terça-feira, 1 de julho de 2025

José Vieira da Rosa


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Nascido em 1.º de setembro de 1869 em São José da Terra Firme (atual São José, Santa Catarina), José Vieira da Rosa era filho de José Vieira da Rosa e Rita Flora Xavier da Câmara, membros de famílias tradicionais catarinenses (Vieira da Rosa e Câmara). Sua infância foi marcada pela adversidade: aos seis anos, perdeu o pai (1875), e a família, apesar da nobre ascendência, enfrentou dificuldades financeiras.

Aos 18 anos (1887), iniciou sua carreira militar alistando-se na Companhia de Infantaria de Santa Catarina, vinculada ao 17.º Batalhão de Infantaria. Seu talento e disciplina lhe garantiram ingresso, no ano seguinte, na Escola Militar do Rio Grande do Sul, onde se destacou como aluno exemplar.

Sua trajetória ganhou relevância durante a Revolução Federalista (1893-1895), quando demonstrou bravura em combates decisivos como os de Araranguá, Tubarão e Laguna, recebendo repetidos elogios de seus superiores por liderança e coragem.

Casou-se em 23 de novembro de 1901 com Júlia Bárbara Weber, filha de imigrantes alemães, com quem teve pelo menos seis filhos. Sua vida conjugal foi itinerante, acompanhando a movimentada carreira militar e exploratória do marido.

Ao longo dos anos, José Vieira da Rosa tornou-se não apenas um militar de alta patente, mas também um profundo conhecedor do interior catarinense, tornando-se sertanista e cartógrafo respeitado. Em 1909, foi nomeado chefe da Carta Itinerária de Santa Catarina, e em 1910, Inspetor dos Índios. Seus levantamentos geográficos e etnográficos da região o tornaram referência técnica no mapeamento e conhecimento do estado.

Sua atuação na Guerra do Contestado (1912–1916) foi um marco decisivo em sua carreira. Com profundo conhecimento da geografia, das lideranças locais e da realidade social do sertão, Vieira da Rosa atuou tanto como combatente quanto como negociador e “pacificador”. Participou dos combates de Taquaruçu e Caraguatá, sendo várias vezes louvado por bravura, disciplina e liderança, inclusive por oficiais como General Fernando Setembrino de Carvalho. Sua atuação ajudou a moldar o desfecho da campanha contra os redutos contestadores.

Paralelamente à vida militar, destacou-se como intelectual, memorialista e geógrafo. Sua obra magna, a “Corografia de Santa Catarina”, escrita ainda como alferes, é um compêndio detalhado da geografia, flora, fauna, economia e cultura do estado. Apresentada ao Congresso Brasileiro de Geografia em 1910, foi considerada uma das mais relevantes obras de geografia do início do século XX. Suas ilustrações, mapas e análises refletem o cuidado metódico de um estudioso e profundo conhecedor do território catarinense.

Alcançou as mais altas patentes militares, sendo promovido a major (1916), tenente-coronel (1920), coronel (1922) e reformado como general de divisão graduado em 1923, após mais de 40 anos de serviço.

Na vida política, envolveu-se com a Reação Republicana (1922) e movimentos tenentistas. Em 1924, organizou uma tentativa de sublevação no planalto catarinense em apoio à Coluna Prestes, mas sofreu um grave acidente de automóvel durante a operação, fraturando o crânio. A conspiração fracassou, e Vieira da Rosa foi preso. Libertado no ano seguinte, voltou a Florianópolis, mas sua saúde e prestígio político haviam sido abalados.

Ainda assim, manteve-se ativo como pensador político. Na década de 1930, filiou-se à Ação Integralista Brasileira, por afinidade com os ideais nacionalistas, militares e centralizadores. Em 1936 foi candidato a vereador pelo Partido Liberal Catarinense na cidade de São Joaquim, Santa Catarina. Em 1945, chefiou uma expedição à região do Roncador, a convite de Cândido Mariano da Silva Rondon, demonstrando seu contínuo interesse pela exploração e estudo do território nacional. Em 1947, candidatou-se ao Senado pelo Partido de Representação Popular, mas não foi eleito.

José Vieira da Rosa foi também artista autodidata, gravador e ilustrador, e colaborador da imprensa local, com artigos publicados em jornais como A Gazeta de Curitiba. Era conhecido por seu temperamento impulsivo, honestidade intransigente e críticas contundentes ao clero, à oligarquia e à burocracia militar. Ao mesmo tempo, cultivava um olhar de respeito e admiração pela cultura cabocla e pelo sertanejo brasileiro, inspirando-se na visão euclidiana.

Faleceu em 8 de fevereiro de 1957, no Rio de Janeiro, aos 87 anos. Foi sepultado em São José, sua terra natal, deixando um legado ímpar como militar combatente, historiador do Contestado, explorador do território catarinense e autor de uma das mais importantes obras geográficas do Brasil.

Em sua homenagem, diversas localidades de Santa Catarina batizaram ruas e escolas com seu nome, incluindo instituições em Florianópolis, Palmitos, São Joaquim e São José. O Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC) instituiu o Prêmio José Vieira da Rosa de Geografia, destinado a premiar estudos relevantes sobre o estado.

Sua vida reflete a complexidade e as transformações do Brasil republicano entre os séculos XIX e XX, unindo bravura militar, erudição científica e militância ideológica em uma trajetória singular e exemplar.



Referências para o texto:


Leis Estaduais


Leis Municipais


Memórias : General Vieira da Rosa : participação na Guerra do Contestado / [organização editorial Augusto César Zeferino, Gunter Axt, Helen Crystine Corrêa Sanches]. – Florianópolis ; MPSC, 2012. 219 p.


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