quarta-feira, 22 de maio de 2013

Coracy Pires de Almeida

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Coracy Pires nasceu no dia 20 de julho de 1922 na cidade de Lages, Santa Catarina. Seus pais se chamavam Indalicio Coelho Pires e Maria Aurora Bräscher. A família era composta pelos seguintes irmãos (respeitando os respectivos nomes após os casamentos): Jacira Pires Furtado, Laércio Pires, Maria Pires Martins, Dirceu Pires, Alaor Pires e Ana Luiza Pires Gomes.

Filha de família de comerciantes que atuavam na região de Lages, o pai gostava muito de tirar fotografias e era aficcionado por flores. Ao ser matriculada no curso “Normal” do Colégio Diocesano, conheceu o seu futuro marido que se chamava Ivady Coninck de Almeida, natural de Rio do Sul e filho do fazendeiro Graciliano Nonato de Almeida. Ivady foi seu par e padrinho no baile de formatura. Coracy terminou o curso em 1942 e lecionou por algum tempo nas cidades de Joinville e São Joaquim, pois em 15 de abril de 1944, casou-se em Lages. Ela e Ivady tinham 21 anos na ocasião do casamento. Depois dessa data, passou a assinar como Coracy Pires de Almeida.

Após o casamento, foram morar na fazenda do sogro. Graciliano Nonato de Almeida era casado com a senhora Evelina Coninck, nascida em Apiúna, Santa Catarina. A família Almeida era composta por homens ligados à profissão de tropeiros, por essa razão, um membro da família era registrado como nascido numa ou outra cidade diferentemente. Ele mandou arrumar e melhorar a estrada que dava acesso à sua fazenda, somente para agradar e receber a nora. Na época, não existiam muitas estradas, essa de acesso foi feita à mão, com pás, picaretas e carrinhos de mão.

Ivady e Coracy tiveram as seguintes filhas (respeitando os sobrenomes, após o casamento): Roseli Terezinha de Almeida Closs, Guiomar Almeida Solano, Beatriz de Almeida Moraes e, Dorothy de Almeida (essa última, faleceu quando ainda era bebê). O marido, sempre trabalhou com lidas de campo, atendendo os requisitos tradicionais da família Almeida, natural de Sorocaba, interior de São Paulo. Já a esposa, como era mais letrada e, consequentemente, mais refinada, tratou de envolver-se com assuntos sociais e de desenvolvimento da comunidade à qual estava inserida. Entretanto, o casal acompanhou junto, o crescimento de Curitibanos, desde os primórdios tempos, quando as casas estavam sendo lentamente reconstruídas, devido ao grande incêndio ocorrido em 1914, quando fanáticos invadiram e queimaram vários imóveis da vila, até a construção de novas residências e prédios para fins públicos.

Foram muitos os feitos de ordem histórica e social que mereceram registro envolvendo Coracy Pires de Almeida. Certa vez, reuniu as amigas, Ida Caramori, Marisa Ogliari, Ana Lúcia Moraes, Mirtes Granemann, Hildegart Novak, Amélia Drissen, Ilda Hartmann para organizarem o que chamaram “Chá das Zéfas”, uma reunião mensal de mulheres da sociedade curitibanense, visando discutirem os problemas sociais e culturais da comunidade, objetivando solucioná-los. Elas conseguiram resolver vários problemas, importunando positivamente, políticos, fazendeiros e pessoas que tinham condições para ajudá-las nos seus propósitos.

Durante a sua vida, como uma antologista (uma pessoa que organiza um conjunto de diversas obras literárias, musicais ou cinematográficas), título que ela mesma se nomeou, Coracy contribuiu com um vasto material literário, obras de lazer e de história para as futuras gerações de Curitibanos e região. Além de escrever, ela gostava muito de bordar. Era exímia nos bordados.

Estiveram sob os olhares, influências, atenções e atribuições de Coracy Pires de Almeida, a construção do primeiro parque com brinquedos infantis em Curitibanos, inaugurado em 22 de dezembro de 1963, denominado inicialmente de “Parque do Capão”. Também, houve a sua fundamental cooperação para a constituição da primeira “Banda Juvenil” de alunos do Colégio “Casimiro de Abreu”, inaugurada em 7 de setembro de 1967, sem deixar no esquecimento, a organização da famosa Banda Guarani”, auxiliada pela professora Ieda Hartmann e a sua amiga, Célia de Andrade Lemos, bem como um Coral de 4 vozes, abrilhantando as missas noturnas, na Igreja Católica Imaculada Conceição (a igreja matriz).

É atribuída a Coracy Pires de Almeida a edição do primeiro livro em Curitibanos, com o título: “Nossa Terra, Nossa Gente”, em dezembro de 1968, onde estão preservados textos de diversas personalidades da época. Ela tornou-se Membro de Honra do “Instituto de Cultura Americana”, em 1.º de janeiro de 1970. Também, em caráter honorário, em 15 de julho de 1970, foi designada “Delegada do Instituto de Cultura Americana”, para o Estado de Santa Catarina. Por seus méritos nessa função, em 2 de julho de 1971, foi também designada “Delegada do Instituto de Cultura Americana” para os Estados do Paraná e Rio Grande do Sul.

Em março de 1971, editou o segundo livro, nos mesmos moldes do primeiro, com o título de “Curitibanos, Terra Promissora”. Nesse mesmo ano, no dia 30 de junho de 1971, foi nomeada Vice-Consulesa da “Ordem Benemérita de Santa Martha”, no Brasil, em caráter honorífico. No concurso estadual de biografias, em Florianópolis, ainda em 1971, conseguiu alcançar o terceiro lugar com a biografia do ex-superintendente municipal Francisco Ferreira de Albuquerque.

Como era “Delegada do Instituto de Cultura Americana”, como forma de homenagem pela instituição, no “Concurso Internacional de Poesias”, ocorrido em Montevidéu, no ano de 1971, teve o seu nome gravado nas medalhas oferecidas aos participantes que fizeram jus às mesmas. Parece-nos que o ano de 1971 foi um ano atípico, mas de conquistas importantes para Coracy, pois em maio daquele ano, foi convidada para participar como membro da “La Società Nazionale di Scienze Lettere ed Arti in Napoli”, uma instituição milenar, cuja história se estende desde 1698 d.C.

A instalação de um museu histórico na cidade de Curitibanos ganhou força entre os seus apoiadores, a partir de um discurso proferido numa palestra pelo então prefeito Dr. Hélio Anjos Ortiz no ano de 1972, quando esse explanou da importância de se criar um museu em Curitibanos, para servir de fonte de pesquisas sobre a cultura, preservação da memória e do patrimônio abstrato e concreto da nossa história. Naquele mesmo ano, organizou-se uma comissão “pró-museu”, composta pelas seguintes pessoas: Adolfo Nercolini (servidor público federal), Coracy Pires de Almeida (escritora curitibanense), Gualdino Busato (professor de História), Juraci de Melo Schmidt (coordenadora de ensino do estado de Santa Catarina), Maria Baptista Nercolini (pesquisadora), Maria de Lourdes Ferreira (professora de Artes), Norival Varela Duarte (pesquisador) e Zélia de Andrade Lemos (escritora curitibanense). As várias reuniões dessas pessoas, com o mesmo objetivo, foram fundamentais para a escolha e a instalação do museu municipal, localizado desde a sua fundação, no edifício da antiga sede da Prefeitura Municipal, na Praça da República n.º 20. Coracy teve a sua participação, como determinante nessa comissão, tanto, que foi designada para ser a Secretária da Comissão Organizadora dos Festejos do Centenário da Implantação do Município de Curitibanos, composta de diversas solenidades ocorridas a partir de março de 1973. Entre essas atividades, estava previsto um memorável desfile de carros alegóricos. Coracy Pires de Almeida foi uma das organizadoras desse desfile, com a participação de mais de duas dezenas de carros enfeitados e caracterizados com temas diversos. O desfile ocorreu em 7 de maio de 1973, na Avenida Salomão Carneiro de Almeida.

No mês de agosto do ano de 1973, através do Projeto de Resolução n.º 6/1973, a Câmara Municipal de Vereadores delimitou diretrizes para a construção do Monumento alusivo ao centenário da instalação do município de Curitibanos ocorrido naquele ano. Esse monumento foi construído inicialmente na Praça Centenário. Tinha o formato de um pedestal. Três anos mais tarde, foi adicionado-lhe, a estátua do Tropeiro. Posteriormente, ambos foram movidos para a frente do prédio da Prefeitura.

A lageana Coracy Pires de Almeida foi personagem determinante para a construção de duas estátuas de bronze existentes em Curitibanos. A primeira delas, no ano de 1976, foi a já citada, estátua do Tropeiro, colocada inicialmente sobre um pedestal já existente na época na Praça do Capão, no Bairro do Bosque, que passou a ser chamada desse ano em diante, de “Praça Centenário”. A história dessa estátua é identificada pela história familiar da família Almeida, tendo muitos representantes dessa, a profissão Tropeiro. Como já citado, essa estátua foi movida posteriormente para a frente do prédio da Prefeitura Municipal de Curitibanos, com o pedestal que é um monumento à parte.

A segunda estátua construída por instigação e iniciativa de Coracy, foi a estátua do Dr. Hélio Anjos Ortiz, que hoje está fixa no pátio do hospital que leva o nome do médico e ex-prefeito curitibanense. Essa estátua foi construída em 1983 e colocada provisoriamente na esquina da Avenida Salomão Carneiro de Almeida com a Avenida Rotary, onde existe um posto de combustível, que na ocasião, tinha a bandeira “Esso”. Posteriormente, foi movida para o pátio do hospital.

Em 18 de setembro de 1976, por iniciativa da senhora Coracy Pires de Almeida, também foi construído um monumento na Avenida Frei Rogério em homenagem às irmãs da Sagrada Família. Foi moldado um bloco de granito e assentado o mesmo, sobre um pedestal.

A fama do nome de Coracy tinha se espalhado para além-fronteiras, em abril de 1974, junho de 1975 e janeiro de 1978, foi convidada para participar nos Certames Internacionais Literários, no México.

Com a participação determinante da senhora Ruth Cabral com a música, foi apresentado para aprovação na Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos o Hino Oficial do Município, com letra atribuída a Coracy Pires de Almeida e música de Ruth Cabral, com arranjos para banda, efetuados pelo Maestro Roberto Kell, da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina. Foi aprovado e instituído pela Lei Ordinária n.º 2/1977, de 14 de junho de 1977. Esse hino foi ensinado nas escolas locais somente a partir de 1984, por determinação da então Coordenadora de Educação, professora Izolda Badalotti Costa. Em 2 de dezembro de 1978, em sua “Audição Anual, a Escola de Música Carlos Gomes homenageou as duas talentosas mulheres pela criação do Hino de Curitibanos. A solenidade foi na sede Social do Pinheiro Tênis Clube.

Coracy também participou como membro da diretoria da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais — APAE, desde a sua fundação, ocorrida em 1977, até o ano de 1983. Na APAE, intercedeu junto ao “Misereor” (organização dos bispos católicos alemães, para a cooperação de desenvolvimento e luta contra a pobreza), para a aquisição de um ônibus. Foi convidada por diversas instituições catarinenses para noites de autógrafos e lançamento dos seus livros (Joinville, 1976 e 1978). Em 1981, foi convidada para representar o município de Curitibanos na festa folclórica da cidade de Irani, local do primeiro combate da Guerra Santa de São Sebastião. No ano de 1983, Coracy Pires de Almeida escreveu a biografia do Dr. Hélio Anjos Ortiz. Nesse mesmo ano, foi convidada para participar em comissões de julgamento em concursos literários dos Colégios Antônio Francisco de Campos e Casimiro de Abreu.

Também em 1983, foi convidada para integrar a Associação Catarinense de Escritores. Colaborou com textos para os jornais locais: Correio dos Campos, O Farol, Renovação e Informativo Renovação.

Em 21 de setembro de 1984, foi convidada para participar da Comissão Julgadora no Concurso de Poesias, realizado pelo Conselho Municipal de Cultura. Nesse mesmo ano, no dia 20 de janeiro, foi homenageada pelo Conselho Municipal de Cultura, com a execução do Hino de Curitibanos, pelo Coral da Universidade do Estado de Santa Catarina — UDESC, no Pinheiro Tênis Clube. Ainda foi convidada pelo Conselho Municipal de Cultura de Curitibanos, para ser uma das avaliadoras do Concurso Literário sobre Contos Regionalistas, ocorrido em dois anos consecutivos, 1985 e 1986.

Coracy Pires de Almeida faleceu em 21 de novembro de 2005, deixando um grandioso legado de obras de resgate histórico e cultural para Curitibanos e região. Como forma de homenagear essa brilhante mulher, através do Projeto de Lei do Legislativo n.º 15/2019, de 17 de setembro de 2019, de autoria do então vereador João Reus de Camargo, denominou-se o prédio público construído na Avenida Governador Jorge Lacerda, n.º 1315, Bairro São José, de Centro de Educação Infantil Coracy Pires de Almeida. Ato sacramentado pelo Decreto n.º 5485/2021, de 22 de março de 2021.

Através da Lei Ordinária n.º 5563/2015, de 11 de setembro de 2015, o então prefeito José Antônio Guidi, denominou uma rua de Curitibanos com o nome de Rua Coracy Pires de Almeida, localizada no Loteamento Nova Alvorada, no Bairro São Luiz.



Referências para o texto:


ALVES, Sebastião Luiz. 1945 — Coracy Pires de Almeida. Curitibanos Memórias da nossa terra. Facebook. On line: Disponível em: https://www.facebook.com/memoriasdecuritibanos/posts/1649384285353743


Curitibanos — Decreto n.º 5485/2021, extingue, altera denominação e endereço de Centros de Educação Infantil.


Curitibanos — Lei Ordinária n.º 2/1977, institui o hino de Curitibanos.


Curitibanos — Projeto de Lei n.º 15/2019, denomina prédio público.


Curitibanos — Projeto de Resolução n.º 6/1973, delimita diretrizes para a construção de monumento alusivo ao centenário.


Curitibanos — Lei Ordinária n.º 5563/2015, denomina rua de Curitibanos.


Curitibanos — Lei Ordinária n.º 6196/2019, denomina prédio público.


GUIDI, José Antônio. Inicia as atividades do C.E.I. Coracy Pires de Almeida, do Bairro São José. Facebook. On line, disponível em: https://www.facebook.com/joseantonioguidi/videos/701681287112680/


Informações de Aldair Goetten de Moraes


Informações de Josette Ivana Almeida Closs 


Informações de Márcio Ribeiro


KRUKER, Giovana Aparecida; PEREIRA NETO, Jairo. Memórias de Coracy Pires de Almeida. Thipograf. Curitibanos, 2008.


Misereor — About us. On line: Disponível em: https://www.misereor.org/


POPINHAKI, Antonio Carlos. Célia de Andrade Lemos. Blog Curitibanenses. On. line: Disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2021/08/celia-de-andrade-lemos.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Coracy Pires de Almeida (versão antiga). Blog Curitibanenses. On. line: Disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2013/05/coracy-pires-de-almeida.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Hélio Anjos Ortiz. Blog Curitibanenses. On. line: Disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2013/05/helio-anjos-ortiz.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. Blog pessoal. On line: Disponível em: http://antoniocarlospopinhaki.blogspot.com/2021/02/o-museu-historico-antonio-granemann-de.html


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