sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Napoleão Sbravati


Texto de Antonio Carlos Popinhaki

Napoleão Sbravati nasceu no dia 25 de janeiro de 1897, na localidade de Antônio Prado, Rio Grande do Sul. Seu pai se chamava Amadeu Sbravati e na ocasião do seu nascimento, ele tinha 37 anos. A sua mãe se chamava Teresa Danieli, quando deu à luz, tinha 24 anos. Amadeu e Teresa tiveram, pelo menos, cinco filhos identificados, Napoleão era o quarto da lista. Veio para Curitibanos para trabalhar com olaria, depois, como um bom empreendedor, prosperou em outras atividades marcantes. Casou-se no dia 25 de maio de 1918 com a jovem Elvira Silva, depois, Elvira Silva Sbravati. Ela era dois anos mais velha, por essa razão, no registro de casamento, foi anotado que ele tinha vinte e cinco anos. Do casamento, nasceram três filhos identificados, Nelson, Aldo e Aldir, todos fizeram parte da história da vila e cidade de Curitibanos, com contribuições significativas.

Uma característica bem marcante, foi a determinação de Napoleão Sbravati em Curitibanos. Apenas depois de dois anos na pequena vila, conseguiu montar a sua própria selaria. Ele exercia todas as funções inerentes ao ofício. Desde o atendimento, até a execução dos serviços de artesanato em couro. Dessa forma, ele foi conquistando uma parcela significativa dos clientes da região de Curitibanos. Napoleão percebeu os anseios do povo, pois havia muitas reclamações sobre as dificuldades de adquirir gêneros alimentícios de qualidade, apesar da existência de algumas casas comerciais. Surgiu-lhe, então, a ideia de montar uma nova casa de comércio, essa seria voltada ao fornecimento de alimentos e outros gêneros, objetivando os moradores da área urbana e também os da área rural, que vinham regularmente à sede do município. Depois de algum tempo com a atividade mercantil, no ano de 1923, nasceu a Casa de Comércio Sbravati.

No seu estabelecimento, Napoleão não mediu esforços para bem atender a exigente clientela. Trazia produtos do litoral por meio de carroças puxadas por cavalos, cargueiros e mulas. Também utilizava, para abastecer o seu comércio, a estrada de ferro que cortava as cidades de Caçador, Videira e Capinzal. Porém, em 1939, houve uma grande mudança. Napoleão comprou um caminhão. As estradas de rodagem estavam crescendo em melhorias e conservação. Com as suas características empreendedoras, Napoleão sentia cada vez mais a necessidade de expansão. Ele demonstrava cotidianamente em sua vida, possuir esse espírito empreendedor. Não sossegava, queria avançar.

Numa ocasião, na cidade de Joaçaba/SC, numa viagem de torrefação de café, mostraram-lhe uma turbina pertencente a um senhor de nome Francisco Lindner. Ele comprou o equipamento, visualizando em sua mente o progresso para a região de Curitibanos. Ao chegar na vila, logo procurou sócios para montar um negócio com aquela turbina. José Bula foi o primeiro a comprometer-se com Napoleão Sbravati, pois era o proprietário do salto do Rio Marombas, uma sequência de cachoeiras e queda d'água. Depois, vieram outros: João Granemann de Souza, Juvenal Bráulio Bacelar (esse, foi o agrimensor em Curitibanos, que levantou extensas áreas rurais. Rios e quedas d’água foram desbravadas e estudadas por ele, para o aproveitamento energético. No trabalho não conheceu o impossível), e outros.

