Sebastião Chaves de Athayde, conhecido popularmente entre os curitibanenses, pela alcunha de “Chaves Sobrinho”, nasceu em 4 de maio de 1936 na cidade de Lages, na serra catarinense. Seus pais se chamavam Mauro Correia de Athayde e Generosa Chaves de Athayde. Ambos, também eram lageanos. Sobre a sua infância, há poucas lembranças por parte dos familiares para registrar, a não ser que ele cresceu e estudou em Lages.
Ainda jovem, mudou-se para a cidade de Capinzal, Curitibanos e Videira. Homem ligado ao esporte amador, estava sempre envolvido em assuntos e temas relacionados, quer fosse em programas de rádio, mídia escrita ou como atleta, técnico e organizador. Trabalhou na Rádio Clube, de Lages; na Rádio Sulina, de Capinzal; Teve um programa na antiga TV Planalto, de Lages. Em Curitibanos, foi professor no Colégio Santa Teresinha. Gostava de escrever, contribuiu com o projeto em forma de livro “Curitibanos Nossa Terra Nossa Gente” da antologista Coracy Pires de Almeida.
Também trabalhou por muito tempo como colunista esportivo do jornal “A Semana”, onde deixava todos os curitibanenses informados sobre os eventos, campeonatos, jogos, decisões esportivas e planejamentos da antiga “Fundação Municipal de Esportes — FME”.
Chaves Sobrinho constituiu família em Curitibanos, no dia 25 de outubro de 1969, casou-se com a jovem Iraci Olivia Matzembacher, filha do contabilista Arlindo Theofilo Matzembacher e de Elma Müller. Ela é natural da cidade de Piratuba, Santa Catarina. Depois da cerimônia, a nubente passou a chamar-se Iraci Olivia Matzembacher de Athayde. O memorável casamento ocorreu em Curitibanos, com a presença de convidados, alguns deles, pertencentes ao corpo de membros da Igreja Luterana.
Foi associado do Clube Sete de Setembro, local onde atuou em certa gestão, como secretário da presidência daquele clube de serviços. A entrega pessoal do senhor Chaves Sobrinho foi, sem dúvida, a sua contribuição para o desenvolvimento do esporte amador curitibanense. Em vida, falava que muitas vezes, não era reconhecido pelo esforço e a dedicação, mas fazia o seu trabalho não por reconhecimento pessoal, mas sim, porque lhe era gratificante. Gostava do que fazia.
Foi presidente da Liga Curitibanense de Futebol, esteve à frente de vários times competitivos, como saudoso Cruzeiro Esporte Clube de futsal, o Cruzeiro Futebol Clube dos gramados dos anos da década de 1980, época em que o time atraía grande público às arquibancadas do estádio “Ortigão”. Criou escolinhas de futebol, onde foi precursor, com a sua “geração 2000”, deixando como legado a sua marca pioneira, seguida ao longo das décadas seguintes. Antes, no início dos anos da década de 1990, foi o responsável pela seleção mirim curitibanense.
Faleceu no dia 15 de junho de 1999, aos 63 anos, deixando a cidade de Curitibanos triste, pois foi perdida e sentida pelos munícipes, a falta do grande atleta que fazia “as coisas acontecerem”. Entre as várias homenagens, destaco duas que me chamaram a atenção, uma é da Liga Curitibanense de Futebol e a outra foi uma indicação da esposa, dona Iraci, que diz ter em casa o recorte de jornal de um texto do colunista e amigo de Chaves Sobrinho, o senhor Murilo Machado. Revirando os arquivos do semanário local, encontrei tal texto.
“HOMENAGEM
A Liga Curitibanense de Futebol, traduzindo o sentimento de perda pelo falecimento de seu estimado e renomado presidente, Sr. Sebastião Chaves de Athayde Sobrinho presta, “in memoriam”, uma homenagem de gratidão pela lição de vida pessoal e pelos relevantes e inestimáveis serviços prestados à Liga e ao desporto de Curitibanos, em especial aos anos dedicados ao Futebol. À família, estende os seus pêsames e a solidariedade em momento tão difícil.
Curitibanos 15 de junho de 1999.
