Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Faustino José da Costa foi uma figura emblemática do planalto catarinense, cuja vida traça um retrato autêntico do empreendedorismo e da resiliência dos pioneiros que forjaram o desenvolvimento da região. Nascido por volta de 1875 na cidade de São José, próximo à capital do estado, seu destino foi selado durante uma das viagens do comerciante Generoso Catarina, um dos primeiros comerciantes estabelecidos em Curitibanos. Este, em suas arriscadas incursões ao litoral para buscar produtos, utilizando cargueiros cavalares e muares por picadas abertas na densa mata e evitando o contato com os indígenas, encontrou o jovem Faustino e trouxe-o para o planalto, empregando-o como caixeiro em sua casa comercial.
Com o passar do tempo, Faustino foi se entrosando com os costumes campeiros e formando uma sólida rede de amizades. Já bem adaptado e por razões diversas, decidiu abandonar o balcão para se dedicar a novas atividades. Aproveitando as extensas áreas de terras que Curitibanos oferecia na época e com recursos já acumulados, adquiriu um milhão de terras pelo preço de cinquenta mil réis, uma vasta área de campos e pastagens. Povoou-a com gado de boa raça, que foi aprimorado com novos cruzamentos, estabelecendo-se como um promissor pecuarista.
A tranquilidade do país, após a Proclamação da República, foi abruptamente interrompida pela Revolução Federalista de 1893, comandada na região de Curitibanos por Gumercindo Saraiva e seu irmão Aparício. Com a invasão das forças revolucionárias rumo ao Paraná, que passaram por seu município, Faustino tomou uma medida drástica para proteger sua vida e seu patrimônio. Reuniu suas tropas de gado, cavalos e mulas e transferiu-se para o Estado do Paraná, passando por Rio Negro em direção à capital. Lá, vendeu sua tropa, apurando o necessário para sua subsistência, e permaneceu até o término daquela luta fratricida.
Findo o conflito em 1895, seu retorno foi tão penoso quanto a partida. Regressou a pé, pousando aqui e acolá com extrema cautela para evitar o encontro com elementos extraviados das forças ou com as tropas regulares. Ao chegar em Rio Negro, soube que a cidade acabara de ser ocupada pelo exército nacional. Apresentou-se ao comando, ficou detido por alguns dias até justificar plenamente sua situação e, assim, conseguiu um salvo-conduto que lhe permitiu prosseguir a cansativa jornada de volta ao seu lar.
De volta a Curitibanos, reorganizou sua vida e contraiu matrimônio com Dona Bernardina da Silva Ribeiro, viúva do falecido negociante Generoso Catarina. Somando a reserva da venda de sua tropa no Paraná à herança de sua esposa, Faustino reiniciou suas atividades com renovado vigor. Expandiu suas posses, chegando a adquirir uma área total de 30 milhões de metros quadrados, o equivalente a 1.239 alqueires paulistas, que povoou com gado da melhor estirpe, tornando-se o que na época se chamava de um “fazendeiro progressista e adiantado”. Do seu primeiro casamento com Bernardina, nascida em 1887, resultaram os filhos Alvaro, Aurelio, Sizenando, Gertrudes, Rosalina e Valério. Com o falecimento de Bernardina em 1896, Faustino casou-se novamente com sua cunhada, Ana Alves Ribeiro, com quem teve os filhos Bernardina, Maria, Juvêncio, Lauro e Faustino. Ana passou a assinar como Ana Alves da Costa, conhecida em Curitibanos simplesmente por Ana Costa. Seus descendentes constituíram famílias tradicionais e vários deles se destacaram na vida pública, com realce para seu filho Lauro Antonio da Costa, que se tornou Prefeito Municipal, e seu neto, Dr. Celso Ivan Costa, engenheiro-agrônomo e deputado. Outro neto, Armando Costa foi também prefeito de Curitibanos. Faustino José da Costa faleceu em 16 de março de 1937, em Porto União, Santa Catarina, deixando um legado de honestidade, trabalho e progresso que permanece na memória histórica da região.
Como uma homenagem póstuma, em 18 de agosto de 1959, o então prefeito de Curitibanos José Bruno Hartmann denominou através da Lei Ordinária Municipal n.º 415/1959 uma rua de Curitibanos de “Rua Faustino José da Costa”, localizada no Bairro São Luiz. Uma justa homenagem a esse homem que ajudou na construção da história de Curitibanos.
Referências para o texto:
BACELAR, Juvenal Bráulio. Informações contidas em escritos biográficos do acervo do Museu Antonio Granemann de Souza
Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 415/1959
Fotografia: acervo do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza
Informações do acervo do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza de Curitibanos.
NERCOLINI. Maria Batista. Livro de registro da história de Curitibanos. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.