Texto de Antonio Carlos Popinhaki
(Atualizado em 23 fev 2021)
Alexandre Popinhak emigrou para o Brasil, deixando para trás a sua amada Ucrânia para nunca mais voltar. O sonho dos imigrantes era vir ao Brasil, ficar rico e voltar à terra dos seus antepassados, coisa que raramente ocorria. Ele, a sua esposa Ana e os seus filhos, João, Maria e o bebê Basílio chegaram ao porto do Rio de Janeiro, a bordo do Vapor “Pará”, proveniente do porto de Gênova, Itália, em 28 de novembro do ano de 1895. Após passarem pela “quarentena” obrigatória na “hospedaria de imigrantes em Pinheiro”, local destinado para os que vinham do além-mar, entraram novamente num navio, dessa vez, com o destino ao porto de Paranaguá.
Como imigrante europeu, sua família estava destinada ao interior do Paraná, mais precisamente num dos lotes rurais de 10 alqueires, na pequena localidade de Antônio Olinto. Num livro de registro de imóveis guardado atualmente no Arquivo Público do Paraná, encontrei que ele era proprietário de dois lotes na localidade de “Linha Munhoz”. Precisamente, os lotes de números 38 e 39. Como os lotes não eram gratuitos, julgo que ele comprou os dois com muito trabalho e determinação.
A vida nunca foi fácil para um imigrante. Houve muitas dificuldades além do próprio idioma. Ferramentas, instalações apropriadas para o abrigo da família contra as intempéries da natureza e animais selvagens, alimentos, remédios, roupas, utensílios domésticos estavam no início da imensa lista de privações.
João, o filho de Alexandre era ainda pequeno e ajudava o pai dentro das suas possibilidades. Dedicaram-se à agricultura e à extração de erva-mate. A família, ao longo dos anos, começou a se tornar numerosa, exigindo muito esforço e dificuldade na sua manutenção.
A comitiva de um tropeiro chamado Francisco Teixeira de Carvalho, o “Chico Ruivo", sempre pernoitava na propriedade da família Popinhak, com tropas de muares e gado, tendo o destino, a Feira de Sorocaba, interior de São Paulo. Numa dessas tropeadas, entre os anos de 1896/1898, “Chico Ruivo” vendo a situação crítica que a família anfitriã passava, acertou com Alexandre a adoção do menino João, como membro da sua família, trazendo o rapazola para Curitibanos. Infelizmente, há outra versão não confirmada oficialmente para esses acontecimentos, a de que Alexandre, não tendo mais nenhuma alternativa, trocou o filho por mercadorias ou por um bem que pudesse ser útil à família estabelecida em Antônio Olinto. Uma troca, ou uma venda? Ou simplesmente, o pai cedeu o filho para um forasteiro, para ser criado por ele, desejando-lhe melhor sorte? As respostas nunca serão conhecidas.
O fato é que esse “Chico Ruivo” agiu com honestidade e criou João Popinhak como se fosse seu próprio filho, ensinando-lhe as lidas campeiras na fazenda dos Carvalhos. Quando cresceu, foi encarregado de conduzir as tropas de cargueiros com destino ao litoral catarinense, onde vendia as mercadorias, trocava e comprava produtos para o consumo da família e abastecia os armazéns da região. Além de confeccionar cestos, bruacas e cangalhas, auxiliava João Batista Pozzo na montagem da serraria de Chico Ruivo no Campo da Roça, ampliando o seu conhecimento. Construiu ranchos, galpões e casas, tornando-se com o tempo, um excelente carpinteiro e marceneiro (Casa dos Ortigari/Magalhães e antiga Prefeitura, hoje o Museu).
João Popinhak, em Curitibanos, a mais de 200 quilômetros de onde sua família de sangue vivia, prosperou. Cresceu, adquiriu conhecimentos técnicos, personalidade e prestígio. Certo dia, recebeu a concessão da prefeitura municipal de Curitibanos para construir uma balsa sobre as águas do rio Marombas. Também recebeu a incumbência de explorar as travessias sobre a mesma, transportando cotidianamente num sistema de vai-e-vém, carros, pessoas, cavalos, cavaleiros, tropas e quem estivesse disposto.
Em contrapartida, a sua família de sangue cresceu em Antônio Olinto. Nasceram na casa de Alexandre e Ana, Gregório e Paraskevia, que foram adicionados aos que vieram da Ucrânia ou do além-mar, Maria e Basílio. Com dificuldades, os filhos cresceram e começaram a tomar seus rumos. Maria casou-se e mudou-se para Pato Branco/PR. Basílio e Gregório depois de casados, foram arriscar a sorte em Três Barras/PR, como empregados da Southern Brazil Lumber and Colonization Company. Paraskevia casou-se e foi morar em Porto União/SC. Alexandre Popinhak faleceu com 73 anos no dia 10 de julho de 1927 em Antônio Olinto/PR.
Gregório Popinhak nasceu no dia 1 de setembro de 1898, casou-se com Emília Tulchak no dia 1 de julho de 1922. Ele tinha 24 anos e ela, 17. Dessa união, nasceu uma menina. Deram a ela o nome de Rosália. Infelizmente ela faleceu num acidente horrível quando ainda era pequena. Ele deve ter se mudado para a cidade de Três Barras no ano de 1924 ou 1925, uma vez que Ana Popinhak, a sua filha mais velha viva, foi registrada no cartório de Antônio Olinto no ano de 1923. A próxima filha seria Miquelina, essa foi registrada como nascida em Três Barras.
