Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Georg Knoll nasceu em 23 de setembro de 1861 em Kronberg, Taunus, Alemanha, seus pais se chamavam Ida Monken e Christian Knoll, eram, por profissão, a mãe, poetisa e o pai, professor da Escola Politécnica de Frankfurt. Sua estreita relação com a natureza começou na adolescência, quando trabalhou no Palmengarten de Frankfurt am Main (Jardim Botânico de Frankfurt). Posteriormente, estudou botânica em Geisenheim, na região de Rheingau, à margem direita do Reno, retornando ao Palmengarten de Frankfurt após concluir os estudos. Sua permanência no Palmengarten foi interrompida devido a problemas respiratórios causados pelo ar úmido da estufa onde trabalhava. Após uma estada em Würzburg, Baviera, foi aconselhado pelos médicos a se mudar para um país de clima mais quente, o que o trouxe, aos dezenove anos, no ano de 1880, para o Brasil, acompanhado de um de seus irmãos. Algum tempo depois, sua mãe e demais irmãos também se estabeleceram no sul do país, no estado de Santa Catarina.
Inicialmente, estabeleceu-se em Blumenau, mas em seguida, peregrinou por todo o Estado, trabalhando como agricultor, capataz de fazenda, jardineiro e professor primário, até se estabelecer como comerciante, em Painel, no ano de 1889. Em 1895, tornou-se professor da escola pública para alunos do sexo masculino na antiga vila de Campos Novos. Em agosto de 1901, sofreu um atentado contra a sua vida em Campos Novos. Escreveu um artigo sobre esse atentado para o Jornal O Imparcial. No artigo ele fez críticas sobre como a justiça local tratou do assunto, bem como das falhas no processo de investigações. Foi professor público estadual e, simultaneamente, fundou com um grupo de amigos a loja maçônica Kraft und Einigkeit (Força e Unidade). No ano de 1902, foi transferido para Curitibanos, onde atuou na mesma profissão na escola pública para alunos do sexo masculino na vila de Curitibanos. Sendo posteriormente, nomeado promotor publico da cidade.
Os primeiros anos no Brasil foram difíceis para Knoll e sua família, marcados por adaptação e muito trabalho. Aqui, teve o seu primeiro nome alterado para Jorge, exerceu várias profissões: foi professor nas colônias alemãs, comerciante, participou da Revolução Federalista, como já citado, tornou-se professor municipal em Campos Novos e, em seguida, professor público de Santa Catarina, galgando rapidamente vários degraus do funcionalismo público. Knoll também exerceu as profissões de promotor público, advogado e escritor.
Poeta e cronista, Knoll publicou, especialmente entre 1893 e 1902, várias narrativas e poemas em língua alemã no Rotermund Kalender (Kalender für die Deutschen in Brasilien), de São Leopoldo, bem como em jornais e publicações em língua alemã, como Blumenauer Zeitung, Kolonie Zeitung, Uhles Kalender, entre outros, até pouco antes de falecer, em 1949. Segundo Manfred Kuder, ‘As muitas decepções e amarguras deixaram suas marcas em sua produção ficcional; não é que ele tenha se tornado pessimista, mas sua lírica é dominada por um profundo tom elegíaco’, sendo que ‘o foco é a colonização alemã, e ela tem como pano de fundo a natureza brasileira convertida em lugar civilizado’…
Jorge Knoll em 6 de dezembro de 1902, fez a doação de um calendário em alemão para os redatores e proprietários do Jornal O Imparcial de Lages. O agradecimento veio em forma de nota na edição n.º 77 daquele periódico. O calendário tinha o nome de “Kalenderfiir die Deutschen in Brasilien” (Calendário dos alemães no Brasil). No ano de 1903, Knoll presenteou esses mesmos profissionais da imprensa com um almanaque para o ano de 1903, intitulado “Der Volks-Bote” (O mensageiro do povo). Foi destacado nas notas de agradecimentos que na “útil publicação, de Joinville, destacam-se os retratos dos srs. Lauro Müller e de Vidal Ramos Júnior”.
