Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Ruth Hauth nasceu em 2 de novembro de 1933, na região que hoje pertence ao município de Presidente Getúlio, todavia, foi registrada como nascida em Ibirama, pela ausência de um cartório em Presidente Getúlio. Seus pais se chamavam Guilherme e Hilda Hauth. Ruth teve uma infância simples. Os brinquedos que ela e os irmãos utilizavam na época eram confeccionados por eles mesmos a partir de caixas, pneus velhos, cordas e latas. Seus pais eram de origem germânica e por essa razão, Ruth e a família interagiam somente na língua alemã, quando foi matriculada na escola, teve dificuldades para se socializar com outros alunos, principalmente, devido à dificuldade de falar o português. Os pais de Ruth moravam antes, na região que hoje fica o município de Indaial, próximo à Blumenau.
Na fase adulta, ainda solteira, com a autorização dos pais, mudou-se para a cidade de Lages, visando estudar música, pois tinha talento e sentia que precisava se formalizar. Foi admitida na Academia Brasileira de Acordeon Mário Mascarenhas, onde fez o curso de aperfeiçoamento e de interpretação, utilizando os métodos do professor Mário Mascarenhas.
Certo dia, em Lages, num “matinê dançante”, Ruth Hauth conheceu o seu futuro esposo, Alberto Luiz Cabral. Após um período de namoro, casaram-se no dia 15 de janeiro de 1955, na Igreja Nossa Senhora do Rosário em Lages. Alberto era nascido na cidade de Jaguaruna, litoral sul de Santa Catarina. Ele tinha um irmão que trabalhava com transportes de toras para algumas serrarias de Curitibanos. Esse irmão convidou Alberto e a sua jovem esposa Ruth para virem morar em Curitibanos. O jovem casal aceitou o convite e se estabeleceram na nova cidade, aproveitaram para realizar o casamento civil em Curitibanos. Ruth passou a assinar como Ruth Hauth Cabral. Ficou conhecida unicamente, por Ruth Cabral.
Recém-formada na Academia de acordeon, Ruth não se contentou em viver uma vida passiva em Curitibanos. Logo no dia 3 de março de 1956, encontramos na página 4 do jornal de Curitibanos um anúncio da Academia de Acordeon Mascarenhas em Curitibanos. Uma espécie de filial da Academia lageana. O anúncio dizia que a escola de Curitibanos estava sob a direção da competente professora Ruth H. Cabral. As aulas aconteciam nos fundos do extinto Bar Quitandinha. O método utilizado pela professora era baseado no Programa elaborado pelo Conservatório Nacional de Música do Rio de Janeiro. O curso de acordeon era completo, incluindo a teoria, a técnica e o manejo do instrumento. Foi um sucesso em Curitibanos.
Depois de algum tempo, Ruth fundou a “Academia de Acordeon Ruth Cabral”, suprimindo os outros nomes originais, ao fazer tamanho sucesso em Curitibanos, permaneceu por 25 anos lecionando aulas de acordeon. Também foi requisitada para dar aulas de “Educação Musical” no Colégio Casimiro de Abreu. Realizou inúmeros festivais com os alunos nas dependências dos antigos e extintos Cine Teatro Monte Castelo e Cine Teatro Ópera. No início dos anos da década de 1980, por orientação médica, apresentando alguns sintomas que a incomodavam, talvez, pelo esforço repetitivo, deixou de lecionar. Na verdade, além do esforço repetitivo, pelo fato de permanecer por vários anos em proximidade com o pedestal das partituras dos alunos, numa mesma posição, enquanto acompanhava a partitura e o aluno, acabou machucando a sua coluna.
Do casamento com Alberto Luiz Cabral, nasceram três filhos, aos quais receberam os nomes de João Batista Cabral, Lucélia Teresinha Cabral e Roberto Carlos Cabral.
Em 1.º de julho de 1973, de acordo com uma nota divulgada no Jornal O Estado, por ocasião do centenário da instalação do município de Curitibanos, o prefeito da época, o senhor Onofre Santo Agostini, abriu um concurso visando selecionar um hino para o município. Professores e artistas musicais foram convidados a compor a comissão que escolheu a letra e música do hino oficial de Curitibanos. Conforme o regulamento, poderiam participar do concurso, todas as pessoas de nacionalidade brasileira. Foi dado um prazo máximo de 45 dias para os participantes entregarem as suas propostas de trabalho musical, em envelope fechado. A ideia do hino para o município foi da professora Juracy de Mello Schmidt, então Coordenadora de Educação.
Naquela época, a professora Ruth tinha vários alunos e alunas, dentre elas, uma que se chamava Guiomar Almeida, filha da senhora Coracy Pires de Almeida. Coracy era uma pessoa muito ativa em Curitibanos, numa reunião de pais da Academia de Música Ruth Cabral, ela explanou para Ruth o seu desejo de participar do concurso. Disse que poderia escrever a letra, mas precisaria de alguém com o talento de Ruth para a parte da melodia, ou seja, para transformar o texto em música. Ruth, que também era uma pessoa muito ativa e que não temia nenhum novo desafio, aceitou a tarefa. Efetuaram várias reuniões, visando ensaiar para o concurso. Ruth elaborou as partituras, sendo as vencedoras do concurso promovido pela prefeitura de Curitibanos.
A parceria entre Coracy e Ruth deu certo. Realizaram juntas uma canção ou uma música, não um hino, mas algo mais popular para homenagear Curitibanos. Esse trabalho caiu no esquecimento do tempo, resgatado recentemente, no ano de 2022, transformado em Lei. As duas também fizeram uma parceria para homenagear as Irmãs da Sagrada Família, num dos muitos aniversários do Colégio Santa Teresinha.
Ruth Cabral promoveu vários festivais musicais nos antigos Cine Teatro Monte Castelo e Cine Teatro Ópera, visando arrecadar fundos para a construção e a manutenção do antigo Hospital Frei Rogério. Sem dúvida, uma demonstração de altruísmo em prol do semelhante e dos necessitados.
Após vencerem o concurso, houve um período de praticamente 4 anos sem que ninguém do poder executivo ou legislativo de Curitibanos se manifestasse sobre o assunto. Em 1973, foram vários os eventos e as atividades promovidas para comemorar o centésimo aniversário da instalação do município de Curitibanos. Somente em 6 de junho de 1977, o então vereador João Braz Peters, cuja esposa era prima de Coracy, entrou com um Projeto de Lei, solicitando a apreciação do Plenário da Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos, para instituir definitivamente o Hino de Curitibanos. Segundo o vereador, era “injustificável” a lacuna aberta em Curitibanos, de não possuir um hino oficializado. Ele argumentou que a letra e a música do hino já existiam e que apenas precisaria ser aprovado em forma de Lei Ordinária Municipal. Na ocasião, como era também um militar, o vereador explicou aos colegas vereadores que os arranjos para instrumentos de banda, seriam efetuados pelo Tenente-coronel Roberto Kell, Maestro da Banda de Música da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina.
Na sessão do dia 14 de junho de 1977, o então Presidente da Câmara curitibanense, Felipe Abrahão Neto, anunciou aos presentes que naquela data estava sendo publicada a Lei Ordinária Municipal n.º 2/1977, que instituía o “hino de Curitibanos”. A Lei possui 4 artigos importantes, que devem ser sempre um guia de orientação para a perpetuação do trabalho de Coracy Pires de Almeida e Ruth Cabral, no tocante ao hino de Curitibanos. No início do ano de 1984, 7 anos depois da promulgação da Lei, a Coordenadora Local de Educação, enviou às Escolas do município, cópias da Lei e a gravação do Hino. A partir dessa época, os alunos tiveram conhecimento de que Curitibanos possuía o seu próprio Hino.
A professora Ruth Hauth Cabral recebeu muitas homenagens ao longo dos anos de árduo trabalho. Foram vários os artigos e publicações no Jornal “A Semana”, além de medalhas e troféus. Foi também homenageada nas escolas do município. Em 13 de junho de 2002, numa Sessão Solene na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, o então Deputado curitibanense e Presidente daquela casa, Onofre Santo Agostini, como parte das comemorações do 133.º aniversário de emancipação política do município de Curitibanos, concedeu à professora Ruth Cabral, um Certificado e um Troféu de Honra ao Mérito, por seus relevantes serviços prestados à comunidade curitibanense.
A professora Ruth foi homenageada de várias formas, uma vez, foi homenageada num evento, ocorrido no Ginásio de Esportes Municipal. Outra vez, os pequenos alunos da Rede Municipal de Ensino a surpreenderam na porta da sua casa, cantando o hino de Curitibanos.
Em 2022, na ocasião de uma atividade do setor de Cultura da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, foi homenageada pelo então prefeito Kleberson Luciano Lima e pela secretária de educação. No dia 5 de junho de 2023, a Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos a homenageou com uma “Moção de Congratulações”, como parte das comemorações do 154.º aniversário do município.
A vida e a contribuição de Ruth Hauth Cabral aos curitibanenses não parou e não ficou só e exclusivamente na área musical. Certo dia, fez um bolo decorativo para o filho de uma vizinha. O bolo fez enorme sucesso, tornando-a famosa também pelo lado da confeitaria. A partir daquele bolo, iniciou uma nova etapa em sua vida, a de confeiteira. Quase todos, em Curitibanos já provaram ou adquiriram os famosos bolos da Dona Ruth Cabral. Mesmo com a idade avançada, não parou de trabalhar, dando enorme exemplo para muitos.
Essa foi a história de vida da professora e confeiteira Ruth Hauth Cabral. Escolheu Curitibanos para viver, tornando-a tão querida, semelhantemente à sua terra natal. Por mais que surjam outras homenagens, o município de Curitibanos sempre terá uma dívida com essa maravilhosa mulher.
Referências para o texto:
Academia de Acordeon Mascarenhas de Curitibanos. Jornal de Curitibanos. Ano I, edição n.º 11, p. 4.
Artistas locais interpretam Hino de Curitibanos e geram repercussão positiva nas redes sociais. Portal da Prefeitura Municipal de Curitibanos. On-line, disponível em: https://curitibanos.sc.gov.br/noticia-675489/
Com informações de Lucélia Teresinha Cabral.
Curitibanos. Lei Ordinária Municipal n.º 2/1977.
Curitibanos. Câmara Municipal de Vereadores, Moção de Congratulações n.º 20/2023.
Curitibanos. Lei Ordinária Municipal n.º 6716/2022.
Santa Catarina. Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Troféu e Certificado de Honra ao Mérito, pelo reconhecimento prestado ao munício e ao Estado.
Ordem dos Músicos do Brasil. Certificado.
Síntese. Curitibanos. Jornal O Estado. Ed. 17258 de 1.º de julho de 1973, p. 6.
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