segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Donato Espíndola


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


A trajetória de vida do senhor Donato Espíndola começou na cidade de Indaial, Santa Catarina, onde nasceu no dia 21 de maio de 1919. Seus pais se chamavam João Júlio Espíndola e Felicidade Espíndola. Estudou alguns poucos anos na região de Blumenau, pois precisou trabalhar logo para ajudar com as despesas familiares. 

Se afeiçoou no ramo da construção civil, apesar de não possuir muita instrução escolar formal, Donato dominava com maestria as técnicas e a metodologia empregada pelos carpinteiros e pedreiros. Logo cedo, desenvolveu-se a ponto de ser considerado um mestre-de-obras.

Por causa desse trabalho, certa vez, precisou viajar para Lages, onde encontrou a sua futura esposa, Maria de Lourdes Alves Guedes. No dia 23 de fevereiro de 1947, em Lages, Santa Catarina, se casaram. Do casamento, nasceram quatro filhos, Nelson, Emílio Lindamir e Lindamar. Desses, três nasceram em Lages e a caçula, em Curitibanos, Santa Catarina.

Donato convidou dentre os seus amigos, o senhor Augustho Gröne para batizar a sua filha curitibanense, Lindamar. Outras pessoas influentes, além de Augustho e de sua esposa, tornaram seus amigos, como o proprietário do Cartório, o senhor Oricimbo Caetano da Silva e Wilmar Ortigari.

Depois de Lages, na década de 1960, a família de Donato, se estabeleceu em Curitibanos. Ele conheceu um Capitão do Exército, de nome Hercílio, que trabalhava no Batalhão de Construção de Lajes, com um acampamento de obras localizado em Ponte Alta do Norte. Esse oficial lhe ofereceu cinco máquinas que eram utilizadas para a perfuração de poços artesianos. Donato, percebeu uma oportunidade para alavancar as suas ambições de empreendedorismo. Curitibanos e região tinham uma demanda por abastecimento de água potável de qualidade. Donato não pensou muito, comprou as máquinas e começou então num outro ramo de atividade, o de perfuração de poços artesianos.

Donato fez parte da história curitibanense, pois com a aquisição das perfuratrizes, foi fundada a empresa “Auto Perfuração Curitibanense Donato Espíndola”, inscrita nos livros fiscais da Prefeitura, apta a desempenhar atividades de construções e instalações sanitárias. Os primeiros poços artesianos existentes em Curitibanos, construídos na década de 1960, anos antes do surgimento da oferta d’água da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento — CASAN, bem como, a construção de caixas d'água de concreto, foram de autoria da empresa do senhor Donato Espíndola.

Em Curitibanos, Donato auxiliava também na construção civil, foi o responsável pela ajuda técnica de várias construções de imóveis. Ele residia na Rua Henrique de Almeida, n.º 213, no centro da cidade. Existia neste endereço, uma casa com dois pavimentos. Hoje, para a localização do leitor, o endereço é onde está construído o prédio do senhor Walter Pellizzaro, quase em frente ao estacionamento do Bradesco e em frente às antigas instalações da Brasil Telecom e OI Telefonia, no calçadão entre as ruas Dr. Lauro Müller e a Coronel Vidal Ramos.

Essa atividade de perfuração de poços artesianos se estendeu para os distritos e as cidades vizinhas de Curitibanos, até que no dia 21 de março do ano de 1962, um dia antes do dia da água, por um descuido de dois funcionários da empresa, por volta das 19 horas, o filho de Donato, de nome Emílio, que na época, tinha 13 anos, enroscou o seu casaco enquanto a máquina ainda estava operando na perfuração do poço que fica na Rua Coronel Albuquerque, onde hoje ainda existe a enorme caixa d’água, construída na época para reservatório e abastecimento às casas da cidade. A máquina fez um barulho estranho enquanto o casaco do menino estava sendo enrolado. A irmã, Lindamir achou o menino praticamente morto, enquanto correu para desligar o motor. Chamaram ajuda. O senhor Edu Valim, açougueiro, veio correndo com uma faca para cortar o casaco do infante, em seguida, foi levado às pressas ao Hospital Frei Rogério. Não demorou muito e deram a notícia aos familiares que o menino chegara sem vida ao hospital. A senhora Maria de Lourdes, mãe de Emílio, fez uma oração e se apegou à ajuda divina para que o seu filho sobrevivesse, quase que imediatamente, telefonaram do hospital para a sua casa, dizendo-lhe que o pequeno Emílio voltou a respirar e o seu coração a bater novamente. Aquilo foi considerado um milagre, pois ele já havia sido diagnosticado como morto. No final das contas, o menino sobreviveu, ficou com sequelas, mas ainda, enquanto escrevo este texto, ele vive em Florianópolis, com os seus 72 anos.

Esse acidente familiar fez com que Donato se desapegasse gradativamente da atividade, apesar de não lhe faltar serviço, principalmente para os prefeitos da região, que o procuravam insistentemente para perfurar em seus territórios. Como espírita desde menino, Donato avaliou a situação e resolveu vender as máquinas para o senhor Danilo Santa Rosa.

Donato fundou o “Centro Espírita Casa dos Humildes”, no terreno onde houve o acidente com o filho. Toda a área, com vários lotes, daquela região pertenciam a Donato. Ele fez a doação da parte do Centro Espírita, com benefício direto do povo. A esposa o acompanhava e gostava da sua luta espiritual, apesar de nunca haver se desligado formalmente da fé católica, as crianças foram batizadas e fizeram a primeira comunhão na Igreja católica, tanto que estudaram no “Grupo Escolar Arcipreste Paiva” de Curitibanos, anexo ao Colégio Santa Teresinha, das Irmãs da Sagrada Família. Lindamir, uma das filhas, fez parte da Banda Guarany do Professor Plínio Calomeno, apoiado pela escritora Coracy Pires de Almeida, juntamente com outros jovens da época, ajudou a trazer mais alegria aos curitibanenses, através da música.

Após desfazer-se das máquinas perfuratrizes, Donato Espíndola trabalhou um tempo com o seu compadre, Augustho Gröne, na empresa estabelecida ao lado do Rio Marombas. Nunca se envolveu com política, apesar de ser muito amigo do senhor Wilmar Ortigari e da sua esposa, Áurea. 

Depois desse serviço na fábrica no Marombas, Donato retornou às origens, mudando-se com a família para a cidade de Blumenau, onde foi trabalhar para o Departamento de Estradas de Rodagem — DER, como fiscal de ônibus, na região de Blumenau. Hoje essa empresa estatal estadual mudou a sua nomenclatura para Departamento Estadual de Infraestrutura — DEINFRA.

Donato Espíndola faleceu no dia 29 de setembro de 1998, com 78 anos, após sofrer um infarto na cidade de Blumenau. O Centro Espírita fundado por ele, e posteriormente doado para o povo, ainda funciona em Curitibanos. As caixas d’água de concreto, mesmo as que não estão funcionando, permanecem como um marco da memória desse empreendedor.



Referências para o texto:



Informações da filha, Lindamir Espíndola.


Livro Imposto de Indústria e Profissões — 1956/1966 da Prefeitura Municipal de Curitibanos.






Um comentário:

  1. Prestou grande contribuição como espirita, trabalhando até o dia de sua morte. Parabens á meu pai (saudades). Parabéns á todos os envolvidos nesta linda homenagem. Lindamar

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