalen, Preußen, na época sob a jurisdição da Prússia, depois Alemanha, no dia 29 de novembro de 1863. Seus pais se chamavam Johann Neuhaus e Christina Haddick. Um dia após o seu nascimento, foi batizado. Era o 3.º filho do casal, que tiveram 4 no total. O irmão mais novo de Bernard, quando adulto, também tornou-se padre. Registros encontrados no acervo do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza de Curitibanos/SC, informam que o seu pai, Johann era muito religioso. Quando jovem, queria ser padre, entretanto, por ser de lar muito pobre, teve que assumir os cuidados com a família, uma vez que o seu pai (avô de Bernard) ficara cego e não podia prover o sustento coletivo familiar.

Assim, como alternativa para jovens de famílias pobres, dois filhos do casal Johann e Christina abraçaram o sacerdócio: Bernard e Wilhelm. No dia 24 de maio de 1882, Bernard Heinrich Neuhaus fez seus votos simples. Três anos depois, como era costume na igreja católica, em 25 de maio de 1885, fez os seus votos solenes. Ficou conhecido como Frei Rogério Neuhaus, uma vez que era costume a alteração dos nomes, dando início a um novo marco para uma nova vida. No caso, a vida religiosa.

Frei Rogério Neuhaus veio para o Brasil em 1891, chegando na cidade de Salvador, Bahia, no dia 2 de dezembro. Juntamente com ele, vieram três outros sacerdotes. No dia seguinte (3 de dezembro de 1891), os 4 padres celebraram a 1.ª missa em terras brasileiras, na Igreja de São Francisco, em Salvador. No dia 8 de dezembro já estavam na capital, Rio de Janeiro. Quatro dias depois, chegaram na cidade de Desterro (Florianópolis), Santa Catarina. Os registros informam que Frei Rogério chegou muito fraco em solo catarinense, estava em péssimo estado de saúde. Ele sofreu muito com enjoos no mar, no trajeto do Rio de Janeiro a Desterro. Depois, enfrentou 12 horas a cavalo até a Colônia Teresópolis, local antigamente destinado ao assentamento de imigrantes alemães. Quando chegou no local, não pode apear do cavalo, precisou ser carregado diretamente para uma cama.

Recuperado das suas forças físicas e mentais, no dia 13 de fevereiro de 1892, Frei Rogério e seus companheiros padres, partiram da Colônia Teresópolis, a cavalo, para a vila de Lages/SC. Chegaram no dia 22. Em Lages, tiveram muitas dificuldades. Em seus registros, escreveram que o povo não era religioso. Naquela época, não havia missas dominicais. Quando começaram a ministrá-las, a frequência era de 3 ou 4 pessoas.

Naquele tempo, parece que o catolicismo era bem diferente do que encontramos atualmente. Havia preconceito e os dogmas ou diretrizes eram de assustar. Um dos companheiros de Frei Rogério de nome Frei Herculano arrumou uma briga com o pessoal da maçonaria lageana. Na localidade de Painel, faleceu um homem que pertencia à maçonaria. Frei Herculano recusou-se a celebrar a missa de corpo presente. Depois, morreu um Juiz de Direito que era maçom, Frei Herculano estava em Blumenau (reduto-sede dos padres católicos, naquele tempo, em Santa Catarina), Frei Rogério estava na localidade de Campo Belo. O padre que estava na paróquia saiu de madrugada para uma fazenda da região, simplesmente, porque não queria encomendar o corpo, o qual foi levado, mesmo sem a presença do padre, para a igreja. Os presentes “benzeram” o corpo do Juiz com água benta disponível no interior da igreja.

As crendices na fé dos padres era assustadora para os nossos tempos. Espalhou-se uma notícia entre os católicos de outrora, que Frei Rogério tinha alguns atributos sobrenaturais, quando invocava a sua fé. Mesmo que essa fosse apenas para matar insetos. Certa vez, no convento dos padres, em Lages, havia uma infestação de baratas. Apesar de limpos, os cômodos não ficavam livres delas. Certa noite, Frei Rogério resolveu benzer os cômodos do convento, na manhã seguinte, não havia mais nenhuma. Outra história propagada informa que na vila de Curitibanos havia uma nuvem de gafanhotos. O pequeno povoado estava sendo assolado por esses famintos insetos. Numa manhã, invadiram a Praça da República, em frente à Igreja. O povo correu para o local com panelas, latas, cincerros e tudo o que pudesse produzir barulho. Os grilos ignoravam completamente a presença dos humanos no local. Então, Frei Rogério dirigiu-se até a Praça. Benzeu o local e em 10 minutos não havia nenhum gafanhoto. Foram embora. Seria Frei Rogério o padre que tinha poderes sobrenaturais sobre os insetos? Essas histórias foram contadas por Frei Justino Girardi, que trabalhou, anos depois, em Curitibanos.

