Texto de Valdir Lemos de Carvalho
Aldo Dias de Carvalho (Curitibanos–SC, 4 de março de 1917 – 8 de setembro de 2017) foi lavrador, criador, carpinteiro, tropeiro, magarefe (indivíduo que abate e esfola as reses nos matadouros), jurado, motorista, comerciante e pecuarista, notório pela sua honestidade, generosidade, altruísmo, humanismo e amor ao próximo. Segundo o Deputado Onofre Santo Agostini, o seu compadre Aldo "foi um dos homens mais sérios e honestos de Curitibanos".
Nasceu no lugar denominado Butiá, 1.º Distrito de Marombas (depois denominado Marombas de Caçador e, atualmente, Marombas Bossardi), no Município de Curitibanos–SC, às 7 horas do dia 4 de março de 1927. Filho do lavrador Euclides Dias de Carvalho e da dona de casa Luiza Fabrício de Carvalho (Dona Lica), que tiveram cinco filhos: Aristides (Tide), Arminda (Minda), Amália, Aldo e Arquias. Pelo lado paterno, é neto de Francisco Teixeira de Carvalho e Amália Dias Colônia de Carvalho. Pelo lado materno, de Joaquim Fabrício da Silva Pinto (Vovô Quinco) e Laudelina Teixeira de Carvalho (Vovó Dila).
Cursou o primário inicial, conforme consta do seu Certificado de Reservista de 3.ª Categoria.
Casou-se com Anita de Andrade Lemos, que passou a assinar-se Anita de Andrade Lemos Carvalho, em 27 de novembro de 1948. Nascida em 11 de março de 1931, no Distrito de São Sebastião da Boa Vista, no Município de Curitibanos (depois denominado Caraguatá e, atualmente, São Sebastião do Sul, no Município de Lebon Régis). Filha do lavrador Aureliano de Oliveira Lemos e da dona de casa Hermelina Dias de Andrade, sendo seus avós paternos, Antônio Manoel de Oliveira Lemos e Joanna Maria Caetano e maternos, Macário de Mello Andrade e Maria do Carmo Dias de Andrade.
Após o casamento, o casal foi morar na casa dos pais dele, na localidade do “Butiá”, enquanto ele e seus irmãos construíam a sua própria casa, galpão, “cozinha velha” (metade assoalhada e outra metade de chão batido), todos cobertos de “tabuinha”, numa área de aproximadamente treze alqueires paulistas. Mantinha três áreas de lavouras, além de horta, pomar, criação de abelhas, piquete cercado com uns dois alqueires para criação de porcos, o restante era utilizado com a criação de gado e alguns equinos. Mantinha sempre um ou dois equinos “no trato no cocho”, para o seu uso e negócio. As edificações ficavam a uns duzentos metros a montante da margem esquerda do arroio Ana ou Aninha Leite, no 1.º Distrito do Marombas (atualmente, denominado arroio do Passo do Patrocínio, no Distrito de Marombas Bossardi), e a uns setecentos metros da estrada que vai de Curitibanos à Videira ou Caçador. Na sua labuta nas áreas de plantas, Aldo e Anita trocavam dias de serviços com o irmão dele, Aristides Dias de Carvalho, e a sua filha Leoniza Lemos de Carvalho, que após casada com Onofre Santo Agostini, passou a assinar-se Leoniza Carvalho Agostini. Os quatro trabalhavam uma semana nas plantações de Aldo e na outra nas lavouras de Aristides.
No primeiro semestre de 1949, o casal mudou-se para a casa nova, trazendo consigo os pais dele, Euclides e Luíza, porque ele já se encontrava doente. Em 18 de agosto de 1949, nasceu o primogênito Valdir Lemos de Carvalho. Em 21 de novembro de 1950, faleceu sem assistência médica Euclides Dias de Carvalho, o qual foi sepultado no Cemitério Particular do Butiá. Luiza ficou morando na casa da nora e do filho até falecer. Em 19 de outubro de 1950, nasceu Dalcema Lemos de Carvalho, a segunda e última filha do casal.
No início de 1957, ele construiu uma carteira escolar, com dois lugares, e contratou a jovem Nair Silva, filha dos seus compadres José e Emídia Silva, para alfabetizar os seus filhos em casa enquanto aguardava a filha atingir a idade para ser matriculada no primeiro ano primário e pudesse fazer companhia para o seu irmão na volta para casa, distante, três quilômetros e meio da escola.