Lá pelos idos anos 1930 do século XX, a situação não estava boa para os empregados da Lumber. Gregório e seu irmão, após ficarem desempregados, tentaram trabalhar com o que a vida lhes apresentava. Desde a extração de erva-mate, a moagem em ervateiras e outros serviços simples que não lhes trouxeram renda suficiente e satisfatória.
Devido à dificuldade enfrentada pela família que estava passando fome, Gregório Popinhak recebeu auxílio do seu sogro, Lucas Tulchak. Esse vendeu parte das suas terras em Antônio Olinto, pegou o dinheiro da venda e entregou para que Gregório abrisse um Armazém, um mini mercado na localidade de “Colônia Tigre", interior de Três Barras. Quando uma pessoa nunca administrou nada, nunca teve bens materiais e também, quando não conquistou esses bens na base do suor e da perícia, não sabe o que significa, em termos de valor monetário, bem algum. No caso de Gregório Popinhak, ele recebeu de presente o dinheiro e o estabelecimento comercial. Não labutou por eles. Tão logo o empreendimento começou, logo findou.
Nesse tempo, já haviam nascido vários filhos. Rosália, havia morrido. Depois nasceu Ana, Miquelina, Bronislava, Pedro, João Popinhaki Sobrinho, Joana, Helena e Antonio. Em 1934 morreu a pequena Joana de grave infecção de vermes por faltar o mínimo de condições de higiene.
Gregório Popinhak entrou em contato com o seu irmão João que estava se saindo muito bem em Curitibanos, relatou-lhe as dificuldades, às quais estavam passando. João convidou toda a família para mudarem para a localidade de Marombas, interior de Curitibanos, onde poderiam trabalhar com ele no serviço de travessia do rio com a balsa. O convite também foi estendido à família de Basílio que também se encontrava em situação parecida à do irmão Gregório. Esse, não aceitou o convite do seu irmão João, decidiu permanecer em Três Barras.
No ano de 1937, Gregório Popinhak, seus filhos, filhas e algumas caixas com seus pertences embarcaram no trem com destino a Caçador/SC. Dessa cidade, pegaram um ônibus para Curitibanos, ao passar pela localidade de Marombas, desembarcaram todos no novo local que seria o lar da família pelos próximos anos.
Gregório começou a trabalhar com o irmão. Inicialmente foram alojados num paiol velho que lhes serviu como casa. Depois foram mudados para uma casa de verdade.
Em Marombas, mais filhos nasceram: Maria Odete, José Rogério, Noely, Leniro, Maria Célia e Eolita. José Rogério, Noely e Leniro faleceram ainda crianças de doenças como o sarampo e a meningite. Agora podemos dizer que Emília Tulchak ficou 15 vezes grávida. Desde que casou com Gregório em 1922, até o nascimento da última filha Eolita em 1946 foram 24 anos. Nesse intervalo houve 15 gestações.
Depois de alguns anos trabalhando para o irmão e não conseguindo obter uma boa renda em termos de salário, Gregório começou a trabalhar numa fábrica de papelão que se instalou na região em 1942. Seu registro foi feito em 2 de janeiro de 1946 com o cargo de Contra-Mestre. Trabalhou na empresa até o dia 1 de janeiro de 1955. Na empresa, ele trabalhou em várias funções, até ganhar a simpatia e a confiança dos proprietários, chegando a ser uma espécie de encarregado de turno e setor.
As filhas mais velhas casaram e foram morar em outras cidades. Com o passar dos anos, ficaram apenas Maria Célia e Eolita, as mais novas. Em 9 de fevereiro de 1953 faleceu Emília Tulchak, deixando Gregório viúvo. Após a morte de Emília, depois de cinco anos, Gregório arrumou uma nova companheira. Maria Luisa Souza, filha de Francisco de Souza e Emília Rodrigues Silva, foi a sua segunda esposa. Casaram somente na igreja católica de Curitibanos, no dia 7 de novembro de 1958. Desse casamento, nasceu uma menina. Até agora, para mim, é um mistério, pois ninguém sabe do seu paradeiro.
Em 14 de agosto de 1966, Gregório Popinhak faleceu com 68 anos. Seus filhos e filhas foram pessoas conhecidas e fizeram parte do desenvolvimento de Curitibanos. Pedro Popinhak foi funcionário da Prefeitura Municipal, após o seu falecimento, em sua homenagem, foi nomeada uma rua com o seu nome (Rua Pedro Popinhaki) no bairro Bom Jesus. João Popinhaki Sobrinho foi um empreendedor em Curitibanos, proprietário de concessionária de veículos nos anos 1960 e 1970. Seus filhos foram proprietários de empresas do ramo madeireiro. Também encontramos uma rua com o nome de Rua João Popinhaki Sobrinho no bairro São Luiz. Maria Odete teve dois filhos que se elegeram vereadores, além das filhas que foram professoras reconhecidas por seus excelentes trabalhos nas escolas estaduais. Antonio Popinhak foi fazendeiro, industrial e proprietário de lojas de eletrodomésticos. Maria Célia foi professora e diretora de escolas.
Referências para o Texto:
BACELAR, Juvenal Bráulio. João Popinhak. Escritos biográficos. Curitibanos/SC. 1973. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.
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POPINHAK, Therezinha Camargo. Depoimento sobre Maria Luisa Souza. Curitibanos. 2014.
POPINHAKI, Terezinha Ferreira. Depoimento sobre Maria Luisa Souza. Curitibanos.
2010.
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