Um feito importante de Frei Rogério foi a construção do Colégio São José de Lages (atualmente, a ala antiga do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres). Também existem muitas histórias contando façanhas milagrosas quanto à arrecadação de dinheiro para a construção do prédio do colégio. Uma simples carta escrita por Frei Rogério para São José conseguiu produzir o dinheiro necessário de um dia para outro. Certamente, São José era um santo atencioso. Em Curitibanos, os padres da época, incluindo Frei Rogério, também fundaram uma escolinha para meninos do sexo masculino, à qual, também deram o nome de São José.

Em Lages, Frei Rogério Neuhaus teve um encontro registrado no seu diário com o monge João Maria de Jesus. Naquele tempo, os católicos chamavam os seguidores de João Maria de “fanáticos”, esquecendo-se de que no catolicismo também havia fanatismo. A diferença era que o catolicismo dispunha de um fanatismo formalizado, enquanto aqueles que seguiam os ensinamentos dos monges eremitas, não tinham condições para isso, pois a grande maioria era analfabeta.

Frei Rogério ficou conhecido em Curitibanos, por ir até o reduto de Taquaruçu conversar com os líderes dos caboclos, com a intenção de dissolver o ajuntamento de pessoas, no conflito social, denominado, posteriormente, de Guerra do Contestado. Ele foi agredido e ameaçado de morte.

Apesar dos reveses com os seguidores de José Maria (outro monge) no Taquaruçu, entre os católicos, foi muito querido e respeitado em todo o Planalto Catarinense. Da mesma forma que os monges, curava e receitava remédios à base de ervas caseiras, orações e benzimentos. 

De Curitibanos, em maio de 1914, foi transferido para Porto União da Vitória, e depois, para Palmas/PR. No ano de 1922, já quase cego, foi para São Paulo e em seguida, para o Rio de Janeiro, onde já totalmente cego, continuou atendendo os doentes, pobres e o povo em geral que o procurava. Era o confessor mais procurado da cidade, entre os demais padres. Aparentemente, a sua cegueira era de natureza patológica familiar, uma vez que o seu avô também ficara cego.

Viveu no Convento de Santo Antonio, no Rio de Janeiro. Faleceu, com 70 anos, no dia 23 de março de 1934, às 13 horas. A causa da sua morte, conforme o registro de óbito, foi “Neoplasma do recto, obstrução intestinal e insuficiência cardíaca”. Seu corpo foi sepultado no cemitério da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, no bairro Cajú, Rio de Janeiro.

Na cidade de Curitibanos, em sinal de agradecimento e lembrança pelos serviços prestados na Paróquia Imaculada Conceição, foi nominada uma via com o nome de Avenida Frei Rogério. Da mesma forma, o então prefeito de Curitibanos, Lauro Antonio da Costa, nominou uma rua no Distrito de Ponte Alta, hoje, município, com o nome de Rua Frei Rogério.

Em 4 de novembro de 1957, através da Lei Ordinária Estadual n.º 319/1957, foi aprovada a Lei Ordinária Municipal n.º 31/57 que criou o Distrito de Frei Rogério, em Curitibanos. Em 20 de julho de 1995, através da Lei Ordinária Estadual n.º 9896/1995, foi criado o município de Frei Rogério, desmembrado do território de Curitibanos. Cabe ressaltar que a localidade com o nome de Frei Rogério existia desde 1948.

Na cidade de Curitibanos e em outros lugares por onde o antigo padre andou, foram-lhe ofertadas homenagens. Existe em Curitibanos, a Fundação Frei Rogério, mantenedora das emissoras de rádio Coroado FM e Movimento FM; a Associação Beneficente Frei Rogério (asilo ou casa de repouso para idosos). Existiu também na cidade, o Hospital Frei Rogério.

Referências para o Texto:

Borken, North Rhine-Westphalia. Portal Wikipedia. On-line, disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Borken,_North_Rhine-Westphalia

Colônia Teresópolis. Portal Wikipedia. On-line, disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%B4nia_Teres%C3%B3polis

Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 31/57, cria o Distrito de Frei Rogério

Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 137/1951, denomina ruas em ponte Alta.

Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 99/1950, dispõe sobre dimensões, limites de ruas e avenidas de Curitibanos.

FELISBINO, Pedro Aleixo; TRISOTTO, Eliane Felisbino. Frei Rogério. Curitiba/PR: Gráfica — Blumen, 2008. 141 p.

Informações do FamilySearch. On-line, disponível em: https://www.familysearch.org/tree/person/details/MG88-32H

Registro de Batismo de Bernard Heinrich Neuhaus. On-line, disponível em: https://data.matricula-online.eu/en/deutschland/muenster/borken-st-remigius/KB016/?pg=386

Registro de Óbito de Frei Rogério Neuhaus. Portal FamilySearch. On-line, disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-DKR3-12K?i=137&cc=1582573&personaUrl=%2Fark%3A%2F61903%2F1%3A1%3A7M16-B23Z

Santa Catarina — Lei Ordinária Estadual n.º 319/1957. 

Santa Catarina — Lei Ordinária Estadual n.º 9896/1995.

SINZIG, Frei Pedro. Frei Rogério Neuhaus. Editora Vozes Ltda. Rio de Janeiro/RJ.