Ainda, naquele mesmo ano de 1903, devido ao seu notório desempenho intelectual, foi nomeado para ser Adjunto do Promotor Público da Comarca de Curitibanos. Tornou-se evidente que uma pessoa que tivesse conhecimentos e estudos suficientes, naqueles tempos, poderia destacar-se em vários segmentos. Um desses segmentos, talvez o que exigiria mais atenção e cuidado com o fornecimento dos dados, foi o de observador dos dados meteorológicos em Curitibanos. Esse serviço exigia atenção e conhecimentos com medições e cálculos, conhecimentos técnicos, de forma que Jorge Knoll tinha que anotar as precipitações pluviométricas, as temperaturas, a umidade relativa do ar, a pressão atmosférica, a orientação e a velocidade dos ventos. Tais informações continuam disponíveis num livro guardado no acervo do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza de Curitibanos. Aparentemente, Jorge Knoll desempenhou essas funções até 1914, quando passou o serviço para um conterrâneo seu, o médico Alfredo Lemser. Alfredo, não podendo trabalhar ou estar atento aos dados meteorológicos, passou o serviço para o seu irmão mais novo no Brasil, Arthur Lemser, que foi nomeado pelo Ministério da Agricultura para dar continuidade com as anotações.
Voltando um pouco no tempo, em 1909, como funcionário do Ministério da Agricultura em Curitibanos, recebeu livros com instruções sobre sementes e métodos de plantio e de controle agrícola. Foram vários livros, o que foi possível, talvez, a montagem da primeira biblioteca de Curitibanos. Além da biblioteca, vieram para Curitibanos, um volume com 15 quilos das melhores sementes de fumo. Na ocasião, o responsável pelo texto no Jornal O Planalto elencou o título de “Capitão” para Jorge Knoll.
Em 1910, como bom intelectual, escreveu uma nota no Jornal O Trabalho de Curitibanos, criticando a “influencia nefasta dos Papas católicos”. Segundo Knoll, esses Papas “paralisavam o progresso dos países”. Chamou, no seu discurso, “grupos de idiotas religiosamente fanatizados, analfabetos, …” para os membros do catolicismo da época. Esse texto foi motivo de vários artigos e críticas em diversos periódicos estaduais, todos rebatendo os argumentos de Knoll.
Foi nomeado temporariamente para exercer o cargo de promotor público da cidade de Palhoça e exonerado em novembro de 1917, retornando para Curitibanos.
No dia 5 de dezembro de 1918, o Jornal Actualidade de Joinville, na página 2, estampou:
Não há município nenhum no Estado que tenha a registrar maior número de attentados individuaes, como o município de Curitybanos. Todos os dias, fazem algo para que a justiça ande em palpos de aranha. Há tempos assassinaram o Albuquerque, depois disso outras tentativas de morte appareceram. Agora é o sr. Jorge Knoll que está no embrulho. Pediu ao exmo. sr. Governador, garantias de vida, seguindo para alli o sr. capitão Amaro que foi alvejado em pleno matto por tiros de Mauser. Até quando irá isso… O diabo que more em Curitybanos.
Em 1920, ainda morando em Curitibanos, e exercendo a profissão de Promotor Público da Comarca, encontramos uma nota no Jornal O Dever de Laguna, sobre a política em Curitibanos. No texto, intitulado de “Correspondências”, há referência da adesão de Jorge Knoll à causa política dos membros do partido político liderado por Henrique Paes de Almeida Filho, fazendo oposição aos membros do partido dos antigos correligionários do falecido Francisco Ferreira de Albuquerque.