No ano letivo de 1958, Aldo matriculou os filhos no 1.º ano primário da Escola Isolada Alice Macedo de Atayde, na sede do Distrito do Marombas, próximo da igreja, cuja construção foi demolida. Conseguiu com Silvério Perdoncini, dono da Empresa Ourinhos, que fazia o trajeto diário Curitibanos-Videira-Curitibanos, para levar os seus filhos até a sede do Distrito, sendo que o retorno era feito a pé. No início de abril ou maio do mesmo ano, a filha quebrou o braço, o que obrigou o filho a fazer o retorno da escola sozinho. Com o acidente, a filha perdeu o ano letivo.
Na época em que residiu na área rural, Aldo e o primo Deco Carvalho arrendaram uma área de terras no lugar chamado “Matão”, no interior do Distrito do Marombas, na qual criavam e engordavam porcos soltos. Depois, os vendiam à Milico Barroso, que os levava tocado a pé, para vendê-los em Videira–SC.
Para dar continuidade aos estudos dos filhos, Aldo resolveu vir morar em Curitibanos com a família. Adquiriu uma casa de madeira, com banheiro completo em casa, de Norival Varela Duarte, situada na Rua João Caetano da Silva, onde hoje está a casa de número 376, situada praticamente no meio da quadra que fica entre o Colégio Antônio Francisco de Campos e o Ginásio Casemiro de Abreu, onde os filhos fizeram seus estudos, a revelar a sua vontade férrea de vê-los formados.
Na cidade, trabalhou de empregado no abate e esfola de rezes no Matadouro Municipal de Curitibanos para o fazendeiro Ivadi Coninck de Almeida, por aproximadamente seis anos. A carcaça era serrada manualmente ao meio, que, depois, era desmembrada, as paletas, os pescoços até o terceiro osso da costela, o restante das costelas com os filés e os quartos ou traseiros. As peças eram transportadas penduradas numa “carroça furgão”, puxadas por duas mulas, a Uruguaiana e Girafa, dirigida por um auxiliar. As peças de carne eram vendidas aos açougueiros, chamados na época de “picadores”, que as retalhavam e as vendiam aos seus clientes.
No final, começava o abate às três horas da manhã, utilizando uma lanterna de oito pilhas grandes, porque não tinha luz no matadouro. Por volta das dezesseis horas, as peças de quatro rezes eram carregadas numa camionete furgão F-350, dirigida pelo “seu Dutra”, que as levava para Curitiba–PR, num açougue administrado por Pio Valim.
Nos seus deslocamentos de casa para o trabalho, utilizava uma égua gateada. Num sábado sim e no outro não, Aldo e o seu auxiliar iam buscar os bovinos destinados ao abate, os quais eram deixados num potreiro de Joaozinho Pires Almeida, que mantinha uma bodega de beira de estrada na encruzilhada de Videira-Caçador. Na condução do gado, ele e seu auxiliar utilizavam mulas da tropilha do “seu Ivadi”.
Paralelamente ao seu trabalho de empregado, manteve um abatedouro de porcos, arrendado, cuja entrada ficava entre o antigo Clube 5 e a antiga distribuidora de cerveja Antarctica e refrigerantes. O abate e esfola dos porcos eram realizados por Nicanor Antunes Xavier, o “tio Nica”. Além da venda da carne, o “tio Nica” fazia salame e morcilha para venda.
Ao deixar o seu emprego de magarefe, em sociedade com o seu primo Celso Thibes de Carvalho, Aldo entrou no ramo de compra e venda de crina vegetal, manufaturada das folhas do butiazeiro. Para essa nova atividade, compraram do “seu Evaldo”, titular da Concessionária Mercedes Benz, em Videira–SC, um caminhão zero quilômetro da mesma marca, a prazo. Aldo era o encarregado da compra da crina vegetal e Celso do transporte e venda da mercadoria em São Paulo e Rio de Janeiro. Com os negócios prosperando, compraram um “Mercedão” zero quilômetro, também a prazo. Para dirigir o primeiro caminhão, contrataram um motorista, tendo o Celso assumido a boleia do “Mercedão”. Com os lucros, adquiriram uma quadra de terras, com mais ou menos 4.000m², situada na atual Rua Euclides Dias de Carvalho, 50, em Curitibanos–SC. Mais tarde, Aldo comprou a parte do primo Celso no terreno.
