Bernardo Von Müller Berneck

Texto adaptado por Antonio Carlos Popinhaki

O nome de Bernardo Von Müller Berneck aparece com destaque entre os nomes curitibanenses, apesar de talvez, a pessoa em si, nunca tenha pisado no solo territorial do município de Curitibanos. A explicação para tal notoriedade foi dada devido às homenagens póstumas feitas por seu filho Gilson Berneck, enquanto esteve na presidência da empresa, sendo um dos responsáveis pela decisão corporativa de montar uma filial da empresa Berneck S.A. Painéis e Serrados no município catarinense. Isso aconteceu na primeira década do século XXI, quando o prefeito de Curitibanos era o senhor Wanderley Teodoro Agostini. A decisão foi avalizada pelo então Governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira e o Deputado Estadual curitibanense, Onofre Santo Agostini. Dessa forma, a empresa se estabeleceu em solo curitibanense.

Bernardo nasceu no dia 10 de fevereiro de 1914, em Büsum, uma pequena cidade portuária de Schleswig-Holstein, Norte da Alemanha, em pleno início da 1.ª Grande Guerra Mundial. Era o mais novo de uma família de sete irmãos, três homens e quatro mulheres. Aos nove anos, mudou-se com a família para Buenos Aires, Argentina, cidade destino de muitos imigrantes que deixaram a crise política e econômica que assolou a Alemanha naquela época.

A família morou numa fazenda no interior da Argentina por quatro anos. Após esse período, decidiu mudar-se para o Sul do Brasil, em busca de uma vida mais urbana e que proporcionasse melhores condições de estudo e trabalho para os filhos.

Bernardo desembarcou no Brasil com os pais e cinco irmãos, foram morar na pequena cidade de Corupá, em Santa Catarina, aos 13 anos. Naturalizou-se brasileiro. Mesmo com o curso primário feito na Alemanha e na Argentina, ele precisou repetir essa fase dos estudos por mudar outra vez de país.

Ainda que precocemente, seu talento para o empreendedorismo já começava a despertar nessa época. Em pouco tempo dominou o idioma local e fez sociedade com um colega para vender “garapa” na cidade vizinha de Mafra. A sociedade durou pouco, mas o desejo de descobrir novas oportunidades já era inerente. No entanto, ele precisava ajudar a família financeiramente e, aos 15 anos, foi trabalhar como empregado em um pequeno negócio de frios, em Jaraguá do Sul, onde aprendeu a produzir queijos. Três anos mais tarde, mudou-se para São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, onde trabalhou durante sete anos em um laticínio, produzindo queijos e comercializando carne. Chegava a trabalhar 20 horas por dia e, assim, conseguiu juntar o seu primeiro capital: sete mil contos de réis. O dinheiro foi utilizado para mudar-se para Porto Vitória, vila próxima de União da Vitória. 

Foi lá que ele montou a sua própria queijaria e, aos 33 anos, comercializava secos e molhados, banha e especiarias em seu próprio armazém, que tinha filial em General Carneiro. Também possuía barcos de transporte de carga e de passageiros, que navegavam entre Porto Vitória e União da Vitória. Nesse tempo, ele deu início a uma pequena serraria, diversificando os negócios para o ramo madeireiro em 1946, com a instalação de uma Serraria em Bituruna, Paraná.

Em maio de 1947, Bernardo casou-se com Íris Engel, com quem teve dois filhos, Gilson Müller Berneck e Norma von Müller Berneck, que faleceu jovem, aos 18 anos. O casal permaneceu morando em Porto Vitória durante seis anos. Nesse período, Bernardo teve um intenso contato com a indústria madeireira, o que daria o Norte para o seu sucesso nos anos seguintes.

Em janeiro de 1952, depois de vender os seus negócios em Porto Vitória, fundou a empresa Berneck & Cia. Naquele ano, Bernardo se apaixonou pela atividade da indústria madeireira, a empresa tinha uma serraria e uma fábrica de beneficiamento de madeira em União da Vitória, Paraná. Por uma fatalidade do destino, no mesmo ano da sua Fundação (1952), as duas fábricas que constituíam a Berneck & Cia., queimaram por completo em incêndios independentes. O senhor Bernardo, mesmo arrasado, devido à perda, não desistiu, com força de vontade, ajuda de seus colaboradores e apoio financeiro de colonos da região, reiniciou as atividades no segmento de lâminas torneadas, e após, iniciou com Compensados. Essa capacidade de recuperação, mostrou uma resiliência ímpar desse empreendedor, que não desistiu dos negócios. Vendeu dois caminhões, o automóvel pessoal e contou com o apoio da família para se reerguer. Em menos de 50 dias, a atividade fabril da Berneck & Cia. estava novamente funcionando.

Na década de 1960, Bernardo precisou novamente reinventar-se e descobrir maneiras de driblar a crise que assolava o segmento de madeira. Mudou-se para Curitiba em 1961, buscando melhores condições de mercado e de produção.

Três anos depois, ele já expandia os negócios pelo interior do Paraná. Em 1964 inaugurou sua primeira laminadora de Cedro, em Toledo, Oeste paranaense. Nos anos seguintes, já havia instalações em Cascavel, Assis Chateaubriand, Palotina, Catanduvas, Medianeira e Guaíra, que abasteciam a então, Fábrica de Compensados, que estava centralizada na capital, com lâminas torneadas.

Em 1968, Bernardo construiu uma unidade fabril na Cidade Industrial de Curitiba e a empresa passou a produzir portas, além de dar início às vendas para o mercado externo. A nova fábrica permitiu o rápido crescimento da empresa e o início das exportações. No início da década de 1970, a Berneck começou a produzir “Compensados Decorativos”, revestidos com lâminas de madeira natural.

Na mesma época, Bernardo passou a investir também no Mato Grosso, com a compra de terras para o manejo florestal e pecuária. Em 1976, a Berneck já estava instalada em Rondônia, produzindo lâminas e, em 1978, em Brasnorte, quando passou a integrar também o segmento de madeira serrada.

Em 1980, a empresa já contabilizava 11 unidades industriais em cinco estados brasileiros e inaugurou mais uma produtora de lâminas torneadas em Belém do Pará. Foi um período de grande expansão e fortalecimento da empresa. Nesse mesmo período, Bernardo foi preparando gradativamente a sucessão da Berneck, deixando as decisões estratégicas para o filho, Gilson, que já trabalhava e vivia o cotidiano da empresa desde os seus 14 anos.

Após o casamento do filho Gilson, em 1973, Bernardo começou a se afastar do dia-a-dia da Berneck e voltou a sua atenção para a criação de gado. Nesse período, também realizou um sonho antigo: fez uma longa viagem de carro com a mulher, Íris, por todo o continente europeu e conheceu dezenas de países, entre eles a sua terra natal, na Alemanha.

Gradualmente ele foi deixando, cada vez mais, as decisões para o filho e viu com orgulho, a Berneck tomar os rumos do crescimento e da inovação sob a presidência de Gilson, sempre preservando os valores familiares, dentro e fora da empresa.

Durante esse período, o desenvolvimento tecnológico, a automação das linhas, as novas técnicas produtivas e de gestão foram afastando gradativamente a sua participação no negócio. No entanto, ele nunca deixou de reconhecer o trabalho e o talento do filho, que permaneceu na presidência até 2020, quando passou a fazer parte do Conselho de Sócios, do Conselho Consultivo e do Conselho de Família da empresa. Seus três filhos, Glória Berneck, Graça Berneck e Daniel Berneck, trabalham ativamente em cargos de direção da Berneck.

Bernardo Von Müller Berneck faleceu em 12 de julho de 1996, como um exemplo de vida para as gerações futuras, deixando uma empresa sólida, confiável e respeitada. Foi sepultado no Cemitério Luterano de Curitiba. Ele tinha 82 anos na ocasião da sua morte, teve de conviver por mais de dez anos com uma grave doença degenerativa.

Em Curitibanos, através da força da Lei de Responsabilidade Fiscal, a empresa Berneck investiu na construção do Centro de Educação Infantil — CEI, proporcionando uma estrutura física adequada ao atendimento de 120 crianças. Através da Lei Ordinária n.º 4709/2011, de 18 de novembro de 2011, o então prefeito Wanderley Teodoro Agostini, denominou de Centro de Educação Infantil — CEI, localizado no bairro Santo Antônio de Pádua, de CEI Bernardo Von Müller Berneck.

 O Centro de Educação Infantil Bernardo Berneck está situado na Rua Juvenal Caetano da Silva, no bairro Santo Antônio de Pádua, foi inaugurado em dezembro de 2012. A instituição iniciou as suas atividades oficialmente no dia 10 de fevereiro de 2014.

Através da Lei Ordinária n.º 5160/2014, de 18 de março de 2014, e da Lei Ordinária n.º 5214/2014 de 12 de setembro de 2014, o então prefeito José Antonio Guidi denominou o “Pronto Acolhimento de Saúde”, localizado na Rua Cornélio de Haro Varela de “Bernardo Von Müller Berneck”.

Uma informação importante, o CEI de Curitibanos não foi o primeiro a ser construído com a participação da empresa Berneck e nem foi o primeiro que levou o nome de Bernardo Von Müller Berneck. Vários outros CEIS no Paraná foram construídos pela empresa e levaram o mesmo nome do patriarca da família de madeireiros. Algumas das cidades contempladas foram, Araucária, Cerro Azul, Lapa e Curitibanos. Em Brasnorte, no Mato Grosso, a empresa construiu uma Unidade de Acolhimento de Idosos, com o mesmo nome dos CEIs.

Referências para o texto:

BEZERRA, Kátia Michelle. Texto enviado por email, pela equipe de Marketing da empresa Berneck®.

Curitibanos — Lei Ordinária n.º 5160/2014, denomina prédio público municipal (Pronto Acolhimento de Saúde).

Curitibanos — Lei Ordinária n.º 5214/2014, denomina prédio público municipal (Pronto Acolhimento de Saúde).

Curitibanos — Lei Ordinária n.º 4709/2011, denomina-se Centro de Educação Infantil.

Fotografia da lápide do túmulo no Cemitério Luterano de Curitiba. On line: Informação disponível em: https://pt.billiongraves.international/grave/Bernardo-Von-M%C3%BCller-Berneck/29927797 e "BillionGraves Index," database, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/1:1:7HYR-BB6Z : 30 January 2019), Bernardo Von Müller Berneck, died 12 Jul 1996; citing BillionGraves (http://www.billiongraves.com : 2012), Burial at Cemitério Luterano (Curitiba), Curitiba, Curitiba, Parana, Brazil.

Fotografia de Bernardo Von Müller Berneck, fornecido por email, pela equipe de Marketing da empresa Berneck®. 

Mato Grosso — Diário Oficial de Contas. Ano VIII, Ed. 1690 de 6 de agosto de 2019. On line. Disponível em: DOE-TCEMT-1690-pagina-38.pdf

Para a mãe, a liberdade do filho sequestrado foi um milagre. Diário do Paraná. Curitiba, 27 de dezembro de 1972. p. 16.

POPINHAKI, Antonio Carlos. Norma Müller Berneck. Blog Curitibanenses. On line: Disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2021/11/norma-muller-berneck.html

Santa Catarina — Diário Oficial dos municípios. Ed. 2515 de 2 de maio de 2018. On line. Disponível em: https://edicao.dom.sc.gov.br/2018/05/1525283929_edicao_2515_assinado.pdf

Texto fornecido pela Coordenadora Joelma Aparecida Vargas do CEI Bernardo Von Müller Berneck em outubro de 2021.