sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Egydio Abbade Ferreira


Texto de Antonio Carlos Popinhaki

     Egydio Abbade Ferreira nasceu em 1.º de setembro de 1899 na cidade de Florianópolis/SC. Infelizmente, no momento da produção do presente texto, não encontrei uma fotografia para acompanhar o trabalho. Segue, a seguir, uma cronologia, conforme encontrada em pesquisas nas páginas publicadas nos Jornais “República” e “O Estado”, ambos, de Florianópolis. O primeiro registro data de 1918, quando ainda ele era um aluno da Escola Normal de Florianópolis, no dia 19 de dezembro daquele ano, prestou prova oral nas disciplinas de Português e Aritmética. Egydio estava na 1.ª turma do 3.º Ano.
        No dia 8 de fevereiro de 1919, apareceu uma nota no jornal República, informando a todos os leitores que Egydio Abbade Ferreira encontrava-se enfermo, convalescendo-se em casa. Na ocasião, havia a informação que ele fora recém nomeado Professor Normalista da Escola Masculina do Distrito da Trindade, no município de Florianópolis. A sua nomeação saiu no dia 27 de março do mesmo ano de 1919. Mais alguns meses adiante, no dia 23 de setembro de 1919, foi inaugurada a Galeria de retratos dos Presidentes da República, na Escola Municipal do Córrego Grande. O professor Egydio estava presente no evento, juntamente com os seus alunos.
        No final do ano de 1920, mais precisamente, nos dias 22 e 23 de dezembro, participou, como um membro da Banca Examinadora, para aprovar os Exames de Professores Provisórios. Ainda naquele mesmo ano, no dia 31 de dezembro, foi convocado via “sorteio” para servir no exército brasileiro, no 14.º Batalhão de Caçadores de Florianópolis.
        No dia 16 de abril de 1921, num sábado, as alunas das Escolas Reunidas da Palhoça, sabedoras que o seu jovem Diretor deixaria o cargo para servir nas fileiras de soldados do exército, por volta das 13 horas, numa solenidade de despedida, entregaram-lhe buquês de flores naturais. Também lhe entregaram outros presentes, como uma carteira para guardar notas e moedas. Nessa ocasião, Egydio Abbade Ferreira passou a direção da escola para a senhorita Cecy da Costa Valente.

Dedicado Director.

É com o coração bastante contristado, que ora nos reuuimos nesta sala para vos expressar, com o nosso abraço sincero a grande estima e a gratidão que, pelo muito que nos fizeste, sois merecedor.
Sim querido director, é certo que nos deixas, mas certo também é, que a lembrança do carinho, do amor e da dedicação que sempre nos dispensastes, ficará bem gravada nos nossos corações, bem jovens aindas porém bem leaes e agradecidos.
E, lá em Florianópolis, quando nas fileiras do nosso glorioso exercito vos preparardes para a mais sublime das missões — a de servir a pátria — não vos esqueçais de que os vossos alumnos das Escolas Reunidas da Palhoça estão constantemente pedindo a Deus pela felicidade de seu estimado director e pelo seu breve regresso ao seio dos alumnos que tanto lhe querem e tanto lhe devem.
Acceitai, pois com a nossa eterna gratidão e a nossa amizade sincera esta humilde lembrança. Tenho Dito.”

