terça-feira, 30 de março de 2021

Henrique Paes de Almeida Filho


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


A seguir mostrarei os dados biográficos colhidos sobre o sétimo “Gestor Municipal” da cidade de Curitibanos. Henrique Paes de Almeida Filho, o “Henriquinho”, como ficou conhecido por muitos, era um dos filhos do Coronel Henrique Paes de Almeida Sênior, “o Velho Almeida”, como também era chamado naqueles tempos, o mesmo que foi o terceiro Gestor Municipal.

No ano de 1902 houve uma eleição de sufrágio universal para a escolha do próximo Superintendente Municipal, atendendo os preceitos da nova Constituição da República datada de 1891. Em Curitibanos, concorriam à vaga dois candidatos: Henrique Paes de Almeida Sênior, que já estava à frente administrativamente das tomadas decisórias do município desde a época da Proclamação da República (1889), e Francisco Ferreira de Albuquerque, que representava “sangue novo” na política local.

Mesmo vencendo a eleição nas urnas, o “velho Almeida” não logrou êxito em assumir a cadeira do Poder Executivo. Com a ajuda de políticos ligados a Albuquerque, foram computados votos a “bico de pena” na localidade de Canoinhas, que fazia parte do território curitibanense. Também foram anuladas algumas urnas em Curitibanos. Tudo para garantir a vitória de Albuquerque. Naquele tempo, havia algumas restrições para ser um eleitor e ter direito a voto, como, por exemplo, ser alfabetizado, ter renda ou posses e ser homem. Essas regras eram regidas pela Lei Saraiva, que instituiu pela primeira vez, o Título de Eleitor. A taxa de analfabetos no Brasil beirava 80%, por essa razão, a maioria da população era privada de poder escolher os representantes nas esferas municipais, estaduais e na presidência da república. O voto denominado “bico de pena” consistia na seguinte prática. Aos eleitores era apresentado um livro de assinaturas. Nesse livro, os eleitores escreviam apenas o nome do candidato, conforme instruídos pelo mesário ou responsável pelo recolhimento das assinaturas. No caso da eleição de 1902, no Distrito de Canoinhas, todos os eleitores escreveram o nome de Francisco Ferreira de Albuquerque no livro, sem o uso de nenhuma cédula ou opção de escolha. Mesmo com essa artimanha, a vitória daquele pleito, foi do Coronel Henrique Paes de Almeida Sênior. Em seguida, como alternativa estratégica ou Plano “B”, o Deputado Estadual e também Coronel da Guarda Nacional, Vidal José de Oliveira Ramos Júnior, que tinha forte influência política na região, conseguiu anular algumas urnas em Curitibanos, dando dessa forma, a vitória ao seu “pupilo” Albuquerque.

Em solidariedade ao pai, essa eleição criou forte inimizade entre Albuquerque e Henriquinho. Tanto, que alguns historiadores afirmam que no final de julho de 1912, ao deslocar-se da Fazenda do Coronel Francisco de Almeida no Espinilho, até a localidade de Taquaruçu, interior de Curitibanos, o monge José Maria, com a sua comitiva, antes, foi até as margens do Rio Correntes no Guarda-Mor, onde a família de Henriquinho tinha a sua principal fazenda, Foi alardeado posteriormente que os dois fizeram um acordo de oposição política a Albuquerque. Alguns ainda afirmaram, que Henriquinho presenteou o monge com a sua espada da Guarda Nacional. Deram-lhe também um cavalo muito bonito e bem treinado para a viagem até o Taquaruçu. Isso tem certa lógica, pois há relatos que “no momento em que a comitiva do monge chegou em Taquaruçu, ao chegar numa campina nos arredores da pequena vila, José Maria fez um sinal para os que o seguiam. Todos pararam repentinamente. Tirou do seu cinto uma espada, com a estampa da coroa do império. Ele não descuidava nunca dessa espada. Sempre estava junto dele. Mandou todos se formarem em fila, como militares treinados em ordem unida. Fazendo o cavalo empinar, ficando em dois pés, bradou:

ー Viva a monarquia! ー Por diversas vezes, acompanhado por todos.

