terça-feira, 7 de outubro de 2025

Ana Alves da Costa


Texto de Antonio Carlos Popinhaki

Ana Alves Ribeiro, depois de casada, Ana Alves da Costa nasceu em 29 de setembro de 1873, na localidade de Campo Belo, na época, distrito de Lages, Santa Catarina. Era filha de Gaspar da Silva Ribeiro (nascido em 1831) e Horacia Maria Alves dos Santos (1837–1934), e teve uma numerosa família, com pelo menos 17 irmãos.

No dia 2 de março de 1897, Ana casou-se com Faustino José da Costa (1862–1937). O casal teve sete filhos: Bernardina Alves da Costa (1897–1986), Antonio da Costa (1899–?), Maria Sebastiana Costa (1901–1987), Valério Costa (1902–1936), João da Costa (1907–1907) e mais dois filhos cujos nomes não foram detalhados nos registros consultados.

Conhecida por sua profunda fé católica, na década de 1930, Ana tornou-se protagonista de uma curiosa história envolvendo um padre da paróquia de Curitibanos. Ele lhe ofereceu a venda de uma “cadeira de ouro no céu”, com o direito de usá-la somente após a morte. Como fazendeira e pessoa de posses, Ana aceitou a proposta e pagou um valor elevado pela promessa. Anos mais tarde, quando seu marido, Faustino, faleceu, o padre retornou à sua residência e informou-lhe que Faustino havia usado a cadeira que ela adquirira. Caso desejasse garantir seu próprio lugar, precisaria comprar outra cadeira, o que ela fez. Desse singular acordo, restou um recibo que até hoje é preservado por seus descendentes.

O episódio da compra da “cadeira de ouro no céu” por Ana Alves da Costa é muito mais do que uma simples anedota curiosa. Ele serve como um pequeno conto repleto de significados profundos, que nos permite refletir sobre a natureza humana, a fé e o contexto social de sua época. Em primeiro lugar, a história revela o poder da fé e a necessidade humana de tornar o sagrado em algo tangível. Para Dona Ana Costa, a salvação e o conforto no além-vida não eram conceitos abstratos, mas algo que podia ser garantido, adquirido e, crucialmente, comprovado por um recibo. Esse ato ilustra um desejo profundamente arraigado de controlar o que é por natureza incerto e invisível, transformando a promessa espiritual em uma transação material concreta.

No entanto, essa profunda devoção também nos alerta sobre como a vulnerabilidade e a boa-fé podem ser exploradas. A figura do padre, detentor de autoridade religiosa e confiança, identificou na sinceridade da fé de Ana uma oportunidade. A venda de um “lugar no céu” aproveita-se do medo da morte e do desejo universal de assegurar o repouso eterno para si e para os entes queridos. Este aspecto da narrativa serve como um lembrete atemporal da necessidade de discernimento, mesmo em assuntos de devoção mais pura. A compra da segunda cadeira, no entanto, introduz uma camada de profunda emoção e amor incondicional. Ao adquirir outro “assento” celestial após a morte de seu marido, Faustino, o gesto de Ana transcende a mera ingenuidade. Tornou-se um ato final de cuidado e dedicação, um desejo silencioso de garantir que eles pudessem estar juntos no paraíso, demonstrando que o afeto pode, por vezes, falar mais alto do que a lógica mais elementar.

Por fim, a história nos oferece uma valiosa janela para a cultura e o contexto histórico-social do interior brasileiro no século passado. Práticas como essa, hoje vistas com estranheza, não eram totalmente incomuns em comunidades rurais, onde a fé e a vida cotidiana estavam intrinsecamente ligadas, por vezes sob um viés mais comercial. O recibo preservado pela família é, ele próprio, um documento histórico que testemunha essa interseção única entre o espiritual e o terreno. Em última análise, a ironia final e o legado duradouro deste episódio residem no fato de que uma transação sobre um bem puramente celestial gerou uma herança material e afetiva tão concreta.

Ana Alves da Costa faleceu em 22 de julho de 1963, deixando um legado que ultrapassou os limites de sua vida familiar. Em homenagem póstuma, no dia 6 de novembro de 1963, a Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos aprovou a Lei Ordinária n.º 536/1963, sancionada pelo prefeito Hélio Anjos Ortiz, que batizou uma das ruas da cidade com o nome “Rua Ana Costa”. Dessa forma, seu nome permanece na memória urbana e afetiva de Curitibanos, simbolizando sua trajetória de vida, fé e relevância local.

O verdadeiro legado de Ana não é a cadeira de ouro no céu, mas a memória, a história e o nome dela perpetuado em uma rua de Curitibanos, eternizando uma vida que, de maneira tão singular, buscou garantir seu lugar tanto na cidade quanto no paraíso.



Referências documentais:


Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 536/1963.


Fotografia: Acervo do Museu Histórico Antonio de Souza de Curitibanos


Registros genealógicos da FamilySearch


Relatos familiares sobre a “cadeira de ouro no céu”


Lei Ordinária Municipal nº 536/1963, Curitibanos/SC

Nenhum comentário:

Postar um comentário