Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Possidônio Pereira de Camargo nasceu em 17 de maio de 1898, na cidade de Lages, no planalto serrano de Santa Catarina. Ele era filho de João Pereira de Camargo e Prudência Domingues de Arruda, ancestrais de uma família já consolidada como grande proprietária de terras nas regiões de São Joaquim, Lages e Curitibanos. O ambiente de sua infância foi marcado pela vastidão das propriedades familiares, onde a criação de animais era largamente explorada.
No início do século XX, Possidônio mudou-se para o município de Curitibanos, estabelecendo-se inicialmente na Fazenda da Cadeia, uma herança familiar. Sua visão empreendedora e ambição por terras logo se manifestaram. Ele expandiu significativamente seu patrimônio, adquirindo vastas extensões de terra em localidades como os campos nativos do Guarda-mor e no antigo distrito de Ponte Alta do Sul.
O ápice de sua empreitada como latifundiário ocorreu no início da década de 1930, com a compra de uma grande área nos Cabaçais do Meio. Foi ali que fundou a Fazenda Possidônio, construindo uma casa-sede que se tornou o lar definitivo para a maior parte de seus filhos e o epicentro de suas operações. De acordo com depoimentos de familiares, como o de seu genro Antonio Popinhak, Possidônio chegou a acumular cerca de 70 milhões de metros quadrados de terras, o equivalente a quase 3 mil alqueires paulistas, um testemunho de seu sucesso e influência como um dos maiores proprietários rurais da região.
Possidônio casou-se em 14 de maio de 1925, na então localidade de São José do Cerrito, com Maria Conceição dos Santos, com quem teve onze filhos. A prole tornou-se bem conhecida na região, seguindo os passos do pai como pecuaristas e criadores de animais de diversas raças. Contudo, sua vida familiar também teve suas complexidades. Antes do seu casamento, Possidônio manteve um relacionamento com Belisária Maria do Rosário, com quem teve um filho, Paulino Fernandes de Camargo.
A vida no interior de Curitibanos na primeira metade do século XX era árdua, e a família de Possidônio não foi poupada das dificuldades. Um episódio marcante foi o nascimento prematuro de suas filhas gêmeas, Theresinha e Maria (Mariinha), em 1935. Havia a ausência de infraestrutura médica adequada, dependiam do único médico da região, o germânico Alfredo Lemser, que percorria longas distâncias a cavalo para atender a população. A pequena “Mariinha”, era muito frágil devido ao nascimento prematuro. Infelizmente, não resistiu e faleceu, sendo sepultada no cemitério existente na localidade de Santa Cruz do Pery, interior de Curitibanos. Entretanto, Theresinha, igualmente, nascida extremamente frágil, sobreviveu contra todas as expectativas.
Preocupado com a educação dos filhos e as precárias condições de deslocamento até a escola de Santa Cruz do Pery, onde as crianças muitas vezes tinham de caminhar longas distâncias descalças, sob chuva e frio, Possidônio tomou uma atitude característica de um homem de recursos: contratou um professor particular, conhecido como “Zeca”, para lecionar para seus filhos e filhas e também para as crianças vizinhas em sua casa, do primeiro até o quarto ano primário.
Possidônio Pereira de Camargo faleceu em 11 de outubro de 1978, em Curitibanos, aos 80 anos de idade, vítima de uma parada cardíaca e insuficiência respiratória. Seu corpo foi sepultado no próprio município que ajudou a desenvolver.
Seus filhos e filhas receberam grande quantidade de terras e de matas nativas. Para alguns deles, a exploração de madeira, especialmente do imponente pinheiro araucária, era uma atividade de grande monta e renda financeira. Um exemplo emblemático da escala dessas posses, era o “Pinhal da Fazenda da Cadeia”, cuja extração levou sete anos para ser concluída apenas por um dos herdeiros. Devido ao porte colossal das árvores, algumas, produzindo toras tão grandes que, nas décadas de 1970, exigiam um caminhão inteiro para transportar uma única unidade. Nem todos os herdeiros de Possidônio e Maria se desfizeram dos enormes pinhais, ainda há, em Curitibanos, algumas propriedades que preservam esse ambiente natural.
Seu legado como um dos pilares do crescimento de Curitibanos foi oficialmente reconhecido em 19 de setembro de 1980, quando a Lei Ordinária Municipal n.º 1463/1980, sancionada pelo então prefeito Wilmar Ortigari, batizou uma rua do Bairro Nossa Senhora Aparecida de “Rua Possidônio Pereira de Camargo”. Essa homenagem póstuma eternizou na geografia da cidade a memória do pecuarista Possidônio, um homem cuja vida esteve intrinsecamente ligada à posse da terra, à pecuária e à saga de sua própria família, personagens fundamentais na história da colonização e do progresso do planalto catarinense.
Referências para a produção do texto:
FIGUEIREDO, Edinna B. Pereira. Raízes centenárias de São Joaquim da Costa da Serra. Videira: Êxito, 2018. 708 p.
Fotografia: Acervo da família Camargo.
Informações de Getúlio Pereira de Camargo (2024).
Informações de Luiz Marcos Cruz (2024).
Informações de Aldair Goeten de Moraes (2024).
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