Texto de Antonio Carlos Popinhaki
João Ribas de Macedo foi um daqueles personagens que deixou um rastro luminoso na sua passagem pela vila de Curitibanos. Curitibanense nato, veio ao mundo no dia 24 de fevereiro de 1911. Seus pais se chamavam Antonio Ribas de Macedo e Benvinda Gonçalves de Macedo. Na infância, foi uma criança ativa, considerado por muitos, "espoleta", esperto e de uma inteligência invejável. Estudou nas melhores escolas, conforme a disponibilidade e os anseios dos pais, até atingir a maioridade. Como era dotado de boa percepção, logo na juventude, aprendeu o “Código Morse”, tão utilizado na primeira metade do século XX para a comunicação à distância. Não demorou muito para tentar uma vaga na empresa dos Correios e Telégrafos.
No dia 25 de junho de 1934, numa das salas da Escola Normal de Florianópolis, prestou “Concurso Público”, para ser um funcionário daquela instituição. Por despacho do senhor Diretor Geral dos Correios, no dia 22 de agosto de 1934, foi publicado que João Ribas de Macedo passou em décimo lugar de um total de cinquenta e dois aprovados naquele concurso. A função inicial do nosso representante curitibanense era o de carteiro-auxiliar. Os gestores da Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos logo notaram a habilidade do jovem João Ribas em manusear o aparelho Morse, dominando o alfabeto com maestria, acabou sendo convidado para assumir a diretoria dos Correios e Telégrafos de Curitibanos. A vaga surgiu em sua vida por exclusivo mérito pessoal.
Casou-se no dia 6 de setembro de 1937, às 10 horas da manhã, na casa da senhora Eugênia Rosar Stüpp, que teve as portas abertas durante a cerimônia, na vizinha cidade de Lages, conforme o registro de casamento do Cartório de Registro Civil da cidade de Lages, Santa Catarina, com a jovem Elizabeth Stüpp, filha legítima do senhor Adolpho Stüpp e de Eugênia Rosar Stüpp, naquela ocasião, também, anfitriã. No dia 7 de setembro de 1937, no dia seguinte ao casamento, ele e a esposa chegaram a Curitibanos, onde participaram de um baile no saudoso “Clube Sete de Setembro”. Elizabeth nunca estivera antes em Curitibanos, terra que seria a sua morada por longos anos vindouros.
João Ribas de Macedo foi escolhido, entre tantos cargos e funções em Curitibanos, para presidir o Clube Sete de Setembro. João e a sua esposa Elizabeth se destacaram na gestão daquele clube recreativo e de serviços, principalmente em épocas de Carnaval, onde os bailes foram memoráveis. A organização era impecável. Alguém escreveu que “a festa era organizada de maneira singular, pois, ninguém planejava a decoração interna do clube como o presidente João Ribas de Macedo e a sua esposa”. Além da determinação, do planejamento e da decoração interna do salão de bailes, ele ainda convidava as famílias curitibanenses, os amigos, e escolhia entre a juventude local, lindas moças para confeccionar “belas e finas fantasias, luxuosas, demonstrando o seu alto gosto”. A alegria era generalizada nessas ocasiões. No Clube Sete de Setembro, o casal João e Elizabeth recebiam a todos, sendo destaques pelo empenho disponibilizados de forma altruísta, em prol do contentamento generalizado.
O casal também brilhou nas festas juninas e no “Grêmio das Margaridas”, quando organizavam bailes memoráveis, como o “Cor-de-rosa”, “da Pelúcia”, “do Avental”, entre outros nomes excêntricos escolhidos. Essas atividades demonstravam um alto nível cultural existente entre os frequentadores. Havia um sentimento sadio de respeito, de cavalheirismo e de responsabilidade. Curitibanos, nesses anos da década de 1940/1950 estava iniciando a sua marcha para o progresso, tentando se destacar em meio a outros centros urbanos catarinenses.
João Ribas de Macedo também exerceu atividades na área educacional de Curitibanos. Foi nomeado certa vez, para o cargo de “Inspetor Escolar” no Colégio Casimiro de Abreu. Com o apoio da esposa, incansável companheira de jornada, desempenhou com maestria as suas funções.
