sexta-feira, 20 de maio de 2022

Medeiros Filho


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


João da Silva Medeiros Filho, nasceu em 5 de maio de 1880, na cidade de Laguna, Santa Catarina. Seus pais se chamavam João da Silva Medeiros e Máxima Gonçalves da Silva Medeiros. Quando jovem, formou-se em Bacharel em Direito pela Faculdade Nacional do Rio de Janeiro. Após formado, voltou para o estado natal, onde assumiu um cargo na Promotoria Pública de Florianópolis. Em 1910, dirigiu o jornal “Gazeta Catharinense”.

No ano de 1911, foi nomeado Juiz da Comarca de Campos Novos, onde chegou em setembro daquele ano. Após pouco mais de um ano, foi transferido para a Comarca de São Bento do Sul. Em 1915, era Juiz de Direito da Comarca de São Francisco do Sul, onde permaneceu até o ano de 1917.

Em 13 de novembro de 1917, por seus brilhantes serviços prestados, após a nomeação do então governador do Estado de Santa Catarina, Felipe Schmidt, o Juiz Medeiros Filho assumiu o cargo de Chefe de Polícia do Estado. No novo cargo, Medeiros Filho teve algumas dificuldades apresentadas a ele devido à Primeira Grande Guerra Mundial que ocorreu na Europa entre os anos de 1914 e 1918. Houve no estado, problemas com grupos de pessoas de origem alemã. Citamos como exemplo um caso de uma conspiração alemã, ocorrida em Lages, em dezembro de 1917 e desmantelada pela polícia catarinense.

O radical Jornal “O Clarão” de Florianópolis, na sua edição de 15 de dezembro de 1917, afirmava em editorial de capa que os alemães em Santa Catarina tinham por objetivo desestruturar usos e costumes tradicionais das famílias, “envenenar as almas, perverter as consciências”. Publicou uma lista de cidades e de pessoas que eram alemães e descendentes de famílias germânicas, que ocupavam cargos públicos. Segundo o Jornal, era perigoso para o Estado de Santa Catarina, ter essas pessoas em cargos públicos, principalmente aqueles envolvidos na área educacional. Em Santa Catarina, nesse período, houve perseguição aos imigrantes e descendentes germânicos, devido ao envolvimento da Alemanha na 1.ª Guerra Mundial. Medeiros Filho, no dia 7 de dezembro de 1917, exonerou um carcereiro alemão da cadeia de Joinville e substituiu por um brasileiro. Esse ato foi motivo para que vários jornais da época o elogiassem pelo ato, pois, segundo uma nota da imprensa: “vangloriamo-nos ao ver o distinto Dr. Chefe de Polícia, Sr. Medeiros Filho, praticar um ato de inteira justiça, querendo abrasileirar o nosso torrão natal. Que não fique só nisso o ato do digno chefe, que a julgar pelo seu caráter, e pelos seus antecedentes, fará na Chefatura de Polícia um saneamento moral, já que o Dom Juan nunca se lembrou de tal, por ser germanófilo reconhecido”. Havia muito preconceito naquela época. Os imigrantes e descendentes germânicos sofreram muitas discriminações e injúrias raciais por parte de muitos ignorantes brasileiros, incluíndo na lista, os letrados.

Em Curitibanos ocorreu um assassinato no dia 27 de dezembro de 1917. O fato está relacionado com a morte do antigo superintendente municipal, Francisco Ferreira de Albuquerque. Algumas pessoas afirmam até os dias atuais, que mesmo afastado de cargos municipais devido às ocupações públicas da esfera estadual, Albuquerque mandou em Curitibanos até o dia da sua morte, ocorrida numa cilada na estrada próxima à sua fazenda, onde ele foi com o seu filho Tiago, ainda menino, levar sal para o gado. Na volta à cidade, recebeu, à traição, os tiros que cortaram a sua vida ainda com vigor, e assim Curitibanos perdeu um dos seus administradores. O ocorrido foi no lugar chamado “Canhada Funda”, na estrada geral que ligava Curitibanos a Campos Novos, às 16 horas do dia 27 de dezembro de 1917. Um telegrama imediatamente, no mesmo dia 27 foi expedido para o Governador do Estado de Santa Catarina, informando-o do ocorrido.

No dia seguinte, pela manhã, o chefe da polícia do Estado, Medeiros Filho, partiu da capital com destino a Curitibanos, com a intenção de presidir pessoalmente o inquérito sobre o bárbaro crime. Dessa forma, o nome de Medeiros Filho ficou conhecido entre os curitibanenses, por tentar solucionar o caso da tocaia para Albuquerque.

Através da Lei Ordinária Municipal n.º 99/1950, o então prefeito Salomão Carneiro de Almeida denominou uma rua da cidade de Curitibanos com o nome de Rua Medeiros Filho. Essa rua é um trecho do antigo Caminho das Tropas, local por onde os antigos tropeiros passavam com suas cabeças de gado, muares e mercadorias. Assim, o magistrado estadual ficou perpetuado entre os curitibanenses.

