Nas páginas da tradição em que figuram as personalidades que marcaram a
evolução histórica de Curitibanos, merece inclusão à figura largamente
conhecida e inesquecível de João Popinhak.
João nasceu na Ucrânia, no ano de 1886, com oito anos de idade, ou seja,
em 1894, acompanhando seus pais, veio para o Brasil, juntamente com uma leva de
emigrantes. Desembarcaram num porto do Estado do Rio de Janeiro, permanecendo
no local aguardando oportunidade para viajarem para o Estado do Paraná, onde se
localizaria na Colônia Antonio Olinto, município de Três Barras.
Durante a permanência no Estado do Rio de Janeiro, grandes dificuldades
atormentaram aquela gente que, embora sob a proteção do governo brasileiro,
eram mal e precariamente atendidos em suas necessidades. Faltava-lhes o mínimo
de conforto e condições de higiene e de alimentação, sobrevindo daí grave
epidemia que, espalhando atribulações e sofrimentos acabaram por dizimar com a
morte de grande parte desses destemidos emigrantes.
A família Popinhak, felizmente, escapara sã e salva da devassadora
acometida da epidemia, guardando, porém, indelével as trágicas recordações dos
acontecimentos.
Chegados à colônia paranaense, o casal Popinhak e o menino João,
dedicaram-se as lides da agricultura e da erva-mate.
João era o filho mais velho da família, que mais tarde se tornara
numerosa, exigindo dos pais que eram pobres, grandes esforços e dificuldades
para a sua manutenção.
Nessa época costumava fazer passagens pelo local, o tropeiro Francisco
Carvalho, vulgo Chico Ruivo, de Curitibanos, lá fazendo os seus pernoites ou
sesteadas e fazendo assim, relações de amizade com a família Popinhak.
O menino João, serviçal e ativo, era alvo da atenção do tropeiro que
certo dia resolveu convidá-lo para vir morar em Curitibanos. O menino
alegrou-se com a perspectiva da aventura e, com o consentimento dos pais, veio
morar com Chico Ruivo, onde fora admitido como membro da família. Tinha, então,
a idade aproximada de 10 a 12 anos. Na casa de seu novo pai de adoção João
Popinhak, graças aos seus pendores para o trabalho e suas dignas qualidades
morais, granjeou no mais alto grau, a simpatia, a confiança e a estima da
família Carvalho em cujo seio cresceu e formou a sua personalidade. Ali
trabalhava nas lides da fazenda, tendo sido mais tarde encarregado dos próprios
negócios do seu amo, conduzindo tropas de cargueiros, geralmente para o litoral
do Estado, onde vendia, trocava e comprava mercadorias, fazendo todo gênero de
negócios, sempre lucrativos, merecendo cada vez mais a consideração da família
em que vivia.
Era de arrebatar o espírito, o relato que fazia dessas viagens, através
de caminhos quase intransitáveis, enfrentando intempéries varando campos e
matos onde a ferocidade dos índios era um perigo constante. Várias caravanas de
tropeiros foram dizimadas pelos bugres naqueles tempos. João Popinhak,
entretanto, segundo ele, já era conhecido dos indígenas e, como jamais lhes
fizera mal, era por eles respeitado. Via os bugres, conforme dizia escutava
suas vozes e os cumprimentava gesticulando em demonstrações pacíficas,
tratando-os de ‘compadres’ em voz alta que reboava na mata. Parece que os
índios entendiam o sentido daquelas manifestações e respondiam com outros gritos
selvagens. E a tropa passava calmamente e sem problemas. E fez muitíssimas
vezes essas viagens arriscadas, transpondo a “serra dos Pires”, o lugar mais
habitado pelos bugres e mais propício aos seus costumeiros ataques traiçoeiros,
onde se verificavam trincheiras que denunciavam esperas de tocaia que eram
cortadas a facão para se abrir à passagem para a tropa. Quantas e quantas
noites pousavam em lugares infestados pelos selvagens, em plena mata, montando
guarda ao acampamento para prevenção contra possível assalto dos bugres que
rondavam o pouso, cujos vultos apareciam por vezes entre as clareiras da mata
assustando os animais e enchendo de apreensões os tropeiros.