Posteriormente, Aldo e Celso entraram de sócios na empresa Moraes & Granemann Cia. Ltda., que atuava no atacado e no varejo de secos e molhados, além de possuir quatro caminhões para o transporte e comercialização de crina vegetal em São Paulo e Rio de Janeiro. Para a integralização das suas partes na sociedade, deram os dois caminhões, aumentando a frota para seis caminhões. Então, os sócios resolveram incluir nas atividades da empresa a compra de açúcar cristal em Barra Mansa–RJ, e refiná-lo em Curitibanos–SC, num moinho de martelos. Para esse ramo da atividade, a sociedade adquiriu um terreno e mandou construir um barracão de madeira com aproximadamente 400 m² de área construída. Nele, instalaram um moinho de martelos para o refino do açúcar cristal. O barracão servia para depósito da crina vegetal, como também para o armazenamento do açúcar cristal e do refinado. Com essa nova atividade, os seis caminhões da sociedade partiam de Curitibanos carregados de crina vegetal para venda no Rio de Janeiro e voltavam carregados de açúcar cristal, adquirido em Barra Mansa–RJ. O açúcar refinado era vendido no varejo e no atacado em Curitibanos e cidades circunvizinhas. Na comercialização das mercadorias da empresa Moraes & Granemann & Cia. Ltda., era utilizada uma camionete Ford F-350, dirigida por muito tempo por Etevaldo Carvalho, que recém havia dado baixa do Exército, no Rio de Janeiro.
Com a entrada dos novos sócios na Moraes e Granemann & Cia. Ltda., Celso continuou viajando para o Rio de Janeiro e Aldo ficou encarregado da compra e estocagem da crina vegetal. Além disso, incumbia-lhe ir buscar miudezas na empresa Marins, em Lages-SC; banha e embutidos de porcos em Barra Fria, no Município de Herval Velho-SC; farinha de trigo em Lacerdópolis–SC, onde era completada a carga de banha e embutidos; e arroz em Canoinhas–SC. Para isso, ele utilizava-se de um Chevrolet Brasil, pintado de branco e azul.
Por ocasião de sua retirada da empresa, Aldo ficou com o barracão, o caminhão Chevrolet Brasil e uma camionete Ford F-100.
Em 1969, vendeu a casa e mais um lote que havia adquirido ao lado dela para Antônio Sebben, que a demoliu e construiu no local uma casa de material. Com a madeira recebida por conta do pagamento do negócio, ele mandou construir uma casa de madeira na atual Rua Euclides Dias de Carvalho, n.º 50, em Curitibanos, que continua de pé, numa área de aproximadamente quatro mil metros quadrados, em cujo local manteve por muitos anos vacas de leite, para com a comercialização do leite auxiliar nas despesas de casa.
Com muito trabalho, dedicação e sacrifício, em 1970, mandou o seu filho estudar em Curitiba–PR, o qual colou grau em Direito na PUC-PR em 18 de dezembro de 1975, realizando o seu grande sonho de ver o filho formado. Para essa empreitada, contou com a inestimável ajuda da filha Dalcema, que, com o seu salário, mantinha as despesas da casa, enquanto Aldo mantinha as despesas do filho em Curitiba. Em 5 de janeiro de 1973, o filho passou a trabalhar no Escritório do Professor Ruy José Rache e de Paulo Macarini, político catarinense, como estagiário, mas, ainda assim, o pai o auxiliava nas despesas da manutenção em Curitiba, até a colação de grau. Nessa empreitada, vendeu o Chevrolet Brasil, a camionete Ford F-100, o Jeep Willys Overland do Brasil, adquirido zero quilômetro, e o barracão, este último adquirido por Ulysses Pertussatto. Com essa nova realidade, passou a comprar crina vegetal para Ulysses Pertussatto, utilizando um caminhão Mercedes Benz 1113, azul, de propriedade de Ulysses, para o transporte e armazenagem da mercadoria, que era levada e vendida no Rio de Janeiro para a firma Primavera, fábrica de colchões.
Com o exaurimento do mercado da crina vegetal com a chegada da espuma derivada do petróleo, dedicou-se ao ramo de leitaria e pecuária, engordando bois em terrenos emprestados ou arrendados.
Anita faleceu em 16 de agosto de 2015, aos 84 anos, e Aldo em 9 de setembro de 2017, aos 90 anos. O casal deixou o filho Valdir Lemos de Carvalho, casado com Sonia Maria Zago Lemos de Carvalho, e as netas Stèphanie e Catherine, e a filha Dalcema Carvalho Lajus, casada com Jonas Ubiratã Lajus (in memoriam), e os netos Roberto Augusto e Luciane.
Nenhum comentário:
Postar um comentário