quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Antonio Francisco de Campos


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Antonio Francisco de Campos nasceu no dia 7 de maio de 1899 na cidade de São José, Santa Catarina. Ele era filho de Francisco Custódio de Campos e Júlia Duarte de Campos. Foi batizado na igreja católica daquela cidade, no dia 10 de setembro de 1899. Aqueles que o conheceram, afirmaram que ele sempre foi um leitor dedicado, pois gostava muito de estudar, destacando-se sempre no meio dos demais colegas de escola.

Não se sabe por qual razão ele veio parar em Curitibanos, provavelmente devido ao exercício profissional de serviços públicos, pois encontramos registros de que desde moço, ele tentava uma vaga nesse setor. Fez concurso para se tornar um funcionário dos Correios, escrivão da Coletoria de Curitibanos, professor e diretor de escola do Estado. Quando atingiu a idade de 23 anos, mais precisamente, no dia 31 de janeiro de 1923, casou-se em Curitibanos com a jovem Hermelinda Ribeiro de Almeida, filha do fazendeiro Honório da Silva Ribeiro e da esposa Maria Ribeiro de Almeida.

Em Curitibanos, Antonio Francisco de Campos destacou-se por seu notório conhecimento. Segundo informações, ele era poliglota, falava e entendia sete idiomas (português, latim, alemão, francês, inglês, italiano e espanhol), entretanto, das línguas estrangeiras, que ele mais dominava, o francês se destacava. Falar francês era raro naquele tempo, ainda mais numa pequena vila no interior de Santa Catarina. O domínio da língua francesa era sinônimo de cultura. Por essa razão, tentando fazer uma cronologia de sua trajetória profissional, depois de pesquisar, encontrei o seguinte:

Em 1921, Antonio Francisco de Campos prestou concurso público para os Correios. Em 10 de abril de 1924, por ato do Ministro da Fazenda, foi nomeado para ser o Escrivão da Coletoria da Comarca de Curitibanos. Ao ocupar esse cargo, mostrou competência a todos que o procuravam e o cercavam. Em 12 de novembro de 1931, na chamada “Era Vargas”, foi nomeado pelo Interventor Federal do Governo do Estado de Santa Catarina, o senhor Ptolomeu de Assis Brasil, para, com os senhores Graciliano Almeida e José Custódio de Melo, criarem na vila, o “Conselho Consultivo”, atendendo a Resolução n.º 1149, e ao disposto no Artigo 1.º, § 2.º do Decreto Federal n.º 20.348, de 29 de agosto de 1931, que diz: “Cada Conselho Consultivo Estadual se comporá de cinco ou mais membros, cidadãos brasileiros, de reputação ilibada, notoriamente idôneos, domiciliados na capital ou em lugar próximo e de fácil comunicação com esta”. No Governo provisório foram instituídos os Conselhos Consultivos estaduais, no Distrito Federal e nos municípios, com a finalidade de fiscalizar e ajudar os prefeitos e o Interventor Federal nas suas atribuições. Antonio Francisco de Campos foi um dos escolhidos por sua ilibada conduta moral e cívica. Dois anos depois, ele foi exonerado, a pedido, em junho de 1933.

No dia 14 de novembro de 1931, foi publicado nos jornais locais, que em Curitibanos, seria construída uma Casa Paroquial, o pároco da época, era o Frei Roque Saupp. O projeto (a planta da casa) foi de responsabilidade do técnico, Pedro Rodolfo, da cidade de Lages. Foi organizada em Curitibanos, uma “Comissão Pró-Casa-Paroquial”, presidida pelo pároco, tendo como secretário, Antonio Francisco de Campos, e como tesoureiro, o senhor Ceslau Silveira de Souza, que, na ocasião, conseguiu vultosos donativos para a obra.

