Texto de Antonio Carlos Popinhaki
José Ferreira de Oliveira Bueno nasceu em Curitiba, então parte da Capitania de São Paulo, no dia 2 de novembro de 1808. Filho de João Ferreira de Oliveira Bueno e Maria Helena do Nascimento Lima, sua origem familiar remontava a figuras históricas significativas, como o descobridor Pedro Álvares Cabral, o bandeirante Amador Bueno da Ribeira e o navegador Martin Afonso de Sousa. Essa linhagem ilustre marcou sua trajetória, inserindo-o nas redes de parentesco e influência que caracterizavam a elite luso-brasileira do período. Casou-se duas vezes: primeiro com Inácia Maria da Silva, com quem teve três filhos; e, após ficar viúvo, com Maria Bernardes Pereira Ramos, com quem teve onze filhos.
Sua atuação pública e profissional concentrou-se na região da Lapa, no Paraná, onde exerceu o cargo de Capitão da Guarda Nacional e chegou a ser o principal mandatário local. No entanto, foi como tropeiro e empreendedor que José Ferreira Bueno deixou sua marca mais duradoura. Ele organizava e conduzia tropas de muares do Rio Grande do Sul até a feira de Sorocaba, em São Paulo, e comercializava erva-mate para os engenhos do litoral paranaense. Esse constante deslocamento pelo interior do sul do Brasil permitiu-lhe conhecer e se estabelecer em regiões ainda pouco ocupadas.
Em 21 de maio de 1829, como Capitão Comandante interino, ele enviou um ofício ao Sargento-Mor Leandro da Costa relatando a chegada pacífica de um grupo de indígenas guarapuavanos ao “Acampamento dos Curitibanos”. No documento, descreve que os nativos, em sinal de submissão, entregaram suas armas. Este registro é considerado a primeira prova documental da existência do povoado que daria origem à cidade de Curitibanos, em Santa Catarina, e aponta José Ferreira Bueno como sua primeira autoridade reconhecida, consolidando um pouso tropeiro em um núcleo de povoamento estável.
Além de Curitibanos, sua obra colonizadora estendeu-se mais ao sul. Por volta de 1845, fundou Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul, então conhecida como “Berivas” pelos tropeiros. Adquiriu vastas áreas de campo, estabeleceu uma fazenda e doou terrenos para a formação do arraial. A doação, inicialmente verbal, foi posteriormente legalizada por seus descendentes. Sua atuação conectou-se ainda às rotas abertas por expedições anteriores, como a de Antônio da Rocha Loures (1819), e à atuação militar de seu parente por afinidade, o Major Atanagildo Pinto Martins, que atuou na região durante o início do século XIX.
José Ferreira de Oliveira Bueno faleceu na Lapa, Paraná, em 5 de novembro de 1875. Por muito tempo, sua contribuição para a ocupação e formação urbana do sul do Brasil permaneceu pouco conhecida fora de círculos genealógicos e historiográficos locais. A partir da segunda metade do século XX, alguns pesquisadores da história regional resgataram sua trajetória, propondo-o como uma figura de integração regional. Seu legado é o de um agente dinâmico da expansão luso-brasileira, um semeador de povoados que, a partir das rotas tropeiras, ajudou a tecer o mapa humano e econômico do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Referências para o texto:
Sperandio, Selene do Amaral Di Lenna. Quem Somos. Curitiba, 1977.
Barbosa, Fidélis Dalcin. Vacaria dos Pinhais. Caxias do Sul, 1978.
Lemos, Zélia de Andrade. Curitibanos na História do Contestado. Curitibanos, 1983.
Moraes, Demétrio Dias de. Carta à Prefeitura de Lagoa Vermelha (28.05.1984).
Documentos do Arquivo Nacional (Fundo dos Ministérios, IJJ 9.438).

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