Em 1.º de outubro de 1918, Medeiros Filho assumiu o cargo de Procurador Geral do Estado. De acordo com matéria na primeira página do jornal “O Estado” de Florianópolis, edição do dia 2 de outubro daquele ano, houve manifestação em frente à casa do juiz, com bandas musicais, discursos acalorados de apoio ao novo Procurador, e farta quantidade de cerveja, distribuída em copos aos presentes.

Em 1919, Medeiros Filho era um dos sete desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. No período que desempenhou essa função de Desembargador, foi presidente do Tribunal de Justiça, de 17 de dezembro de 1920 a 18 de dezembro de 1925, e de 2 de janeiro de 1942 a 18 de janeiro de 1947, quando findou a sua carreira profissional e se aposentou.

Assumiu o governo do Estado de forma interina, de 12 a 16 de agosto de 1922, na ausência do presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Raulino Horn. Em Florianópolis atuou com a filantropia, fundou a Caixa de Esmolas aos Indigentes e foi Provedor do Hospital de Caridade. Também foi poeta e membro do Instituto e Geográfico de Santa Catarina. Em 24 de janeiro de 1920, conforme uma relação de nomes estampada na página 8 do jornal “O Estado”, doou dinheiro para os flagelados pela seca no nordeste do Brasil. O que chama a atenção é como eram tratados esses flagelados, chamados de “desgraçados patrícios”.

Recebeu o Título de Cidadão Honorário de Florianópolis, em 1970, e Comendador da Ordem Equestre de São Silvestre. Faleceu no dia 1.º de maio de 1975. Como advogado, juiz de direito, jornalista, poeta e desembargador, deixou saudades para muitas pessoas que o conheceram no decorrer da sua vida.



Referências para o texto:



Câmara Municipal de Florianópolis. Memórias de um Parlamento: Honrarias Concedidas pela Câmara Municipal de Florianópolis. Florianópolis: Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina, 2002. 337 p.


Chefatura de Polícia. Jornal “O Estado”. Florianópolis, domingo, 11 de novembro de 1917, ano III, n.º 755, p. 2.

 

Chefia de Polícia. Jornal “O Estado”. Florianópolis, quarta-feira, 14 de novembro de 1917, ano III, n.º 757, p. 1.


Coronel Albuquerque. Jornal “O Estado”. Florianópolis, sexta-feira, 28 de dezembro de 1917, ano III, n.º 793, p. 2.


CORRÊA, Carlos Humberto Pederneiras. Os Governantes de Santa Catarina de 1739 a 1982. Florianópolis: Editora da UFSC, 1983. 356 p.


Côrte de Apelação. Julgamentos da Sessão de 8 do corrente. Jornal República. Florianópolis, 14 de novembro de 1935. Ano II, Ed. 494, p. 5.


Curitibanos — Lei Ordinária n.º 99/1950, denomina rua.


Desembargador Medeiros Filho. Jornal “O Estado”. Florianópolis, quarta-feira, 5 de maio de 1920, ano V, n.º 1501, p. 1.


Dr. Medeiros Filho. Jornal “O Estado”. Florianópolis, domingo, 11 de novembro de 1917, ano III, n.º 755, p. 1.


Dr. Medeiros Filho. Jornal “O Estado”. Florianópolis, quarta-feira, 2 de outubro de 1918, ano IV, n.º 1022, p. 1.


Juiz de Direito da Comarca de Campos Novos. Jornal “A Época”. Florianópolis, sábado, 9 de setembro de 1911, ano I, n.º 46, p. 3.


LINS, Paulo Cezar Zanoncini. A formação urbana de Curitibanos, 1851 — 1969. Curitiba/PR. Factum Editora. 2021, 1ª ed.


Lista de Juízes de Direito do Estado. Jornal “O Estado”. Florianópolis, quinta-feira, 20 de janeiro de 1916. Ano II, n.º 210, p. 2.


MEMÓRIA POLÍTICA DE SANTA CATARINA. Biografia João da Silva Medeiros Filho. 2022. Disponível em: <https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/1323-Joao_da_Silva_Medeiros_Filho>. Acesso em: 20 de maio de 2022.


Os sete desembargadores catharinenses. Jornal “O Estado”. Florianópolis, terça-feira, 10 de junho de 1919, ano V, n.º 1228, p. 1.


Pelos flagellados do nordeste. Jornal “O Estado”. Florianópolis, sábado, 24 de janeiro de 1920, ano V, n.º 1418, p. 8.


PIAZZA, Walter F. Dicionário Político Catarinense. Florianópolis: Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 1994. 714 p.


PIAZZA, Walter F. O Poder Legislativo Catarinense: das suas raízes aos nossos dias 1834-1984. Florianópolis: Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 1984. 800 p.


Uma conspiração allemã em Lages. Jornal “O Estado”. Florianópolis, sábado, 22 de dezembro de 1917, ano III, n.º 789, p. 1.


Um voto de louvor. Jornal “O Clarão”. Florianópolis, 15 de dezembro de 1917, ano VI, n.º 259, p. 4.

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