Vilson Dacol - Presidente em Exercício”
“GOL DE BOLA PARADA
No friozinho da manhã nublada, nevoeiro se desfazendo e pintando um solzinho tímido a disfarçar o rigor de invernão brabo. Saio à rua, animado pelas carícias do astro-rei e sou surpreendido pela notícia, a interrogação estarrecedora, soube do Chaves? É verdade então, finalmente o velho Chaves de guerra deixou passar a bola e tomou o gol definitivo. A imagem, pobre é verdade, me vem do fato de o desportista agora morto ter sido goleiro. Quanta coisa me vem, quanta lembrança. Discutido, polêmico, o Chaves definitivamente não foi uma unanimidade. Bom, com raras e bem marcadas exceções, somente são unanimidades aqueles que vivem na sombra, no limbo do nada fazer, do nada ousar para não comprometer-se. O velho Chaves sempre ousou. Como todo ser humano, teve lá a sua pequena cota de pecadilhos, pequenos defeitos e deslizes, mas, droga, ninguém é de ferro, e perfeição é só com Deus com que o chaves está agora. Mesmo seu mais cruel inimigo, seu maior detrator não pode negar, olvidar ou disfarçar a dívida que o esporte de Curitibanos, de Santa Catarina lhe é devedor. Bom o chaves sempre foi um dos grandes amigos, verdadeiro coringa do Dr. Delfin Peixoto, presidente da Federação Catarinense de Futebol — FCF. E convenhamos o nosso amigo fez, ou melhor, ousou fazer esporte em uma época difícil, quando não tínhamos nada, pouco ou nenhum equipamento, pouco mais que arremedos de quadras de esportes; uma localizada onde hoje é a piscina da sede social do Pinheiro Tênis Clube — PTC e outra nos fundos do Quartel da Polícia Militar — PM. Polivalente, honrou as comunicações, o rádio e a televisão com sua presença, da mesma forma que o jornalismo aqui da terra, onde diversas Folhas, inclusive o “A Semana”, com celebradas colunas esportivas. Como radialista, da velha guarda, do meu tempo, quando o locutor, hoje pernosticamente chamado de comunicador, era chamado de SPEAKER. Lidou na política, disputando por duas vezes uma cadeira na nossa Câmara de Vereadores, fugindo do bordão manjado da tal “expressiva” votação; diga-se que sempre o chaves foi prestigiado por bom grupo de amigos e simpatizantes que sufragaram o seu nome. Mas, infelizmente, a grandeza da alma nunca é diretamente correspondida com a saúde do corpo. Nos últimos anos já sofria bastante, somando problemas renais e o diabetes, amenizando a luta pela vida com a presença, que jamais lhe faltou da companheira e amiga fiel de tantos anos, dona Iraci, a sogra, sua segunda mãe - a Frau Helma - o amor dos filhos e o carinho das netas. Ainda vejo ou lembro, parece-me ontem, o chaves, em intervalo e folga dos males que o acometiam, a pilotar o passeio da netinha pela avenida, com a paciência que só os avós podem ter. Lembranças outras me assaltam. Lembro, e creio ser ele a última pessoa em Curitibanos, que ao sair em dias chuvosos, ostentava vistoso par de galochas, pretas ou marrom conforme o sapato. Meu Deus, galochas. Só o Chaves. Mas o Grande Árbitro apita. Chaves coloca-se embaixo dos três paus. Na marca do Pênalti, ela se apresenta. Magra, alta, ossos brancos, abaixa o capuz, depõe o gadanho infame, sorri e bate a bola. No contrapé, o valente arqueiro de outros tempos já não tem forças para o mergulho ao encontro da bola. Bola definitiva, bem batida pela Morte infame. Passou lá, na forquilha, desmanchando o ninho da coruja. Tiro fatal, hei-lo final e definitivamente batido. Definitivamente não. Tem campeonato novo lá em cima. Após o acerto de contas o Presidente da Grande Federação, prestação de contas de alguns campeonatos e torneiozinhos mal-acabados por aqui, contas acertadas pois lá, o tapetão é honesto, tenho certeza da destinação do Chaves a um recantozinho sossegado, talvez para revisar algumas súmulas. Por certo, como todos nós imperfeitos, vai levar alguns puxões-de-orelha, vai ter que varrer alguns vestiários para meditar, mas coisinha leve, sem razão para sustos. Por hora deixemos que o corpo cansado repouse no seio da mãe-terra, e fiquemos nós com sua lembrança, com o que ele representou, uma época deliciosa quando Rei Momo era, de verdade, primeiro e Único. — Texto by Murilo Machado - Como homenagem do Jornal “A Semana””.
O texto acima reflete a realidade sobre quem foi o senhor Chaves Sobrinho e a sua contribuição para o desporto curitibanense. Felizmente, o nosso personagem não foi esquecido. No dia 9 de julho de 2013, após a deliberação e aprovação na Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Vereadores, do Projeto de Lei n.º 20/2013, o então prefeito municipal José Antonio Guidi, sancionou a Lei Ordinária n.º 5033/2013, que denominou de “Campo Municipal Chaves Sobrinho”, o campo de futebol localizado no bairro Getúlio Vargas. Dessa forma, o nome do senhor Sebastião Chaves de Athayde, ou simplesmente, Chaves Sobrinho ficará perpetuado entre os curitibanenses.
Referências para o texto:
ALVES, Sebastião Luiz. Fotografias postadas na página “Curitibanos Memórias da Nossa Terra”. Facebook, on-line, disponível em: https://www.facebook.com/memoriasdecuritibanos
ATHAYDE, Iraci Olivia Matzembacher de. Registro biográfico de grupo familiar de Sebastião Chaves de Atahyde. Museu Histórico Antonio Granemann de Souza, Curitibanos, SC.
Curitibanos — Projeto de Lei n.º 20/2013, denomina Campo de Futebol.
Curitibanos — Lei Ordinária n.º 5033/2013, denomina Campo de Futebol.
DACOL, Vilson. Homenagem. Jornal A Semana. Ano XVI, Ed. 828, Curitibanos, 19 a 25 de junho de 1999.
Fotografia: Arquivo da coluna pessoal da época do Jornal A Semana
MACHADO, Murilo. Gol de Bola Parada. Jornal A Semana. Ano XVI, Ed. 828, Curitibanos, 19 a 25 de junho de 1999.
PELLIZZARO, Dhebora Costa. Dona Elma Matzembacher. Coluna Tradicionalismo, Jornal A Semana, Curitibanos, 25 de janeiro de 2013. On-lijne, disponível em: http://www.adjorisc.com.br/jornais/asemana/coluna-tradicionalismo-dhebora/dona-elma-matzembacher-1.1220755#.U3FeCnYvAnE
POPINHAKI, Antonio Carlos. Elma Matzembacher. Blog Curitibanenses, 12 de maio de 2014. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2014/05/elma-matzembacher.html
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