Em 1956, João Ribas de Macedo era membro proeminente da “Comissão da Enciclopédia de Santa Catarina em Curitibanos”. Na edição do Jornal “O Estado”, de 12 de setembro de 1956, há uma nota que diz, que João Ribas de Macedo elaborou um trabalho minucioso sobre Curitibanos e a sua contribuição para o Estado de Santa Catarina. Trabalharam nesse projeto, com ele, os cidadãos curitibanenses, o Inspetor Escolar Sólon Rosa, Hortêncio Goulart, Francisco Hoeltgebaum, Henrique Rosa, Sebastião Calomeno, Oly Peretto e Euclides José Philippe. Cada um desses nomes apresentou um pouco sobre a história de Curitibanos, de forma detalhada e diversificada. Coube a João Ribas de Macedo entregar o material, anexando uma “expressiva” carta para o Almirante Carlos da Silveira que o visitou. A direção da “Enciclopédia de Santa Catarina” agradeceu o empenho de todos, especialmente, a João Ribas de Macedo.
No ano de 1961, João Ribas de Macedo construiu o “Edifício Macedo”, localizado na esquina das Ruas Coronel Vidal Ramos com a Henrique de Almeida, no centro de Curitibanos. Em 1962, ele foi Sócio-Benemérito do “Flamengo Futebol Clube”, time que estava sempre presente nas memoráveis partidas disputadas no antigo estádio “Alçapão da Baixada”. Recebeu, certa vez, um Diploma desta associação. Para angariar fundos para o time, organizou rifas com vários prêmios, inclusive, para o prêmio principal, um fusca zero quilômetro.
Em 22 de março de 1961, o governador de Santa Catarina, Senhor. Celso Ramos, recebeu no Palácio da Agronômica, uma comissão interpartidária de Curitibanos. Essa comissão era composta pelos cidadãos Afonso Dotti, do PSD, Ramiro Centenaro, do PTB, Albino Col Debella, do PDC, Dr. Ilse Costa, do PDC, João Ribas de Macedo, do PSD, Oricimbo Caetano da Silva, Presidente do Diretório Municipal do PSD, Dr. Aldair Ganz, do PSD, e o Engenheiro Berganini. Ainda estava presente o Deputado Altir Weber de Melo. O objetivo do encontro foi o de sensibilizar o governador para a questão energética de Curitibanos, visto que havia carência e a necessidade de uma solução urgente. Na ocasião, todos saíram satisfeitos com a receptividade e a maneira como o governador tratou do assunto. Em Curitibanos, no final dos anos da década de 1950 e início dos anos de 1960, como na maioria dos demais municípios catarinenses, a crise energética era aguda, travando o desenvolvimento da região, que era muito rica, principalmente em florestas a serem exploradas pelo setor madeireiro.
A empresa “Força e Luz Curitibanense” sentia-se impotente para resolver o problema, principalmente, para atender a demanda dos madeireiros locais. Vários engenheiros e um corpo técnico das Centrais Elétricas de Santa Catarina — CELESC e uma Comissão do município de Curitibanos, composta pelos senhores: Dr. Hélio Anjos Ortiz, prefeito, Hugo Bernardoni, Walter Cavalcante, João Ribas de Macedo, Euclides José Philippi, Albino Col Debella, e os deputados estaduais Altir Webber de Mello, Evaldo Amaral e o candidato não eleito por Curitibanos, Luiz Meneguzzi, trataram exaustivamente do assunto. João Ribas de Macedo ainda, como um bom cidadão curitibanense, defendeu o aproveitamento hidráulico do salto Pery, no Rio Canoas, para ser utilizado como fonte de geração de energia elétrica para suprir as deficiências de Curitibanos.
A empresa estatal, Centrais Elétricas de Santa Catarina — CELESC e a Comissão do município de Curitibanos entraram em acordo, sendo assim, construída a Hidrelétrica do Salto Pery, resolvendo temporariamente a falta de energia elétrica no município. Com isso, a área urbana começou a aumentar. Esse período foi marcante. Repentinamente, começaram a se instalar no município, no perímetro urbano e no interior, inúmeras serrarias, consequentemente, iniciou-se de forma frenética e desenfreada, a extração de araucárias. Algumas pequenas localidades começaram a crescer e prosperar. As sedes de serrarias também ficaram caracterizadas pela construção de casas enfileiradas, que abrigavam as famílias dos funcionários. O prefeito Lauro Costa precisou designar um lugar para abrigar as pessoas que tinham menor poder aquisitivo e trabalhavam como operários ou empregados braçais. Esse lugar ficou conhecido posteriormente como “a rua dos pobres”. Hoje, é o bairro São José.
