Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Ivone Therezinha Magalhães nasceu no dia 2 de setembro de 1930, na residência dos seus pais, Eddy Moogem Magalhães e Maria Tizean, localizada à Rua Coronel Fagundes, na antiga Estação de Rio Caçador, hoje município de Caçador, interior de Santa Catarina, por volta das 20:30 horas. Seus pais, conforme o registro de nascimento, ambos eram solteiros nessa ocasião, vindo a casar-se somente em 23 de fevereiro de 1938, quando já haviam nascido três filhos. A família Moogem Magalhães viveu longos anos na região, sendo uma das centenas lá estabelecidas, fornecedoras de suínos para a antiga Perdigão, de Videira, quando a empresa ainda era dirigida por membros da família Brandalize.
Ivone cresceu entre os parentes de Caçador, Campos Novos e Curitibanos. Após concluir toda a escolaridade exigida pela lei da época (primário e ginásio), quando tinha 24 anos, ou seja, em 1954, formou-se em Odontologia pela Faculdade de Farmácia e Odontologia de Santa Catarina, localizada em Florianópolis. Ivone trabalhou arduamente, exercendo a sua profissão de dentista em Curitibanos, atendendo com o seu gabinete particular (clínica), na casa que ela comprou do seu tio, o senhor Fioravante Ortigari, localizada na esquina das Ruas Vidal Ramos com a Hercílio Luz, no centro da cidade. Ela foi a primeira mulher a exercer tal profissão em Curitibanos. Começou a exercer a sua atividade profissional em 1955. Pouco tempo depois de formada como dentista, sendo uma pessoa erudita e intelectual, foi convidada pelo então prefeito da época, o senhor Evaldo Amaral para lecionar no antigo Grupo Escolar Arcipreste Paiva. Ela foi professora das disciplinas de Ciências e Biologia.
No início dos anos da década de 1960, passou pela região de Curitibanos um jovem mineiro, bem-afeiçoado, vendendo cursos de inglês da BBC de Londres. Oriundo de Belo Horizonte, na empresa em que trabalhava, era responsável por parte da região sul do Brasil. Uma professora, moradora de Curitibanos, de nome Anidir Bortolon, adquiriu o curso desse jovem que tinha um sotaque diferenciado. Seu nome era Oscar de Souza Vilas Boas. Alguns anos depois dessa venda, em Belo Horizonte, Oscar montou uma empresa de comercialização de madeiras. Por ter viajado ao sul do Brasil e conhecido algumas cidades, ele sabia que Curitibanos era um polo madeireiro e que podia atender a sua demanda, que era, basicamente, uma fatia do mercado da região metropolitana de Belo Horizonte. Ele começou a negociar com os madeireiros de Curitibanos, adquirindo várias cargas de madeira serrada mensalmente. Dessa forma, fez amizades com várias pessoas, sendo um casal em especial, os Bortolon.
Havia, naquela época, em alguns educandários de Curitibanos, alguns gabinetes odontológicos, onde a doutora Ivone atendia regularmente os alunos que apresentavam problemas dentários. Uma escola em particular, que dispunha desse recurso, era a Escola de Educação Básica Estadual Casimiro de Abreu, que na época, era chamado de Colégio Secundário Casimiro de Abreu. Ivone era amiga e conhecida de Anidir Bortolon, que exercia a profissão de professora naquele local. Certo dia, o esposo de Anidir abordou o jovem Oscar com uma conversa diferenciada, isso ocorreu numa das suas viagens até Curitibanos, vendo que o rapaz era solteiro, mas que tinha muita determinação, lhe falou que conhecia “uma moça muito inteligente”. Na verdade, ele atuou como uma espécie de “cupido”. Certo dia, Oscar e Ivone se conheceram dentro das dependências da Loja Renner, que naquela época, estava estabelecida em frente onde está hoje a Panificadora Novo Pão. Quando o jovem mineiro vinha a Curitibanos, se hospedava no antigo Hotel Montibeller. A doutora Ivone era muito inteligente e combinou bem com Oscar, após um breve namoro, vindo a se casar com ele, formando um belo casal dentro da sociedade curitibanense.
Do casamento, nasceram duas filhas, que trouxeram alegria ao lar do casal Vilas Boas. Ivone continuou a atuar como dentista em Curitibanos, exercendo essa atividade por longos anos, até a sua aposentadoria. Oscar de Souza Vilas Boas trabalhou com várias atividades em Curitibanos, no ramo de lavagem de automóveis, atuou no ramo imobiliário, foi representante comercial e empregado em empresas locais que estavam ligadas ao comércio exterior.
