Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Nascido sob o céu vasto do Rio Grande do Sul em 24 de fevereiro de 1871, na pequena Lagoa Vermelha, Vergílio Pereira ou Virgilio Pereira carregaria por toda vida o orgulho e as tradições gaúchas que marcariam profundamente sua trajetória. Filho de Antônio Pereira. Ancheta e Geralda Tomazia Alves, desde cedo aprendeu os valores do trabalho, da honra e da hospitalidade que mais tarde se tornariam sua marca registrada em Santa Catarina.
A Revolução Federalista de 1893, liderada por Gaspar Silveira Martins e Gumercindo Saraiva, representou um divisor de águas em sua vida. Como muitos gaúchos da época, Vergílio foi forçado a deixar sua terra natal, iniciando uma jornada que o levaria primeiro a Campos Novos e finalmente a Curitibanos. A cidade, que ele adotaria como seu lar definitivo, testemunharia o florescer de seu caráter e de suas realizações.
Na Fazenda da Roseira, adquirida após sua chegada, Vergílio não apenas construiu um império pecuário, mas criou um verdadeiro símbolo de excelência agrícola. Seu gado, sempre composto pelos melhores touros, e seus campos bem cuidados eram motivo de orgulho e admiração. Mas mais que isso, a Fazenda da Roseira se tornou um espaço de acolhimento, onde visitantes eram recebidos com a autêntica hospitalidade gaúcha: chimarrão feito com erva-mate especial trazida do Sul, cigarros de fumo de corda selecionado e churrascos que ficaram na memória de todos que tiveram o privilégio de prová-los.
Sua vida familiar refletia os valores de uma época. Casado primeiro com Eliza Eugênia de Almeida em 22 de outubro de 1895, na residência do Coronel Henrique Paes de Almeida Senior, união que durou até 18 de março de 1927, data do seu falecimento, e depois, casou-se com Infância Silveira Pires, pertencente à tradicional família Pires. Vergílio construiu uma extensa família que daria continuidade ao seu legado. A perda precoce da filha Juventina, aos 12 anos, marcou profundamente o patriarca, revelando a face mais humana por trás do durão coronel da Guarda Nacional.
Na esfera pública, sua atuação foi igualmente marcante. Como vereador em diversos períodos, Vergílio trouxe para a administração municipal a mesma firmeza e visão empreendedora que aplicava em seus negócios. Seus conselhos, fundamentados na experiência prática e no conhecimento das necessidades locais, eram altamente valorizados pelos contemporâneos.
O episódio do ataque à Fazenda da Roseira durante a Guerra do Contestado revelou toda a coragem e determinação do coronel. Durante três dias de resistência, Vergílio demonstrou não apenas bravura, mas um profundo senso de proteção à sua família e propriedade. A perda de um camarada neste confronto marcou-o profundamente, tornando-se uma lembrança dolorosa que carregaria pelo resto da vida.
Mesmo após o seu falecimento, ocorrido no dia 24 de outubro de 1944, às 23:30 horas em Curitibanos, a memória de Vergílio Pereira continuou a inspirar. Em 1971, quando se completou um século de seu nascimento, a cidade prestou-lhe justas homenagens, reconhecendo-o como um dos grandes arquitetos de seu desenvolvimento. A Rádio Coroado, em especial, manteve viva sua memória, difundindo suas histórias e conquistas para as novas gerações.
Hoje, passados mais de um século de sua chegada a Curitibanos, o Coronel Vergílio Pereira permanece como figura emblemática - símbolo de uma época em que o trabalho duro, a coragem e o compromisso com a comunidade eram os pilares fundamentais do caráter. Sua história não é apenas a de um homem, mas a de uma região em formação, contada através da vida de quem ajudou a moldá-la com suas próprias mãos e com o suor de seu trabalho.
Em 21 de maio de 1959, o então prefeito de Curitibanos, José Bruno Hartmann denominou, através da Lei Ordinária Municipal n.º 399/1959 uma rua da cidade com o nome de “Rua Coronel Virgilio Pereira”. Uma justa homenagem a este homem que viveu e muito fez pelo progresso de Curitibanos.
Referências para o Texto:
Com informações de Aldair Goeten de Moraes
Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 399/1959.
Escritos antigos de Juvenal Braulio Bacelar, guardados no acervo histórico do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza de Curitibanos.
Portal FamilySearch.
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