Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Quando Lino Moraes da Silva nasceu, em 23 de setembro de 1885, no município de Curitibanos, seu pai, Manoel Tristão da Silva, tinha 32 anos e sua mãe, Maria Antonia de Moraes, tinha 26 anos. No livro de Batismos da Paróquia de Curitibanos, no verso da página 76, consta o registro de n.º 102 que diz:
“Aos sete dias do mês de dezembro de mil oitocentos e oitenta e cinco, nesta matriz de Nossa Senhora da Conceição de Coritibanos, baptizei solenemente e pus os santos óleos ao inocente Lino, nascido em vinte e três de setembro deste ano. Filho legítimo de Manuel Tristão da Silva e Maria Antonia de Moraes. Foram padrinhos, Nicolau Goetten e Elena Granemann. — Vigário Padre Thomas Sobrinho.”
Maria era uma mulher branca de origem portuguesa (família Moraes). Provavelmente, seu marido, Manoel Tristão, era um homem afrodescendente, pois seu filho Lino era um homem bem moreno. Não se tem informações quanto à origem e à etnia de Manoel Tristão.
O casal Nicolau Goetten e Helena Granemann eram de origem germânica. Eles tiveram 13 filhos. Naqueles tempos do final do século XIX, algumas famílias de imigrantes e descendentes de alemães residentes no interior de Santa Catarina tinham por hábito se casarem entre a própria linhagem. Essas famílias eram os Granemann, os Goetten, os Rauen, os Driessen e poucas outras famílias radicadas na região. Os 13 filhos de Nicolau e Helena eram chamados Victor, Lídia, Luiza, Izabel, Hermelina, Augusto, João Pedro, Alfredo, Altino, Alecindro, José Emílio, Emílio e Izarina. Naqueles tempos do final do século XIX, era comum algumas famílias, devido à grande quantidade de filhos e dos recursos financeiros, darem algum dos filhos para outras famílias criarem. Foi o que aconteceu com Lino Moraes da Silva.
Manoel Tristão e Maria Antonia deram o pequeno Lino para criação ao casal Nicolau e Helena. Lino, na nova família, ficou conhecido popularmente por todos que o rodeavam em seus afazeres cotidianos por “Lindoca”. O menino era diferente dos demais filhos de Nicolau e Helena, era mais determinado e mais aplicado em todas as tarefas e serviços a ele designados.
Certo dia, Nicolau contratou um professor para ensinar os 13 filhos e o filho criado. Além desses, estavam na classe de ensino mais 4 primos, filhos de Felipe Goetten e Francelina Granemann. A classe era composta, assim, por 18 alunos. Esse professor tinha por hábito avançar nos estudos por livros. Ele repassava a todos o conteúdo de um determinado livro e depois avançava para o próximo livro. O ensino era diferente do atual, onde os alunos progridem de ano em ano ou de série em série. Naqueles tempos, o progresso era medido por livro apresentado pelo professor.
A maioria dos filhos de Nicolau e também os filhos de Felipe aprenderam pouco com os ensinamentos do professor, entretanto, Lino se destacou entre os demais. Aprendeu a ler e a fazer cálculos matemáticos necessários que lhe serviram para o resto da sua vida. Com 13 anos, apesar da tenra idade, ele já ia de chefe da tropa de cargueiros que descia ao litoral de Santa Catarina. Levava vários produtos para vender em Blumenau, como o apreciado queijo serrano e, invariavelmente, o charque.
Podemos imaginar em nossos dias, uma criança de 13 anos com tamanha responsabilidade? Pois esse era Lino Moraes da Silva. Ele comercializava os produtos da região de Curitibanos e conseguia abastecer os cargueiros para a volta com produtos que eram escassos na região serrana, como o açúcar e o café. Trazia também arroz, numa época em que o tratamento para esse cereal era praticamente inexistente, somente o descascamento. Por não sofrer algum processo adicional conhecido na época, o arroz não podia ser estocado por longo tempo, pois poderia carunchar facilmente. Dessa forma, Lino, quando descia ao litoral, trazia o suficiente de arroz para garantir o suprimento até a próxima viagem.
Dessa forma, o pequeno Lino se destacou entre os demais filhos de Nicolau. Sempre que viajavam, ele era o chefe, negociava e cuidava do dinheiro com muito zelo e cuidado. Era hábil nas negociações, sempre trazendo vantagem financeira para a família. Certa vez, foram levar uma tropa de mulas para o interior de São Paulo. Não se sabe exatamente o destino dessas mulas, o que se perpetuou nas lembranças do seio da família é que, devido ao extenuante percurso, as mulas, perto do destino, ficaram muito magras e impróprias para se negociar. Então, o pequeno Lino alugou com um proprietário rural um lugar para a engorda dessas mulas com o objetivo de comercializar. Foi necessário a permanência no interior de São Paulo por um ano inteiro até que os animais se recuperaram e ganharam peso.
Nessa viagem, Lino pegou uma terrível febre amarela. A febre amarela foi uma das causas do encerramento da famosa feira de Sorocaba, aliado ao declínio das negociações de muares. Sorocaba teve a sua última feira em 1897. Dessa forma, as mulas que Lino levou para o interior de São Paulo foram negociadas em algum lugar fora da feira que já havia sido extinta há alguns anos antes dessa viagem.
Devido ao seu excepcional desempenho, Nicolau e Helena consentiram com o casamento de Lino com uma das suas filhas. Depois de completar 30 anos de idade, Lino casou-se com Luiza Goetten, de 26 anos, em 15 de dezembro de 1915, na cidade de Curitibanos, Santa Catarina. Após o casamento, o casal teve pelo menos dois filhos e três filhas. Seus filhos eram conhecidos como Alfredo, Altino, Helena, Hilda e Maria Edir, todos com o sobrenome Moraes Goetten.
Lino Moraes da Silva era uma pessoa elegante, de estatura alta, gostava sempre de andar bem vestido, inclusive, de terno. Mesmo em casa, não dispensava o uso do paletó e do colete. Usava gravata somente em ocasiões de festividades, quando a ocasião exigia. Para os netos, era chamado carinhosamente pelo apelido de “Coca”.
Lino faleceu em 27 de julho de 1968, na mesma cidade natal de Curitibanos, com 82 anos. Em 19 de setembro de 1989, atendendo a uma indicação do vereador da época, Sálvio Zulmar de Souza, o então prefeito de Curitibanos, Ulysses Gaboardi Filho, através da Lei Ordinária Municipal n.º 2309/1989, denominou uma rua do bairro Getúlio Vargas com o nome de Rua Lino Moraes da Silva. Uma justa homenagem a este curitibanense que muito fez por Curitibanos e deu um belo exemplo de trabalho e honestidade.
Referências para o texto:
A história do tropeirismo em Sorocaba. Disponível on-line, http://taxicadeirante.comunidades.net/a-historia-do-tropeirismo-em-sorocaba
Com informações de Aldair Goeten de Moraes
Com informações de Antonio de Paula Goetten
Livro de registro de batismos da Paróquia de Curitibanos.
Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 2309/1989
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