No ano de 1931, Jorge Knoll era Promotor Público da Comarca de Capinzal. Em Capinzal, o Promotor Knoll não teve vida fácil, ao ter que enfrentar vários criminosos que só foram contidos com a ajuda da força policial. Em 1949, o mesmo ano do seu falecimento, foi indicado para compor uma cadeira de associado da Sub-comissão Catarinense de Folclore. O senhor Jorge Knoll era considerado um estudioso do folclore de Santa Catarina.
Jorge Knoll, alemão que teve atuação destacada na vida de alguns municípios de Santa Catarina, e que colaborou com vários jornais de Blumenau, nos lustros do século XX, também traduzia para o alemão, versos e poemas de brasileiros. Ele também foi poeta e ainda há algumas de suas poesias perpetuadas pela ação do tempo. Foi um dos alemães imigrados em Santa Catarina que maiores serviços prestou à literatura teuto-brasileira. Escreveu inúmeros contos em alemão, versando, em sua maioria, assuntos nacionais e, especialmente, serranos de Santa Catarina. Manejava com relativa correção o idioma nacional, também, tendo nos deixado, vários artigos e contos em português.
Jorge Knoll era um estudioso e intelectual, estava geralmente envolvido com traduções do alemão para o português e vice-versa. No Arquivo Histórico José Ferreira da Silva de Blumenau, num documento de 1949, há referências a essas atividades.
Em janeiro de 1949, o jornal O Estado, na página 3 informou em nota sobre o falecimento do profissional do Direito Jorge Knoll. Segundo o texto, ele faleceu na cidade de Passo Fundo, no Estado do Rio Grande do Sul, com a idade de 90 anos. Na verdade, ele tinha 88. No registro de óbito do cartório de Passo Fundo diz que a causa do seu falecimento foi insuficiência cardíaca bronquite crônica. Ele era advogado, professor, escritor, meteorologista e serviu por vários anos como Promotor Público de Chapecó. Foi advogado em Campos Novos e residia no final da vida em Cruzeiro (Joaçaba).
O Museu Histórico Antonio Granemann de Souza de Curitibanos tem ainda um livro da época em que o mesmo trabalhou no Ministério da Agricultura no município.
Referências para o texto:
BONOW, Imgart Grützmann. A literatura em língua alemã em Santa Catarina: A poesia de Georg Knoll. Universidade Federal de Santa Catarina — UFSC.
FRANCO, Cristina Alberts. Dados biobibliográficos. Rellibra. LIBEA — Literatura Brasileira de Expressão Alemã. On-line. Disponível em: https://www.martiusstaden.org.br/IMSConteudoRellibra.aspx?codigo=27
Governo do Estado — Actos do Poder Executivo, Dia 18 de junho de 1903. Jornal O Dia. Florianópolis, sabbado, dia 27 de junho de 1903. Ano III, n.º 739, p. 1.
Almanach Catarinense para 1896. Florianópolis (SC) : Typographia da “República”, 1896. p. 81.
Nota e Notícias. Jornal Cidade de Blumenau. Anno XI, n.º 38. Blumenau, sabbado, 9 de fevereiro de 1935, p. 2.
Nota. Jornal O Trabalho. Curitibanos, ed. n.º 74 Curitibanos.
Collaboração Apreciações X. Jornal Novidades. Anno VII n.º 335. Itajahy, domingo, 6 de novembro de 1910. p. 3.
Pela Agricultura. Jornal O Planalto. Anno I, n.º 1. Coritybanos, 1.º de janeiro de 1909. p. 4.
Curitybanos. Jornal Actualidade. Anno II, n.º 95. Joinville, quinta-feira, 5 de dezembro de 1918. p. 2.
Agradecimentos. Jornal O Imparcial. Anno II, n.º 77. Lages, 6 de dezembro de 1902. p. 2.
Correspondências. Jornal O Dever. Anno III, n.º 104. Laguna, 18 de julho de 1929. p. 3.
Veja mais sobre “O que é Integralismo?” em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-integralismo.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário