segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Waldir Dacol


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Waldir Dacol nasceu em Curitibanos, no dia 7 de dezembro de 1923. Filho legítimo de Attílio Dacol e Maria Miranda Alves de Souza. Na ocasião do seu nascimento, o pai tinha 22 anos e a sua mãe, 20. Quando criança, orgulhava-se de brincar com os primos Abdy e Alfredo Dacol. Em seus escritos para o museu Histórico Antônio Granemann de Souza, em 1.º de fevereiro de 1987, ele citou as suas reminiscências, desejando, de alguma maneira, poder voltar no tempo, para novamente, poder sentar-se nos bancos escolares e desfrutar de uma nova vida, tal como a que viveu em Curitibanos.

O primeiro grande acontecimento, foi o meu nascimento, o meu ingresso neste mundo perfeito, onde nós, míseros seres humanos, somos imperfeitos, se bem que, procuremos, talvez não com a necessária persistência nos aproximar da perfeição espiritual do nosso Criador. Fruto do amor de dois seres humildes, de origem material mas, herdeiros de seus antepassados da mais honrada moral, de condutas ilibadas, trazendo no bojo de suas mentes o exemplo de tenacidade, o respeito a Deus e o amor ao próximo, às famílias Luiz e Luiza Dacol e Honorato Alves de Souza e Olinda de Moraes Sobrinha Alves de Souza, são eles que também já repousam no oriente eterno: Attilio e Maria Miranda Dacol, a quem rendo o meu preito da mais pura e imorredoura gratidão”.

Waldir lembra em seu texto, dos tempos em que vivia alegre na residência de seus avós paternos, numa casa de “tijolos à vista”, construída em estilo europeu. Lembra da convivência com o vovô Luiz e a vovó Luiza Dacol, dos tios Benjamin, Joana e Elias, da sua tia Amélia, do tio Ricardo e os demais tios, Pedro, Caetano, Luiz e Heitor.

No seu texto ele disse sentir saudades do tio Ricardo, quando os dois trabalhavam na Atafona, um moinho movido a água, construído para moer trigo e milho. Sentia saudades quando acompanhava a avó na colheita dos ovos, quando rodava a centrífuga para a separação do mel de abelhas, dos favos; quando batia nata para fazer manteiga à noite, enquanto rezavam o terço em italiano.

Frequentou o Colégio Santa Teresinha e depois, o Grupo Escolar Arcipreste Paiva. Foi aluno das professoras, Irmãs Gertrudes e Felícia, da Congregação da Sagrada Família de Curitibanos. 

Ainda em sua infância, há relatos de que ele e um amigo de nome Ricardo entregavam leite diariamente na vila de Curitibanos, mesmo morando numa distância de 4 quilômetros do centro urbano.

Era colega de escola e amigo pessoal de pessoas que se tornaram importantes em Curitibanos, por essa razão, ao referir-se a elas, ousou com segurança, citar sem receios dos apelidos da época. como por exemplo, Zóca Sbravatti, os irmãos Marcos e Aladim Farias, Altino e Zezé Macedo, Sebastião Calomeno, as irmãs Célia e Zélia Lemos (Lila), Rita Dolores (Loura), Rosa e outras moças da sua época.

Waldir lembrou em seu texto, da banda de música que tinha os seguintes componentes: Tuca no bombardino; Chico Sapateiro no contrabaixo; Rodolfo Larzen, no trompete; Benjamin na trompa; Luizinho, Camilo e outros no clarinete. Todos, regidos pelo médico Alfredo Lemser.

Alfredo Lemser tinha outros talentos além de ser farmacêutico e médico, ele gostava de música. Em Curitibanos, tornou-se maestro da banda municipal da cidade. Ele adorava a música, tinha todos os instrumentos necessários para a composição de uma banda. Talvez, tenha sido ele o fundador da primeira banda musical de Curitibanos.

A banda se reunia ao lado do Clube 6 de janeiro, nas tardes quentes de dezembro, acompanhada pelo povo, se dirigia até a igreja para a tradicional “novena”. Cada ano, no dia da padroeira da cidade, “Nossa Senhora da Imaculada Conceição”, após a novena, havia “leilão”. Waldir Dacol lembrou em seu texto, que se tratava da maior festa anual da pequena vila de Curitibanos.

O local lembrava muito os filmes do velho oeste dos americanos, pois o único meio de locomoção era o cavalo, ou algumas carroças. Havia dois automóveis a partir dos anos da década de 1930, um Fiat do dentista Dorigatti, que vinha constantemente de Rio do Sul, e um Ford modelo “T” do padrinho de Waldir Dacol, o senhor Sergilio França.

Waldir Dacol casou-se com Juracy de Oliveira, em 12 de dezembro de 1942, em Curitiba, Paraná. Ele estava com 19 anos. Entrou para as fileiras do Exército brasileiro como voluntário, em 1.º de fevereiro de 1941, na 3.ª Companhia do 15.º Batalhão de Caçadores. Em 22 de setembro de 1942, foi transferido para a Polícia do Exército (P.E.), permanecendo até 3 de janeiro de 1944. retornou para a 3.ª Companhia do 15.º Batalhão de Caçadores, onde permaneceu engajado e reengajado até 1.º de setembro de 1945, quando começou a se preparar para a integração definitiva. Foi integrado, após Curso de Preparação de Oficiais da Reserva de Curitiba, no estado efetivo do contingente de Praças, como 3.º Sargento em 26 de julho de 1947, e incluído oficialmente em 3 de fevereiro de 1948. Uma informação importante e curiosa sobre esse tempo: Ele casou-se e não comunicou o comando do Exército sobre esse casamento, sabendo ele, que seria impossível permanecer no exército, caso fosse casado, antes do engajamento.

Em 22 de julho de 1945, o comandante do batalhão, ao qual o 3.º Sargento Waldir Dacol estava servindo, emitiu a seguinte nota: “O 3.º Sargento Waldir Dacol, trabalhador, disciplinado e assíduo, cumpre seus deveres com acerto e rapidez, auxiliando também em outros serviços da Secção, com máxima boa vontade e interesse”.

Em 3 de fevereiro de 1948, foi transferido para outras cidades do Brasil, após ter recebido uma punição por afastar-se do Posto de Guarda por algumas horas, no dia 9 de janeiro de 1948, sem a permissão superior, e de ter sido punido com 8 dias de cadeia, e também, de ter sido considerado, até aquela data, pelos Oficiais do Batalhão de Caçadores de Curitiba, o cometimento de uma transgressão grave, dentro do Regimento do Exército. Trabalhou em Montes Claros, Jequitinhonha e Goiânia. 

Em 1.º de julho de 1950, finalmente, apresentou ao comando do Batalhão, ao qual estava servindo em Goiânia, a certidão de casamento datada de 1942, sendo no dia 4 de julho daquele ano, punido por “ter contraído dívidas superiores às suas possibilidades e por haver contraído matrimônio sem a prévia licença das autoridades competentes”. Recebeu a pena para ficar preso novamente por oito dias, sendo posto em liberdade somente no dia 31 de agosto. 

Dia 5 de setembro de 1950 foi encaminhado para Belo Horizonte para inspeção, com fins de reengajamento. Em 24 de outubro recebeu elogios pela boa apresentação pelos Tiros de Guerra da região de Goiânia. Apresentou-se de maneira correta, com esmero capricho e obedeceu rigorosamente as instruções baixadas pela repartição.

Talvez, pelas punições sofridas , Waldir Dacol estava quase fora do exército, entretanto, após um pedido feito para permanecer no Exército, foi-lhe concedido no dia 4 de maio de 1951, a sua permanência nas fileiras do Exército por duas ocasiões, três anos a contar de 23 de julho de 1946 e mais três anos, a contar de  23 de setembro de 1949.

Esteve em tratamento de saúde no final do ano de 1960. Permaneceu como Praça até 4 de agosto de 1961, quando foi promovido a Subtenente. Nesse tempo já havia sido transferido de Goiânia para Joaçaba, Santa Catarina. Naquele ano de 1961, Waldir Dacol completou 20 anos de serviços ao Exército brasileiro, sendo classificado no comportamento “Excepcional”, de acordo com o Regimento Interno da instituição. 

Em 8 de janeiro de 1962, o Exército brasileiro, recebeu do senhor prefeito de Joaçaba um  ofício, elogiando Waldir Dacol, nos seguintes termos: “Na oportunidade em que por motivo de merecida promoção, o Subtenente Waldir Dacol deixa as funções de Instrutor do Tiro de Guerra n.º 287, sediado nesta cidade,  julgo ser meu dever, e num princípio de justiça, ressaltar os bons serviços prestados por aquele ilustre militar  a coletividade joaçabense. Dirigiu na qualidade de Instrutor o Tiro de Guerra n.º 287, desde 1953. Durante esse grande período, além do cumprimento fiel às suas atribuições de militar, prestou a sua colaboração valiosa e sempre decidida, aos mais variados setores de atividades sociais.  É com satisfação que atribuo por intermédio deste Ofício, ao valoroso militar, Subtenente Waldir Dacol, os maiores encômios pela distinção, honradez e dignidade como que se houve durante o longo período que conviveu em nosso meio.  Com distinta consideração e respeito, subscrevo-me. Atenciosamente! José Valdomiro Silva, Prefeito Municipal.” O Subtenente Waldir Dacol permaneceu por nove anos à frente do Tiro de Guerra n.º 287, em Joaçaba, formando 413 reservistas de 2.ª Categoria.

Em 1962 esteve em tratamento de saúde em Curitiba e foi transferido para o 13.º Batalhão de Caçadores de Curitiba. Em 12 de junho de 1963, foi promovido a 2.º Tenente e consecutivamente, a 1.º Tenente, pois precisou de licença para tratamento de saúde. Não se recuperando, foi colocado na Reserva das fileiras do Exército, em 6 de abril de 1964.

Ele escreveu: “Se Deus me permitisse, eu viveria novamente todos os momentos passados para honrar e dignificar meus antepassados, e fazer jus ao sacrifício que meus pais fizeram por mim; o grande legado deles, um nome limpo e puro, eu divido com meu irmão Osni e minha irmã Odete, e leguei aos meus filhos e meus netos a tradição herdada, a certeza do dever cumprido. Pelos ensinamentos adquiridos em meu lar paterno, por todas as cidades deste país, por onde andei, deixei sempre o direito de voltar de consciência limpa e tranquila do dever cumprido. Na cidade de Antonina, no estado do Paraná, fui agraciado pela Câmara Municipal de Vereadores, devidamente sancionado pelo poder executivo do município, com o título de ‘cidadão benemérito’ da cidade. Título que ofereço a minha terra natal, Curitibanos.”

Ainda, a título de informação complementar, ele e sua família, antes católicos, filiaram-se no mormonismo, uma religião americana com ramificação no Brasil. Wilmar Dacol faleceu em 13 de maio de 1996, em Curitiba, Paraná, com seus invejáveis 72 anos. Foi sepultado em Curitiba. Alguns netos desse ilustre curitibanense, atualmente, ainda moram em Curitibanos.

Através da Lei Ordinária n.º 8974/1996 de 10 de dezembro de 1996, o então prefeito de Curitiba, senhor Rafael Valdomiro Greca de Macedo denominou uma rua da cidade com o nome de Rua Waldir Dacol.



Referências para o texto:



Cartório de Registro Civil — Escrivão Otávio Francisco Dias, de Curitiba, estado do Paraná. Livro n.º 67, folhas 222—223 e verso


Curitiba — Lei Ordinária n.º 8974/1996. Denomina logradouro público.


Página de Descobertas. Portal FamilySearch. On line. Disponível em: https://ancestors.familysearch.org/pt/KW2X-WT8/waldir-dacol-1923-1996


POPINHAKI, Antonio Carlos. Alfredo Lemser. Blog Curitibanenses. On line. Disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2021/08/alfredo-lemser.html


Registro de nascimento de Waldir Dacol. Portal FamilySearch. On line. disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X3XQ-V6R?i=54&cc=2016197

e ainda:

"Brasil, Santa Catarina, Registro Civil, 1850-1999," database with images, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X3XQ-V6R?cc=2016197&wc=MXYL-329%3A337701401%2C337701402%2C338036701 : 22 May 2014), Curitibanos > Curitibanos > Nascimentos 1923, Jun-1925, Abr > image 55 of 202; cartórios no estado de Santa Catarina (city registration offices), Santa Catarina.


Registro de casamento de Waldir Dacol. Portal FamilySearch. On line: Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:9396-WN33-RR?i=258&cc=2016194&personaUrl=%2Fark%3A%2F61903%2F1%3A1%3A68XB-TSYN

e ainda:

"Brasil, Paraná, Registro Civil, 1852-1996," database with images, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:9396-WN33-RR?cc=2016194&wc=MHNJ-LPD%3A337687101%2C341400801%2C342437001 : 15 September 2021), Curitiba > Curitiba > Matrimônios 1942, Set-1943, Jan > image 259 of 340; Corregedor Geral da Justicia da Paraná (Paraná General Justice Office), Curitiba.


Tiro de Guerra 05-008 — Turma Waldir Dacol. On line: Disponível em: https://p.calameoassets.com/131212173636-352d5cbcb02237485b611e6e15cb06c8/p3.jpg

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