João “batalhou”, dentro das suas possibilidades, pela implantação da energia elétrica nas localidades de São Sebastião do Sul, de Santa Cecília, de Ponte Alta do Norte e de Lebon Régis. Lutou também pela educação nos municípios vizinhos, sendo responsável, em parte, através de seu incentivo positivista, pela criação dos Ginásios de Santa Cecília e de Lebon Régis.
João Ribas de Macedo, foi um homem alegre e de muito valor para a sociedade curitibanense, pois, quer fosse no carnaval, nas festas juninas, ou em tantas outras atividades, sempre se fazia presente. Era tanto amor que ele tinha pelo carnaval, que veio a falecer no término de uma das edições da festa, uma quinta-feira, após ter brincado todas as noites. Faleceu no dia 10 de março de 1969, às 22:00 horas, de parada cardíaca, infarto do miocárdio, conforme o seu registro de óbito, atestado pelo Dr. Altino Lemos de Farias. Tinha, na ocasião, 54 anos. Deixou os seguintes filhos: Aírton, Arlete Maria, Hamilton e Elizabeth Maria.
Através da Lei Ordinária n.º 1463/1980, de 19 de setembro de 1980, o então prefeito Wilmar Ortigari, denominou uma rua de Curitibanos com o nome de Rua João Ribas de Macedo.
Referências para o Texto:
BACELAR, Juvenal Bráulio. João Ribas de Macedo. Escritos biográficos. Curitibanos, 1974. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.
Cartas retidas. Jornal “O Estado”. Florianópolis, sexta-feira, 15 de junho de 1934, Ano XX, n.º 6201, p. 3.
Cartas retidas. Jornal “O Estado”. Florianópolis, quarta-feira, 11 de julho de 1934, Ano XX, n.º 6223, p. 5.
Cartório de Paz de Lages. Certidão de nascimento de Elizabeth Stüpp
Cartório de Registro Civil da Comarca de Lages. Certidão de casamento de João Ribas de Macedo e Elizabeth Stüpp
Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais da Comarca de Curitibanos. Certidão de óbito de Elizabeth Stüpp de Macedo
Cartório de Registro Civil da Comarca de Curitibanos. Certidão de óbito de João Ribas de Macedo
Concurso para Carteiros-auxiliares. Jornal A República. Florianópolis, 24 de junho de 1934, Ano I, n.º 83, p. 6.
Concurso de Carteiros. Jornal “O Estado”. Florianópolis, terça-feira, 2 de outubro de 1934, Ano XX, n.º 6290, p. 5.
Curitibanos — Lei Ordinária n.º 1463/1980, denomina vias da cidade.
Diretoria Regional dos Correios e Telégrafos. Jornal A República. Florianópolis, 12 de julho de 1934, Ano I, n.º 97, p. 2.
Enciclopédia de Santa Catarina. Contribuição de Curitibanos. Jornal “O Estado”. Florianópolis, quarta-feira, 12 de setembro de 1956, ano XLIV, n.º 12.541, p.4.
Governador recebe comissão interpartidária de Curitibanos. Jornal “O Estado”. Florianópolis, 22 de março de 1961, ano XLVII, n.º 14.135, p. 1.
Informações de Elizabeth Maria Macedo.
MACEDO, Elizabeth Stüpp de — Histórias de minha vida. Floriprint, Curitibanos, 2006, 128 p.
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Registro do casamento de João Ribas de Macedo e Elizabeth Stüpp — "Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999," database with images, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HT-X9VQ-S5?cc=2016197&wc=MXY5-52W%3A337700801%2C337700802%2C339589901 : 22 May 2014), Lages > Lages > Matrimônios 1936, Jul-1939, Abr > image 65 of 201; cartórios no estado de Santa Catarina (city registration offices), Santa Catarina.
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Solução para o problema energético de Curitibanos. Jornal “O Estado”. Florianópolis, quarta-feira, 9 de agosto de 1961, Ano XLVIII, n.º 14.233, p. 8.
POPINHAKI, Antonio Carlos. Lauro Antonio da Costa. ‘Blog’ Curitibanenses. ‘On-line’, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2017/11/lauro-antonio-da-costa.html
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