        Um mês depois, no dia 24 de maio de 1921, já incorporado nas fileiras do exército brasileiro, participou das comemorações alusivas à Batalha de Tuiuti (Guerra do Paraguai). Egydio foi o encarregado da locução patriótica, feita às 14 e às 15 horas, antes das atividades esportivas dos militares daquele Batalhão.
        No dia 25 de agosto de 1922, já de volta à direção das Escolas Reunidas, participou da reunião com o Superintendente Municipal. No final do ano seguinte, encontramos uma nota no jornal República, informando que Egydio estava trabalhando como Diretor de um grupo escolar na cidade de Lages (25 de dezembro de 1923).
        No final de julho e início de agosto de 1927, o professor Egydio Abbade Ferreira foi nomeado o 2.º Secretário da Conferência Estadual do Ensino Primário, ocorrida em várias sessões diárias, onde, entre vários objetivos, tinha: promover o debate para o melhoramento das técnicas de ensino primário em Santa Catarina. Na mesma Conferência, apresentou perante os congressistas a sua “Tese n.º 9”, que tratava do provimento das Escolas Isoladas, material que lhes eram indispensáveis e a sua devida fiscalização.
        Em 30 de julho de 1929, o Presidente do Estado (Governador), concedeu a Egydio Abbade Ferreira, diretor do Grupo Escolar Vidal Ramos de Lages, quatro meses de férias extraordinárias. Em 1.º de dezembro de 1930, o General Ptolomeu de Assis Brasil, Interventor Federal no Estado de Santa Catarina, através da Resolução n.º 209 daquela data, exonerou o professor Egydio Abbade Ferreira dos cargos de Diretor do Grupo Escolar Vidal Ramos e Escola Complementar anexa, da cidade de Lages e o nomeou para exercer o cargo de Inspetor Escolar da 5.ª Circunscrição, com sede na cidade de Lages. A Resolução expõe, inclusive, os seus vencimentos mensais relacionados ao novo cargo.
        A partir de 1931, encontramos notas de visitas em educandários, elogios e censuras a professores pelo aproveitamento dos alunos. Isso ocorreu dezenas de vezes em notas publicadas nos periódicos estaduais. Essa prática, certamente, seria condenável em nossos dias. Se os alunos de um professor tivessem bom aproveitamento, o mestre era elogiado publicamente, mas, se ocorresse o oposto, o “puxão de orelha” no professor era, igualmente, exposta para todos os leitores e não leitores.
        Em 28 de dezembro de 1933, através da Resolução Estadual n.º 3039, o então Interventor Federal em Santa Catarina, o Coronel Aristiliano Ramos, removeu o Professor Egydio Abbade Ferreira do cargo de Inspetor Escolar da 5.ª Circunscrição com sede em Lages para a 1.ª Circunscrição com sede na Capital do Estado.
        Em 15 de agosto de 1934, representou, juntamente com outros nomes relacionados ao ensino, o Estado de Santa Catarina na Convenção Nacional de Educação, realizada no Rio de Janeiro. No dia 18 de dezembro de 1934, na inauguração do Instituto Comercial de Florianópolis, às 19:30 horas proferiu uma palestra de uma série planejada para o local, com o tema “Ponde o melhor do vosso esforço em tudo o que fizerdes”. A entrada para o evento era gratuita a todos os interessados.
        Em 12 de fevereiro de 1935, participou do Conselho Cooperador para a Cruzada Nacional de Educação, visando a diminuição do analfabetismo estadual e nacional. No mesmo ano de 1935, no dia 6 de setembro, às 15 horas, no Salão Nobre do Instituto de Educação de Florianópolis, foi co-fundador da “Comissão Fundadora da Escola Preparatória Econômica Vidal Ramos”, ocupando o cargo de Tesoureiro. Em 19 de outubro tornou-se sócio do “Instituto Histórico e Geografo de Santa Catarina”.
        Em agosto de 1936, era Diretor do Instituto de Educação Orlando Brasil. No mês de fevereiro de 1937, foi um dos que elaboraram os “Estatutos do Clube dos Funcionários Públicos Civis de Santa Catarina”. Atuou, ocupando o cargo de Diretor do Instituto de Educação até 1940, quando faleceu.
        Mediante uma nota publicada no Jornal O Estado de Florianópolis, de 18 de outubro de 1940, a população catarinense tomou ciência do seu falecimento, naquela madrugada, às 05:30 horas, após uma rápida enfermidade com sintomas gripais (meningite gripal). Segundo a nota, o Professor Egydio Abbade Ferreira, era “uma das mais dignas e abnegadas figuras do magistério catarinense”.
        A nota informa que tão logo entrou no professorado, regeu a então Escola Masculina do Distrito da Trindade, no município de Florianópolis. Mais tarde, dirigiu o “Grupo Escolar Vidal Ramos” em Lages. O Professor Egydio era um desses mestres que fazem da profissão, um sacerdócio, e se entregam inteiramente ao cumprimento do dever. Sempre olhou a escola como o centro do mundo, como uma pequena pátria, pelo qual, daria, de bom grado, a vida.
        Segundo a nota, o Professor estava esgotado de tanto trabalhar. Depois, ainda segundo a nota, após a sua morte, tornou-se um simples nome sobre a lápide de uma sepultura. O seu corpo foi transportado do Hospital de Caridade, local onde morreu, para o Cemitério de Itacorubi. O enterro ocorreu no dia 18 de outubro de 1940, às 16 horas. Por determinação do Secretário do Interior e Justiça de Santa Catarina, em homenagem ao Diretor do Instituto de Educação de Florianópolis, na ocasião do falecimento do mesmo, pelos relevantes serviços prestados em prol do ensino em Santa Catarina, naquela instituição, as aulas foram suspensas por três dias.
        Ele era casado com Cecilia da Costa Valente. O casamento ocorreu aos 31 dias de julho de 1924, na cidade de Palhoça/SC. Tinha cinco filhos. Seus pais se chamavam Tomaz Antonio Ferreira e Francisca Ferreira.
        Na década dos anos de 1940, houve reformas estruturais no ensino no Brasil. De 1.ª à 4.ª série era chamado de primário (4 anos). De 5.ª a 8.ª série de Ginásio (4 anos). O Colegial era classificado em duas categorias, Clássico e Científico (3 anos). Então, as Irmãs da Sagrada Família de Curitibanos/SC, viram a oportunidade de criar o Curso Normal Regional, ao qual denominaram de Professor Egydio Abbade Ferreira. Utilizaram as dependências estruturais já existentes para o ensino. Dessa forma, os alunos, em Curitibanos, poderiam estudar de 1.ª a 8.ª séries no Grupo Escolar Arcipreste Paiva, depois, aqueles que tinham vocação ou aptidão, poderiam fazer o Curso Normal Regional nas mesmas dependências administradas pelas Irmãs da Sagrada Família.
        Egydio Abbade Ferreira nunca trabalhou em Curitibanos. O seu nome, na lista dos homenageados nesta cidade, deu-se, simplesmente, pela opção da escolha das irmãs da Sagrada Família do passado, na história do próprio Colégio Santa Teresinha. Provavelmente, o nome tenha sido escolhido por força política local, ou pelo próprio Bispo de Lages, Dom Daniel Hostin, que conheceu o professor Egydio, quando este trabalhou em Lages e foi Inspetor Escolar da 5.ª Circunscrição.
        Além da homenagem em Curitibanos, na cidade de Lages, foi nomeada uma escola com o nome de “Escola Municipal de Ensino Fundamental Egidio Abade Ferreira”. Notem que a grafia do nome foi alterada. Em Florianópolis, através da Lei Ordinária Municipal n.º 3066/1988, o então prefeito Edson Andrino de Oliveira nominou uma via, que antes era chamada de “Servidão da Fragata”, com o nome de Rua Professor Egidio Ferreira.


