Texto de Antonio Carlos Popinhaki
José Bula foi uma figura lendária e um dos pilares do desenvolvimento de Curitibanos, Santa Catarina. Nascido em 2 de junho de 1895 no Rio Grande do Sul, era filho dos imigrantes italianos Pietro Bulla e Luigia Savio. Ainda jovem, em busca de novas oportunidades, migrou para Santa Catarina a cavalo, acompanhado de seu amigo Fioravante Ortigari, trazendo consigo um pequeno cargueiro com seus poucos pertences. De personalidade simples, alegre e trabalhadora, logo se integrou à comunidade local, onde construiu uma vasta rede de amizades.
Inicialmente, dedicou-se ao trabalho com selaria e tropas de gado e mulas, enfrentando com resiliência as intempéries e adversidades da vida campeira. Sua trajetória mudou quando, em um dos bailes da região, conheceu Maria Joaquina de Almeida, carinhosamente chamada de Mariquinha, filha do coronel Graciliano Torquato de Almeida. Casaram-se em 7 de junho de 1924 e se mudaram para a região do Guarda Mor, onde administraram uma propriedade rural herdada por ela, a Fazenda do Tigre.
Além de bem-sucedido pecuarista, dedicado à criação de gado e cavalos, José Bula era um visionário empreendedor. Foi sócio da empresa Força e Luz Curitibanense e um dos fundadores do que viria a ser a empresa Marombas & Cia. Ltda., inicialmente registrada em 1942, como Sbravati, Bula, Granemann & Cia. Ltda.. A ideia surgiu quando, em uma viagem a Joaçaba, o seu amigo Napoleão Sbravati avistou uma turbina pertencente a Francisco Lindner e vislumbrou o potencial hidrelétrico para Curitibanos. José Bula, juntamente com os sócios Napoleão Sbravati, João Granemann de Souza, Juvenal Bráulio Bacelar, Hilário Quadros de Andrade e o técnico alemão Augusto Gröne, impulsionou uma das primeiras indústrias da região, dedicada à produção de pasta mecânica e papelão, aproveitando o salto do Rio Marombas, em terras de sua propriedade.
Sua paixão por cavalos era notória, promovia corridas (carreiras) e sempre se cercava de jovens jóqueis, que o ajudavam a manter-se como um dos grandes campeões desses eventos. Apesar de não ter tido filhos, era conhecido por seu carinho pelas crianças, sempre carregando balinhas no bolso para presentear os pequenos. Criou com afeto sobrinhos e afilhados, entre eles Maria Luiza Righes Camargo (Dona Luizinha), a quem deixou sua casa ao falecer.
Em 1951, o casal mudou-se para a área urbana de Curitibanos, adquirindo a residência do Coronel Virgilio Pereira, local onde hoje funciona o Café Cenário, que preserva a memória afetiva e histórica de José Bula e de Curitibanos da época.
Por duas vezes foi candidato a vereador. Em 06 de fevereiro de 1951, instalou-se solenemente a Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos com a posse dos vereadores eleitos para o quadriênio 1951 a 1955. Nesse pleito, José Bula ficou como suplente, não conseguindo eleger-se. Em 1.º de fevereiro de 1955, instalou-se novamente e solenemente a Câmara Municipal de Vereadores de Curitibanos com a posse dos vereadores eleitos para o quadriênio 1955 a 1958. Nesse pleito, José Bula ficou novamente como suplente, não conseguindo eleger-se. Entretanto, apesar das duas tentativas seguidas para ocupar uma cadeira na casa legislativa, José Bula era uma pessoa marcante, respeitada e destacada na política curitibanense na década de 1950. Em 1956 foi sócio da Sociedade Hípica Curitibanense. O pecuarista era fascinado por corridas de cavalos. Juntamente com sua esposa Maria Joaquina de Almeida e amigos, reuniam-se frequentemente na tradicional Fazenda do Tigre, famosa em Santa Catarina pela criação de gado e cavalo.
José Bula faleceu em 5 de fevereiro de 1970, aos 74 anos, vítima de um “coma hepática”, uma complicação no fígado, resultante de um “coice de cavalo”, um destino irônico para quem dedicou a vida a esses animais. Seu óbito ocorreu às 7 horas da manhã no Hospital Frei Rogério, e foi sepultado no Cemitério Municipal São Francisco de Assis.
Como homenagem póstuma, no dia 9 de novembro de 1970 o então prefeito de Curitibanos Hélio Anjos Ortiz, denominou uma importante via urbana do município com o nome de Rua José Bula. Essa rua é aquela que, partindo das proximidades do término da Avenida Frei Rogério, segue em direção ao Estádio Municipal Wilmar Ortigari (Ortigão), passando pelos fundos deste. A placa indicativa da via pública, deveria conter os seguintes dizeres: “Rua José Bula - Vereador Emérito”.
Deixou um legado de prosperidade, generosidade e notável participação no progresso econômico e social de Curitibanos, sendo lembrado como um homem à frente de seu tempo, que soube transformar o visionismo em realidade. Sua história permanece viva não apenas nas fotografias e narrativas locais, mas também no coração da comunidade que ajudou a construir.
Referências para o texto:
Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 863/1970.
Fotografia: Acervo do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza
Informações adicionais do acervo do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza
PELLIZZARO, Dhébora Costa. Quem foi o lendário José Bula. Coluna Tradicionalismo. Portal A Semana, 18 de outubro de 2013. On-line, disponível em: https://asemanacuritibanos.com.br/coluna-tradicionalismo-dhebora/quem-foi-o-lendario-jose-bula-1-1612789/
POPINHAKI, Antonio Carlos. Histórico da Câmara de Vereadores de Curitibanos. Acervo do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário