terça-feira, 2 de julho de 2013

Irmã Florentina



Texto de Antonio Carlos Popinhaki

(Atualizado em 4/dezembro/2024)


Uma das maiores marcas da gestão do então prefeito Antônio Granemann de Souza (1930 — 1935) foi a instalação, em Curitibanos, da Congregação das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria. O prefeito se reuniu com Frei Justino Girardi para deliberar sobre a possibilidade de Curitibanos abrigar um educandário para o curso primário. Na reunião, com a presença de outras autoridades da época, foram aconselhados a pedir ao Bispo Diocesano Dom Daniel Hostin, com a intenção de que em Curitibanos pudesse ser instalado um educandário de prestígio e renome, onde os filhos da terra pudessem estudar conteúdos de qualidade, sendo competitivos com qualquer estudante de outros centros. O pedido do prefeito Antônio Granemann de Souza foi prontamente atendido pelo Bispo, que deu encaminhamento dentro dos trâmites legais da Igreja Católica. Dom Daniel Hostin pediu à Madre Provincial da Congregação das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria da Província Menino Jesus, com sede em Curitiba, para enviar freiras (Irmãs) para trabalhar em Curitibanos.

Na época, a pequena cidade era muito interiorana e de difícil acesso. As estradas eram rudimentares e quase intransitáveis, e a estrada de ferro não chegara até a sede do município, forçando qualquer pessoa a locomover-se em carroças, cavalos e mulas. Alguns, para viajar a outros centros maiores, utilizavam a ferrovia, que estava a um ou dois dias de distância, conforme o meio de transporte, embarcando em Capinzal ou em Caçador.

Frei Justino Girardi chegou em Curitibanos no ano de 1932 com a finalidade de reabrir a Paróquia, que estava com as atividades quase paralisadas há mais de uma década, principalmente pela invasão e ataque dos adeptos dos monges João e José Maria durante o conflito social denominado “Guerra do Contestado”, ocorrido em 26 de setembro de 1914, quando 23 casas da vila foram incendiadas, incluindo a sede da Superintendência Municipal.

A Madre Provincial atendeu o pedido do Bispo e enviou para Curitibanos três Irmãs, que chegaram na pequena cidade no dia 4 de fevereiro de 1933, vindas de Curitiba, Paraná. Tratava-se das três primeiras Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria a se estabelecerem em solo curitibanense. Seus nomes ficaram registrados nos anais da história, não só nos arquivos eclesiásticos católicos, mas também na história local e regional.

Elas se chamavam: Irmã Irene Wisniewski, Irmã Felícia Greboge e Irmã Isidora Charnikowska. Tinham como missão, na doutrina católica, realizar seus trabalhos servindo a Cristo e à Igreja, conforme os ensinamentos de São Zygmunt Felinski. Quando o padre local, Frei Justino, soube da confirmação da vinda dessas freiras, preparou, junto com o povo, uma memorável acolhida. Todos vibraram de alegria, não perdendo tempo em escolher o nome para o novo colégio: “Colégio Santa Teresinha”.

As freiras se instalaram no prédio que era a casa dos antigos padres franciscanos. Com o auxílio da Congregação, iniciaram-se as construções das salas de aula e de um ambiente propício para o funcionamento do grupo escolar. Isso com muito sacrifício, pois na época não existiam materiais de construção disponíveis, lembrando que as vias de transporte eram muito precárias, em alguns lugares sem o mínimo de manutenção. 

Após essas três primeiras freiras que vieram para Curitibanos, dois anos depois chegou a Irmã Florentina, cujo nome de batismo era Ana Suchla. Ana Suchla nasceu no dia 30 de julho de 1911, na localidade de Colônia Murici, no município paranaense de São José dos Pinhais. Foi nessa cidade que passou a sua infância, onde fez os seus estudos fundamentais e teve a sua formação religiosa. Foi também onde frequentou o colégio católico dirigido por freiras.

Após certo tempo, decidiu ingressar na Congregação da Sagrada Família, em Curitiba, onde continuou aprofundando a sua formação religiosa católica. Ela aproveitou o tempo de estudos e, concomitantemente, realizou os cursos pedagógicos e didáticos requeridos na época para se tornar uma professora.