A doutora Ivone era uma pessoa muito sensível e gostava tanto de animais, quanto de plantas. Ela foi a responsável, nos anos da década de 1980, por plantar em frente à sua casa, dois pés de ipês-amarelos, que hoje estão crescidos e embelezam o local no final do inverno, prenunciando a primavera, com as suas belas flores. Inicialmente, teve preocupação, devido aos vândalos que existiam em Curitibanos, que depredavam as árvores e as plantas existentes nas ruas. Por isso, mandou elaborar grades de ferro para proteger as mudas de ipês, até que os mesmos pudessem ser considerados fora de perigo. Ela também gostava de animais, principalmente de cachorros. Tinha vários deles simultaneamente. Quando um cachorro morria, era uma tristeza muito grande para a doutora. Segundo os familiares, “às vezes, ela se emocionava ao lembrar dos cachorros que não estavam mais entre os demais vivos”. Ela sempre tratou bem os seus cachorros, alimentando-os com atenção e dedicação, observando sempre os horários das refeições.
Tambem foi sócia-fundadora da Associação das Professoras Aposentadas — APA de Curitibanos, a biblioteca da APA tem o seu nome como homenagem, foi sócia-fundadora do Pinheiro Tênis Clube e sócia do Clube Sete de Setembro. Tinha muita amizade com mulheres da maçonaria, por essa razão, estava sempre nos cafés e alguns encontros abertos daquela instituição. Trabalhou como dentista, nos Colégios Casimiro de Abreu e Santa Teresinha, depois trabalhou no Posto de Saúde do bairro do Bosque de Curitibanos, até a sua aposentadoria. Ivone tinha o hábito da leitura, exercendo essa atividade diariamente, era uma devoradora de livros, principalmente literatura e romances policiais.
No início da tarde do dia 16 de abril de 2013, os bombeiros de Curitibanos foram chamados às pressas para conter um princípio de incêndio na casa do casal Vilas Boas. Felizmente, puderam vencer as chamas, que começaram na parte superior da casa, sendo essa, posteriormente, reconstruída. A doutora Ivone, que já estava com 83 anos naquela ocasião, esqueceu o seu lençol térmico ligado, houve assim, o princípio de incêndio. A casa é bem antiga e foi construída em madeira de imbuia pelo antigo construtor ucraniano João Popinhak, para servir de moradia ao casal Fioravante Ortigari e sua esposa Antônia Tizean. Anos depois, foi vendida para a sobrinha Ivone, que fez do local, o seu lar.
No mesmo ano do incêndio, ano de 2013, ela recebeu uma homenagem do Conselho Regional de Odontologia/SC, pelos relevantes serviços prestados à comunidade. Após anos de trabalhos na cidade que a acolheu, a doutora Ivone recolheu-se ao seu lar, uma vez que as filhas cresceram e tomaram rumos diferentes em suas vidas. Com o passar dos anos, enfermidades naturais surgiram, como o princípio de Alzheimer. Precisou de cuidados especiais, a família contratou cuidadoras, profissionais da saúde, para acompanhar diariamente seus passos. No dia 26 de julho de 2022, com seus invejáveis 91 anos, faleceu, motivada por um acidente vascular cerebral — AVC, deixando saudades. A família e os amigos, bem como, a sociedade curitibanense, sentiram a perda dessa, que ajudou, dentro das suas limitações, a construir a história de Curitibanos. Até os dias de hoje, muitos lembram que passaram pelo gabinete odontológico montado nas escolas, pelas mãos habilidosas da doutora Ivone Therezinha Magalhães Vilas Boas.
No mesmo dia do seu falecimento, o prefeito de Curitibanos, Kleberson Luciano Lima, emitiu Nota de Pesar e Solidariedade aos familiares, enfatizando a perda de uma das primeiras profissionais da área no município. No dia 27 de julho de 2022, através do Requerimento Interno n.º 105/2022, de autoria dos vereadores, Jairo Pereira Neto e Lisiomar Popinhak França, foi apresentado ao plenário para deliberação, os votos de pesar aos familiares da senhora Ivone Therezinha Magalhães Vilas Boas, sendo unanimemente aprovado e de forma favorável, pelos parlamentares da Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos. Uma singela homenagem dos representantes do povo.
Referências para a produção do texto:
ALVES, Sebastião Luiz. Fioravante Ortigari. Blog curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2013/05/fioravante-ortigari.html
Com informações de Oscar de Souza Vilas Boas.
Com informações de Vanessa Vilas Boas.
Curitibanos — Nota de Pesar e Solidariedade aos familiares.
Curitibanos — Requerimento n.º 105/2022. Votos de pesar aos familiares.
GASPARINI, Franciele. Vida construída com trabalho e doação. Jornal A Semana. 31 de agosto de 2018. Informes publicitários.
Registro de Nascimento de Ivone Therezinha Magalhães Vilas Boas. Portal FamilySearch. On-line, disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-61SF-XF?i=70&wc=MXYP-BW1%3A339195401%2C339195402%2C339199501&cc=2016197&personaUrl=%2Fark%3A%2F61903%2F1%3A1%3A8RDB-D2T2
WESTPHAL, Renato. Incêndio em residência no centro de Curitibanos. Portal A Semana on-line, disponível em: https://asemanacuritibanos.com.br/policia/incendio-em-residencia-no-centro-de-curitibanos-1-1609302/
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