Referências para o Texto:

Florianópolis — Lei Ordinária Municipal n.º 3066/1988.

Fotografia: Galeria dos Diretores do Colégio Vidal Ramos de Lages.

GENTIL, Flávio Welker Merola. Acervo Professor Elpídio Barbosa: Nacionalização do Ensino, Políticas e Escolares (Sanbta Catarina, 1930-1940). Dissertação ao programa de História da Universidade do Estado de Santa Catarina — UDESC. Florianópolis, 2015. 173 p.

Informações de casamento e óbito. Portal FamilySearch. On-line, disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-6PB3-XSH?i=108&wc=MXYY-16X%3A337702501%2C337702502%2C340654801&cc=2016197 e também:
https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X9V3-ZF?view=index&personArk=%2Fark%3A%2F61903%2F1%3A1%3AHLMZ-3JMM&action=view

Pesquisa da Hemeroteca Nacional. On-line, disponível em: https://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/

POPINHAKI, Antonio Carlos. A História do Colégio Santa Teresinha. Blog pessoal de Antonio Carlos Popinhaki. On-line, disponível em: http://antoniocarlospopinhaki.blogspot.com/2023/05/a-historia-do-colegio-santa-teresinha.html

Santa Catarina — Resolução Estadual n.º 209, de 1.º de dezembro de 1930.

Santa Catarina — Resolução Estadual n.º 3039, de 28 de dezembro de 1933.

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