O texto a seguir, foi uma adaptação dos escritos de Juvenal Bráulio Bacelar. Além de agrimensor, foi um grande estudioso da história do município de Curitibanos. Um pesquisador admirável. Se não fosse por seus escritos, muito da memória curitibanense teria sido extraviada. Ele escreveu sobre Napoleão Sbravati: “Napoleão, homem feito ao progresso, foi colhido por uma bela inspiração, agitado pelo desenvolvimento crescente e industrial que se desenvolvia neste vasto planalto. Era a época do abate do pinhal extenso, transformado em toras ou em tábuas de diversas dimensões, pelas serrarias instaladas na densa mata, sendo o produto exportado para o norte do país e para o exterior. Napoleão sonhou com o aproveitamento do pinho para transformá-lo em pasta mecânica, papelão e papel. Sonhou e diligenciou sua execução. Para isso, necessitava de uma força hidráulica compensadora e de potência de 500 HP. Tinha conhecimento do salto do Rio Marombas. Ele mantinha relações com o seu proprietário, seu amigo pessoal e oriundo do mesmo estado gaúcho, esse queridíssimo José Bula, de “penacho levantado” e ilimitada fidalguia. (...). Ao encontro dos dois, uma frase: “sabe, sabe.... Vou falar com a Mariquinha...”, com sua fala característica. “E...., sabe... sabe...” nasceu a primeira fábrica do município. De conversa em conversa, para a consecução da indústria. Seria o primeiro artigo, o levantamento do capital. Então, Napoleão organizou a sociedade com os seguintes convidados: José Bula, João Granemann de Souza, o autor destas linhas, eu, Juvenal Bráulio Bacelar, Hilário Andrade e mais o técnico alemão Augusto Gröne. Ajustada às condições do contrato comercial, sob a sigla Sbravati, Bula, Granemann & Cia. Ltda., após mudado para Marombas & Cia. Ltda., por ser demasiado extensa aquela. Teve começo no ano de 1942. Foram feitos os estudos do levantamento do “salto”, pelo sócio agrimensor Juvenal Bacelar e a construção da fábrica, pelo sócio e técnico Augusto Gröne. Concluídas as instalações, começou a funcionar lá pelo fim do citado ano de 1942 e, em janeiro do ano seguinte, seguiram-se as primeiras exportações para o mercado de São Paulo, onde existiam muitas fábricas de papel, que consumiam em sua fabricação de papel, pasta mecânica de boa qualidade. A fabricada aqui era aceita, sem rejeição. Na Junta Comercial do Estado foi feito o registro da fábrica, para que pudesse funcionar com regularidade. Foi convidado o Advogado Dr. Walter Tenório Cavalcanti para ser o assessor jurídico. (...) com muita dificuldade, foi adquirida da firma Oliveira um maquinário de papelão, facilmente montado pelo competente técnico Augusto Gröne. (...) a firma foi adquirindo mais pinhal e áreas de terras, instalando uma serraria no Rio das Pedras. Inesperadamente, em outubro de 1952, na tarde de um domingo, irrompeu um sinistro incêndio, destruindo o prédio e instalações, restando só a casa dos maquinários. Reunidos os sócios da firma, resultou ficar a fábrica Marombas para os sócios Augusto Gröne, uma parte do pinhal para os sócios, Dr. Osni Granemann de Souza, Dr. Walter Tenório Cavalcanti e Juvenal Bacelar, e a serraria do Rio das Pedras para os sócios herdeiros de Napoleão Sbravati e Hugo Bernardoni. (...) Augusto Gröne, inveterado e decidido, das cinzas da fábrica, qual uma nova fênix, levantou suas paredes, poliu e juntou as partes do maquinário sobrevivente, e mostrou para os céus uma nova fábrica. Assim não morria, nem desapareceria nas malhas do tempo essa grande indústria, a primeira a ser instalada no município”.

Napoleão Sbravati foi um homem desbravador, quando veio para Curitibanos, era ainda um rapaz. Não trouxe dinheiro, mas tinha uma cabeça muito criativa e atenta a qualquer oportunidade que pudesse ser transformada em progresso.

Faleceu no dia 12 de agosto de 1960, com seus 63 anos. No registro do seu falecimento consta que o falecimento se deu no seu domicílio, às 03:15 horas da madrugada. A causa da sua morte foi “uremia”, complicações renais. Em Curitibanos, deixou saudades entre aqueles que o conheceram. Foi sepultado no cemitério público municipal São Francisco de Assis, na mesma cidade que escolheu para viver e ajudar a desenvolver-se. No dia 9 de novembro de 1962, o então prefeito Hélio Anjos Ortiz, através da Lei Ordinária Municipal n.º 511/1962, denominou uma rua da cidade de Curitibanos com o nome de “Rua Napoleão Sbravati”, com início à Rua Alzerino Waldomiro Almeida, seguindo rumo norte, paralela à Rua Faustino José da Costa. Uma justa homenagem.



Referências para o texto:


Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 511/1962, denomina rua.


Registro de Casamento de Napoleão Sbravati. "Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999", database with images, <i>FamilySearch</i> (https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:6FNL-67VG : 4 August 2022), Napoleão Sbravanti, 1918.


Registro de Óbito de Napoleão Sbravati. "Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999," database with images, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-62YS-MTF?cc=2016197&wc=MXYG-128%3A337701401%2C337701402%2C338783801 : 22 May 2014), Curitibanos > Curitibanos > Óbitos 1954, Jan-1965, Abr > image 155 of 305; cartórios no estado de Santa Catarina (city registration offices), Santa Catarina.


Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais de Curitibanos.


POPINHAKI, Antonio Carlos. Popiwniak / Antonio Carlos Popinhaki. — Blumenau: 3 de Maio, 2015. 173 p.

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