Popinhak contava as histórias dessas viagens como ocorrências saudosas
nas passagens de sua vida.
Nos serviços da fazenda, Popinhak era um braço hábil e forte. Afora as
viagens de negócios, quando se encontrava em casa, além de cuidar dos serviços
gerais da vida do sítio, dedicava-se ainda e com rara habilidade a confecção de
cestos, bruacas e cangalhas. Mais tarde, passou a construir ranchos, galpões e
casas residenciais, tornando-se, com o correr do tempo, um exímio artífice da
madeira trabalhada. Foi recatado carpinteiro, hábil marceneiro e verdadeiro
arquiteto nas construções de alvenaria. Várias construções ainda hoje
existentes na cidade de Curitibanos, como a casa localizada a Rua Cel. Vidal
Ramos, 380, e no interior do Município, inclusive a primeira superintendência
municipal, são obras que atestam a sua capacidade de trabalho e que por muitos
anos ainda marcarão a passagem de Popinhak por Curitibanos.
A sua capacidade de trabalho e seu pendor artístico proporcionaram-lhe a
independência e o tornaram conhecido e popular em todo o município e até fora
dele, sendo muito solicitado por todos que dele precisavam para a execução de
serviços de sua especialidade.
Em 1911, casou-se com Laura Quadros de Andrade, filha de Salustiano
Pinto de Andrade e Queribuna Quadros de Andrade, tradicional família
curitibanense.
Morou em Curitibanos por muitos anos, vindo a transferir residência para
localidade de Marombas, onde se instalou com casa de comércio e hotel,
cuidando, ainda, da balsa, por ele construída, que dava passagem sobre o Rio
Marombas. Seu hotel era muito frequentado, pelo clima acolhedor que ali
reinava, reflexo da simpatia do casal proprietário, pelas boas camas, com
cobertas de penas e pela excelente comida preparada pelas mãos hábeis de Dona
Laura.
Mitomaníaco, inveterado, Popinhak tornou-se célebre pelas mentiras que
tão graciosamente sabia pregar. Suas petas, tão habilmente arquitetadas
ganharam nome e se passavam de boca em boca, fixando-se como assuntos alegres
das conversas populares. Tinha ele um jeito todo especial de contá-las e o
fazia com toda seriedade, despertando o interesse do ouvinte que o escutava
série e atento. Caindo na realidade após o desenlace da estória, uma risada
tardia, ainda tímida, mas alegre aflorava nos lábio do ouvinte, enquanto que
Popinhak, tentando manter a austeridade deixava transparecer no semblante de um
riso mal contido.
Quem não conhece, entre os curitibanenses, a famosa patranha do revolver
de Nereu Ramos? O governador Nereu Ramos perdera nas águas do Rio Marombas, um
revolver que lhe caíra das mãos quando o experimentava sobre a ponte, quando
por ali passava de uma viagem que fazia ao interior do Estado. Certo tempo
depois, João Popinhak, pescando uma grande traíra, encontrou no seu bucho, o
revolver do governador. Queixava-se, todavia, porque, tendo devolvido o
revolver, não recebera do seu dono nem uma simples palavra de agradecimento.
De outra feita, pela ocasião da guerra dos fanáticos, diante da ameaça
de que os jagunços iriam incendiar a cidade, Popinhak fugiu com a família, indo
morar na localidade de Aquidaban (Hoje, Apiúna), onde morou por vários anos.
Ao sair de Curitibanos, vendeu todo o gado que possuía, levando consigo
os animais de montaria, deixando vazio um potreiro, bem fechado com arame
farpado, para cuja cerca tinha aproveitado como palanques os pinheiros novos
que ali existiam com abundância. Anos mais tarde, quando voltava a sua velha
propriedade Popinhak procurou o potreiro para ver em que estado se encontrava,
mesmo porque pretendia colocar os animais que trazia. Não conseguiu localizar o
que procurava, pois não encontrou nem o potreiro, nem a cerca. Ficou pasmado,
pois o vestígio de um velho caminho identifica o local como sendo ali mesmo.
Olhou e re-olhou, rebuscou e nada de cerca. Desanimado, volveu o olhar para o
alto e lá viu, ainda em perfeita ordem, a cerca de arame nas pontas dos
pinheiros que havia crescidos.