Assim entraram naquele povoado, sob a euforia de todos pela presença do monge. A festa de Bom Jesus estava marcada para o próximo dia 6 de agosto, uma terça-feira”.

A mãe de Henrique Paes de Almeida Filho se chamava Felicidade Placidina de Almeida. A família morava na fazenda, nos campos do Guarda-Mor, a principal ocupação era a criação de gado para o comércio, principalmente na região de Sorocaba, interior de São Paulo, de onde a família Almeida era originária.

Henriquinho nasceu em 9 de abril de 1881 na cidade de Sorocaba/SP. Casou-se com Virgínia Rodrigues. O casal teve um filho, ao qual deram o nome de Alzerino Waldomiro de Almeida.

Tal como o pai, também fez parte da Guarda Nacional, ocupando o posto de Tenente Coronel. Da família, alguns irmãos também se tornaram famosos em Curitibanos, sendo homenageados com nomes de ruas na cidade: Simpliciano Rodrigues de Almeida, Graciliano Torquato de Almeida, Fermiano Rodrigues de Almeida.

Governou Curitibanos desde 1.º de janeiro de 1923 até outubro de 1930, quando houve a revolução de 1930 e, consequentemente, o início da era Vargas, também o início da “segunda república”. Daquela data em diante, em algumas gestões subsequentes, os prefeitos, como seriam agora chamados os gestores municipais, foram, em alguns casos, nomeados e raramente, eleitos por sufrágio universal. Essa prática perdurou até o final dos anos 1940.

Com a Revolução de 1930 e o início da “Era Vargas”, criou-se a figura do Prefeito e instituiu-se a “Prefeitura”, à qual, como acontecia com a intendência municipal, continuaram a ser atribuídas as funções executivas do município. O Prefeito, a partir da Constituição de 1934, passou a ser escolhido pelo povo, mas, durante os vários períodos ditatoriais da história do Brasil, por vezes, o cargo voltou a ser preenchido por apontamento dos governos federal ou estadual.

Dentre os feitos de destaque da gestão de Henrique Paes de Almeida Filho, destacou-se a construção do prédio da nova Superintendência, que se transformou no prédio da nova Prefeitura, visto que os nomes foram alterados. Na Constituição de 1934, uniformizou-se o nome ou o título do gestor municipal como “Prefeito”. A construção do novo prédio fez-se necessária porque Curitibanos não possuía uma sede própria e definitiva que abrigasse o pessoal da administração pública, visto que a antiga sede fora destruída no incêndio de 1914. 

No dia 5 de abril de 1927, na sala provisória da Superintendência, instalada onde hoje está o antigo prédio do Cine Teatro Monte Castelo, na esquina da Rua Coronel Vidal Ramos com a Rua Coronel Albuquerque, por volta do meio-dia, foram entregues três envelopes, contendo três propostas para a construção do novo prédio, por três pessoas que tinham tal objetivo. Eram elas: Carlos Waghenfür, Ricardo Lemser e João Popinhak. Um mês após, o Coronel Henrique Paes de Almeida Filho escolheu a proposta de João Popinhak.

Dois anos depois, em 30 de março de 1929, encontramos um requerimento de João Popinhak solicitando ao Superintendente “um prazo longo” para poder concluir a edificação. Segundo as suas alegações pela demora da construção, ele tinha dificuldades de transportar areia do Rio Marombas em cargueiros, utilizando mulas, visto que não havia estradas carroçáveis. Outra dificuldade apontada foi a de aquisição e transporte de cal e cimento na cidade de Rio do Sul, alegando mais uma vez, a deficiência das estradas carroçáveis e quase que intransitáveis. O Superintendente deu cinco meses de prazo para a conclusão do prédio, sob ameaça de execução das penas estipuladas no contrato.

O prédio foi concluído para o uso do Poder Executivo e Legislativo. Ficou bonito, talvez figurasse entre as mais bonitas e suntuosas sedes administrativas municipais do Estado na época. Não havia pavimentação alguma nas ruas, por isso elas eram cuidadosamente varridas diariamente por funcionários da própria Superintendência. Esse prédio abrigou a sede da prefeitura até o ano de 1970, quando o prefeito Wilmar Ortigari inaugurou um novíssimo edifício. Consequentemente, o prédio que serviu por 40 anos como sede da Superintendência e Prefeitura foi desocupado temporariamente.

Hoje, em 2021, 92 anos após a sua conclusão, a obra ainda está em pé. Agora é a sede do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. Está passando por uma revitalização e ampliação. Curitibanos tem história e merece um lugar especial para acomodá-la.

No dia 28 de maio do ano de 1932, Henrique Paes de Almeida Filho saiu de sua casa com destino à sua fazenda que ficava no Guarda-mor, ele sempre levava dois cachorros para protegê-lo e dar algum tipo de alarme. Ao passar pela Fazenda do Butiá, foi alvejado e assassinado. A sua morte é um mistério até os dias atuais, pois nunca foi descoberto quem cometeu tal crime. Estava afastado da vida pública com a Revolução de 1930. Se dedicou nos dois últimos anos da sua vida à pecuária.

Foi sepultado no antigo cemitério de Curitibanos. Após o falecimento de Henrique Paes de Almeida Filho, sendo ele o último homem a administrar a vila de Curitibanos com o título de Superintendente Municipal, a cidade entrou numa nova etapa ou ciclo. O novo administrador teve o título de Prefeito. Não era membro da família Almeida que, de uma maneira ou outra, esteve à frente da administração municipal desde os primórdios da sua fundação. Com o novo prefeito, a vila de Curitibanos e sua Comarca, ganhou o status de cidade. Agora não seria mais chamada de vila de Curitibanos e sim, de Cidade de Curitibanos. Isso era assegurado por lei.

No dia 9 de agosto de 1950, o prefeito municipal Salomão Carneiro de Almeida, através da Lei Ordinária n.º 99/1950 dispôs do limite e dimensões da Rua Henrique de Almeida. A Rua foi criada em homenagem ao antigo Superintendente Municipal.




Referências para o texto:


Almanak Laemmert - 74° Anno - 2° Volume - Estados - 1918 - p. 4198-9.

Imagem: Pedro Pinchas Geiger e Tibor Jablonsky - disponível em www.biblioteca.ibge.gov.br

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/mapas/GEBIS%20-%20RJ/SG-22-Z-C-I.jpg Fonte: Almanak Laemmert - 74° Anno - 2° Volume - Estados - 1918 - p. 4198.


Ata de Inauguração do Museu Histórico Municipal. Nº 1.


BRASIL IMPÉRIO. Lei de 18 de agosto de 1831 - Crea as Guardas Nacionaes…


BRASIL IMPÉRIO. Decreto nº 4.356, de 24 de abril de 1869. Dá regulamento para a cobrança dos emolumentos das Repartições Públicas.


BRASIL IMPÉRIO. Decreto nº 3.029, de 9 de janeiro de 1881, Lei Saraiva, instituído o Título de Eleitor,...


CURITIBANOS. Lei Ordinária nº 99/1950, Dimensão e limites da Rua Henrique de Almeida.


Imagem: Pedro Pinchas Geiger e Tibor Jablonsky - disponível em www.biblioteca.ibge.gov.br


LEMOS, Zélia de Andrade. Curitibanos na história do contestado. Edição do Governo do Estado de Santa Catarina, 1977. Curitibanos.


LEMOS, Zélia de Andrade. Curitibanos na história do Contestado, 2ª ed. Curitibanos: Impressora Frei Rogério, 1983, (páginas 184-185).


Lista de Prefeitos de Curitibanos. Portal Wikipédia. On line: Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_prefeitos_de_Curitibanos


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TAMBOSI, Frei Valentim. Franciscanos em Curitibanos. São Paulo: Edições Loyola, 1993.

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