No ano de 1935, foi designada para trabalhar em Curitibanos. Foi uma das primeiras freiras que ensinou, como professora, no então novíssimo Grupo Escolar “Arcipreste Paiva”. Seu trabalho não consistia apenas na vila de Curitibanos, pois ela também tinha obrigações no interior. Por dois anos, atuou como professora numa precária escola na localidade de Marombas (hoje, Marombas Bossardi). Ainda, foi enviada para ajudar na alfabetização de crianças na localidade de Iomerê, perto de Videira, onde permaneceu por oito meses. No total de tempo na região de Curitibanos, atuando como professora e catequista, Ana Suchla, que ficou conhecida pelo nome católico de “Irmã Florentina”, trabalhou por 30 anos, alfabetizando, educando e contribuindo para a formação de muitas pessoas que vieram a ser, mais tarde, personalidades importantes.

Ana Suchla era filha de Roque Suchla e Pelágia Toczek, naturais do Paraná e provavelmente descendentes de imigrantes poloneses. Os pais eram lavradores e moravam na Colônia Murici, interior de São José dos Pinhais. O local foi destinado inicialmente para a instalação dos imigrantes poloneses. Hoje é um importante polo turístico da região metropolitana de Curitiba.

Em Curitibanos, a Irmã Florentina exerceu o cargo de Diretora do Grupo Escolar “Arcipreste Paiva” no período que compreendeu os anos de 1954 até 1963. Também foi diretora do Curso Normal Regional Professor Egídio Abade Ferreira, sendo ela responsável pela formação de várias professoras que trabalharam, anos depois, em Curitibanos.

No ano de 1963, devido ao seu estado debilitado de saúde, precisou deixar as suas atribuições profissionais e dedicar-se a um longo tratamento de saúde. Sofreu bastante, enferma e hospitalizada, até o dia 11 de julho de 1965, quando veio a falecer nas dependências do antigo hospital Frei Rogério de Curitibanos.

A causa da sua morte foi diagnosticada como neoplasia maligna do pulmão pelo Dr. Hélio Anjos Ortiz. Ela foi sepultada no cemitério público de Curitibanos. O atestado de óbito foi expedido no dia 16 de julho, cinco dias após a sua morte.

A maioria das pessoas que conviveram com a Irmã Florentina, em sua época, não sabiam, e os que ainda vivem provavelmente não sabem o seu verdadeiro nome. Na tradição católica, era comum as pessoas, ao optarem por seguir a vida religiosa, mudarem o nome. Com o passar dos anos, houve uma espécie de evolução ou alteração na tradição e hoje não é mais uma obrigação, mas sim uma opção para essa troca de nome.

A Irmã Florentina foi homenageada com o nome de uma rua da cidade de Curitibanos. No dia 14 de agosto de 1965, praticamente um mês após o seu falecimento e sepultamento, o então prefeito Hélio Anjos Ortiz, através da Lei Ordinária n.º 604/1965, denominou uma rua próxima ao Colégio Santa Teresinha de Rua Irmã Florentina.

Em 11 de dezembro de 2023, através da Resolução n.º 4/2023, a Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos instituiu a Comenda Comenda Municipal do Mérito Educacional "Professora Ana Suchla – Irmã Florentina", para ser entregue aos professores, como reconhecimento do Poder Legislativo Municipal, que atuam em sala de aula. No dia 5 de dezembro de 2024, numa Sessão Solene realizada nas dependências da Câmara, foram entregues 12 (doze) placas aos reconhecidos profissionais da educação de Curitibanos. Alguns, já aposentados. 



Referências para a produção do Texto:


Curitibanos. Lei Ordinária n.º 604/1965 — Denomina ruas da cidade.


Parte de um texto encontrado digitado no acervo de biografias do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.


O Óbito de Ana Suchla. Portal FamilySearch. On-line: Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-62Y9-YVC?i=12&wc=MXYP-4ZW%3A337701401%2C337701402%2C338840401&cc=2016197


O nascimento de Ana Suchla. Portal FamilySearch. On-line: Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:9396-QZSV-FY?i=40&wc=MHN4-F6D%3A337690201%2C337690202%2C338333101&cc=2016194


POPINHAKI, Antonio Carlos. Popiwniak / Antonio Carlos Popinhaki. — Blumenau: 3 de Maio, 2015. 173 p.

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