quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Jaime Dias de Carvalho


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Jaime Dias de Carvalho foi, segundo os familiares, o primeiro Oficial de Justiça a trabalhar nomeadamente em Curitibanos. A informação está estampada no Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, edição n.º 3.783, datada de 13 de setembro de 1948, onde há relato sobre a sua nomeação: ‘De acordo com o art. 169, do Decreto-Lei n.º 431, de 19 de março de 1940: Jaime Dias de Carvalho para exercer o cargo de Oficial de Justiça do Juízo de Direito da Comarca de Curitibanos’. Exerceu com maestria a função até ser promovido através da Lei n.º 689, de 8 de julho de 1952.

Nascido em Curitibanos no ano de 1893, filho de Francisco Teixeira de Carvalho e Amália Dias Colônia, esteve ligado à área jurídica, talvez por influência do avô, o Juiz de Direito Bráulio Rômulo Colônia. Casou-se com Nolviria Fabricia Vieira no dia 1.º de março de 1914, na localidade denominada na época de Butiá, comarca de Curitibanos. O casamento foi realizado na residência do pai de Nolviria, o Capitão da Guarda Nacional Dorval José Pereira. O Juiz de Paz iniciou os trabalhos às 13:00 horas, com a presença de testemunhas e também da senhora Benedicta Fabrício Vieira, esposa de Dorval e mãe de Nolviria. Na ocasião, a noiva tinha 16 anos, ainda uma moça, transparecendo a sua jovialidade, quase mulher. Do casamento, nasceram seis filhos e filhas, que foram importantes no desenvolvimento de Curitibanos.

Seis anos depois, o casamento foi dissolvido devido a uma notícia que chegou aos ouvidos de Jaime, contada por sua irmã Maria Theresa. De acordo com ela, enquanto Jaime viajava a serviço ou negócios, Nolviria estava tendo um caso extraconjugal com um empregado do casal. Apesar da negativa veemente de Nolviria e de nunca nada ter sido provado, Jaime abandonou a esposa, que na época tinha 22 anos, e espalhou os seis filhos para outras famílias criarem. Ele deu à esposa uma vaca e uma trouxa de roupas e a levou para a casa do sogro. Eles tinham uma filhinha de nome Orminda, que na época tinha seis meses e ainda mamava no peito. Jaime proibiu Nolviria de ver os filhos, forçando o desmame da filha. Isso abalou muito a esposa, que nunca o perdoou.

Após esse incidente, ocorrido por volta de 1920, não demorou muito para encontrarmos informações de que Jaime estava vivendo com uma mulher que ele conheceu enquanto viajava para o litoral de Santa Catarina, de nome Maria Krieger. Dessa união nasceram outros filhos e filhas, totalizando, conforme o registro de óbitos, doze. O número não é preciso, porque além dos citados no documento do cartório de registro civil, ainda apareceram outros nomes. Maria Krieger também tinha dois filhos antes de conhecer Jaime, os quais não foram criados com os filhos de Jaime.

Talvez seja verdade que Jaime Dias de Carvalho tenha sido o primeiro Oficial de Justiça do Juízo de Direito da Comarca de Curitibanos, pois não foi encontrado nenhum outro nome antes da sua nomeação, ocorrida em 1948. Antes de exercer essas funções, era tropeiro, como a maioria dos homens da família Carvalho.

Nos primeiros anos da década de 1950, adoeceu com câncer. Solicitou à sua filha, Aurora, que tinha o apelido de Lola, para chamar a sua primeira esposa Nolviria, à qual queria pedir perdão. Nolviria nunca foi visitá-lo no seu leito de morte. Aparentemente, nunca o perdoou, pois ela faleceu negando que havia traído o marido. Quanto a Maria Krieger, também o abandonou nos seus derradeiros dias. Conforme as lembranças de um dos filhos, Jorge Luiz de Carvalho, antes da doença, a família vivia numa situação de pobreza, pois a casa onde moravam era cheia de frestas e chovia, literalmente, mais dentro do que fora. Dessa forma, com a doença de Jaime, não houve outra alternativa a não ser mudá-lo para a casa de uma filha. Faleceu no dia 2 de janeiro de 1955, às 3 horas da madrugada, na residência da filha Aurora Carvalho Calomeno, localizada na Rua Henrique de Almeida Sênior, em Curitibanos. O diagnóstico da causa da sua morte foi ‘câncer no duodeno’. O sepultamento foi realizado no antigo cemitério municipal de Curitibanos, próximo à Praça Nereu Ramos, tendo posteriormente seus restos mortais removidos para o Cemitério Público Municipal São Francisco de Assis de Curitibanos. As duas esposas, Nolviria e Maria, permaneceram pobres e passaram privações em suas vidas após o falecimento de Jaime.

A situação da senhora Nolviria Fabrício Vieira de Carvalho ficou um tanto complicada depois do falecimento de Jaime. Encontramos que no dia 21 de dezembro de 1972, através do Decreto N/SEJ, o governador do Estado de Santa Catarina, na ocasião, o senhor Colombo Machado Salles, concedeu à dona Nolviria, viúva de Jaime Dias de Carvalho, uma pensão monetária mensal. O pagamento de tal pensão somente seria encerrado em caso da mudança do estado civil ou a cessação do estado de pobreza da beneficiária.

Maria Krieger ficou sem condições de prosseguir com a criação das crianças, dando-as para parentes e pessoas estranhas, mas de confiança, para serem criadas. Depois, não tendo muitas esperanças, desceu para o litoral, para perto dos seus familiares, onde faleceu.

No dia 19 de setembro de 1980, o então prefeito de Curitibanos, Wilmar Ortigari, no uso das suas atribuições, através da Lei Ordinária Municipal n.º 1463/1980, denominou uma rua da cidade com o nome de ‘Rua Jaime Dias de Carvalho’, localizada nos limites do centro com o bairro São José.



Referências para o Texto:


Com informações de Aldair Goeten de Moraes


Com Informações de Iracema Carvalho Righês


Com informações de Grazielle Izamara de Carvalho


Com informações de Jorge Luiz de Carvalho


Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 1463/1980. Denomina vias públicas e dá outras providências.


Fotografia do acervo da família


Santa Catarina — Diário Oficial do Estado de Santa Catarina. Ano XV, ed. 3.746, de 19 de julho de 1948. P. 1.


Santa Catarina — Diário Oficial do Estado de Santa Catarina. Ano XV, ed. 3.783, de 13 de setembro de 1948. P. 1.


Santa Catarina — Diário Oficial do Estado de Santa Catarina. Ano XVII, ed. 4.250, de 1.º de setembro de 1950. P. 1.


Santa Catarina — Diário Oficial do Estado de Santa Catarina. Ano XIX, ed. 4.716, de 11 de agosto de 1952. P. 2.

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