Eram dessa ordem as suas estórias, com as quais granjeou simpatia e
popularidade a ponto de atrair visitas que propositadamente o procuravam para
ouvi-lo. E era grande o seu repertório, afora as que arquitetava de improviso e
que contava com aquela calma e simplicidade que lhes eram características e
próprias dos espíritos pacatos e das consciências tranquilas.
Nesse ambiente tranquilo e de alegre fraternidade vivia João Popinhak, a
todos distribuindo bondade. A sua mesa sentou-se muitos necessitados e a
ninguém jamais negou os favores de seus serviços.
Texto de Juvenal B. Bacelar
Colaboração de Sebastião Luiz Alves
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Texto de Juvenal B. Bacelar
Colaboração de Sebastião Luiz Alves
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João Popinhak nasceu na Ucrânia no ano de 1886. Filho de Alexandre Popiwniak e Anna Tataren. Na Europa, a forte propaganda, a crise social, política e rural fizeram os pais emigrarem para o Brasil em 1894. Desembarcaram no Porto do Rio de Janeiro, aguardaram na quarentena. O descaso dos agentes da alfândega, não atendendo às necessidades de higiene e a precária alimentação, iniciou uma epidemia de tifo acabando por dizimar grande parte dos emigrantes. Finda a quarentena, a família Popinhak seguiu para a Colônia Antônio Olinto, no interior do Paraná.
Dedicaram-se à agricultura e extração de erva-mate. João era o filho mais velho, que no decorrer dos anos se tornou numerosa, exigindo muito esforço e dificuldade na manutenção da família.
A comitiva de Francisco Teixeira de Carvalho - Chico Ruivo sempre pernoitava na propriedade dos Popinhak, com tropas de muares e gado tendo o destino, a Feira de Sorocaba - SP. Em uma dessas tropeadas, entre os anos de 1896/1898, Chico Ruivo vendo a situação crítica que passavam, acerta com Alexandre e adota o menino João como membro da família, o trazendo para Curitibanos. Nessa parte existe outra versão, não confirmada oficialmente, que João foi vendido, fato comum naquela época.
João aprendeu as lidas campeiras na fazenda dos Carvalhos, mais tarde foi encarregado de conduzir tropas de cargueiros com destino ao litoral catarinense, onde vendia as mercadorias, trocava e comprava produtos para consumo da família e abastecia os armazéns da região. Além de confeccionar cestos, bruacas e cangalhas, auxiliava João Batista Pozzo na montagem da serraria de Chico Ruivo no Campo da Roça, ampliando o seu conhecimento. Construiu ranchos, galpões e casas, tornando-se com o tempo, um excelente carpinteiro e marceneiro (Casa dos Ortigari/Magalhães e antiga Prefeitura, hoje o Museu).
Casou-se com Laura Quadros de Andrade no dia 08 de junho de 1913, filha de Salustiano Pinto de Andrade e Cherubina Quadros de Andrade, vindo a transferir residência para a localidade de Marombas, onde instalou armazém e hotel, cuidando ainda da balsa, por ele construída, que dava passagem sobre o Rio Marombas.
João tornou-se célebre pelas famosas mentiras que tão graciosamente sabia pregar: a grande traíra que pescou, nela encontrou o revolver do Governador Nereu Ramos. Com fundo de verdade (ilustrava), a dos violentos índios do Morro do Taió. Os índios canibais da Serra dos Pires. Antes do ataque e incêndio de Curitibanos pelos caboclos na Guerra do Contestado em 1914, vendeu o gado e os cavalos, fugindo com a família para Aquibadã (Apiúna), onde ficou por vários anos. Quando retornou não encontrou vestígios da casa, potreiro, as cercas e muitas outras bem arquitetadas.
O casal não teve nenhum filho legítimo, mas adotam 13 filhos alheios, criando-os com carinho e dando uma vida melhor. Esses filhos vieram amparar o casal na velhice. Laura faleceu em 1962 em Curitibanos, o fato deixou desconsolado, resolveu voltar para a cidade e morar com uma das filhas adotiva. João Popinhak adoeceu e ficou acamado por mais de um ano. Acabou falecendo em 27 de janeiro de 1971. Entretanto, ainda vive nas memórias dos curitibanenses que o conheceram.
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