Em 1.º de maio de 1934, com a composição de algumas freiras, assumiu como o primeiro Diretor do novo educandário curitibanense, o “Grupo Escolar Arcipreste Paiva”, desde a data da sua inauguração. A escola funcionou inicialmente, nas instalações de um antigo Teatro Municipal, num casarão de madeira, cedido pela prefeitura para esse fim, na esquina das ruas Coronel Albuquerque, com a Vidal Ramos. Lá, além de diretor, Francisco de Campos foi também professor. Alguns anos antes, ele foi nomeado professor provisório da antiga escola masculina da vila de Curitibanos, em razão da senhora Ernestina Dousfield Cláudio, ter pedido a sua exoneração como professora da época daquela escola. Portanto, ele tinha experiência como educador, estava qualificado para os cargos de professor e diretor.

Tudo parecia fluir rapidamente na carreira profissional de Antonio Francisco de Campos. Em 1933, ele era o Secretário de Administração do prefeito Antônio Granemann de Souza, tendo por hábito prestar contas mensalmente, através da divulgação de balancetes mensais das receitas e despesas da prefeitura municipal de Curitibanos. Em 1.º de julho de 1933, assinou o “Balancete Orçamentário da Receita e Despesa”, referente ao mês de junho de 1933, como Secretário da Prefeitura Municipal, na gestão de Antônio Granemann de Souza. Mesmo fato publicado em 2 de agosto de 1933, referente ao mês de julho daquele ano. Há no mínimo, e consecutivamente, mais seis publicações mensais desses balancetes.

Julgando ter maior serventia para o Estado, com seus préstimos burocráticos, o governador de Santa Catarina, o senhor Nereu Ramos, através da Resolução n.º 433, emitida em 22 de agosto de 1935, e publicada em 29 de agosto de 1935, resolveu dispensar Francisco de Campos dos cargos de Diretor do Grupo Escolar Arcipreste Paiva e da anexa Escola Normal Primária, da vila de Curitibanos, pois, através da citada Resolução, foi nomeado Coletor interino da Comarca de Curitibanos.

Além de todos esses cargos públicos, Antonio Francisco de Campos ainda era membro do Diretório Municipal do Partido Republicano Liberal. Foi uma pessoa de muita cultura, simples, não se preocupava muito com a sua aparência física. Geralmente, não estava com o cabelo e a barba aparados. Dizem ainda alguns curitibanenses, que ele vivia “à moda das pessoas inteligentes”. Foi convidado diversas vezes para concorrer ao cargo de Deputado Estadual, recusou todos os convites, devido à sua natural característica de simplicidade e modéstia

No dia 18 de julho de 1945, em sua residência, que ficava na Rua Dr. Lauro Müller, às 02:30 horas da manhã, sentiu fortes dores no peito, falecendo repentinamente. A causa da sua morte, conforme atestado médico, foi angina pectoris, classe primária e secundária. Foi sepultado no dia seguinte no cemitério público da cidade de Curitibanos, tendo missas de sétimo dia, em Curitibanos e outra, ministrada no dia 23 de julho de 1945, às 07:30 horas da manhã, na igreja Matriz da cidade de São José, local do seu nascimento. Em seu atestado de óbito diz que ele não deixou bens a inventariar. Tinha um irmão que era professor, de nome Custódio Campos. Na ocasião do seu falecimento, exercia o cargo de Secretário da Prefeitura Municipal de Curitibanos. Deixou três filhos, Orlando, Hélio e Maria Júlia Campos.

Todavia, para homenageá-lo post mortem, foi denominada uma rua da cidade de Curitibanos. Através da Lei Ordinária n.º 99/1950, o prefeito da época, o senhor Salomão Carneiro de Almeida, o homenageou com o nome de uma pequena rua, que antigamente, era o caminho para o cemitério municipal, ao lado da praça Nereu Ramos (pracinha dos Dotti). Hoje essa rua é conhecida simplesmente como Rua Francisco de Campos.

No início do ano de 1957, foi construído um colégio novo em Curitibanos. Esse educandário recebeu o nome de “Grupo Escolar Professor Antonio Francisco de Campos”. Em 19 de março daquele ano, teve à frente da sua direção, o senhor Walter Nunes, logo depois, a professora Célia de Andrade Lemos, que ficou no cargo por dois anos.

Em Curitibanos, o seu filho, Hélio Ivo Ribeiro de Campos, tornou-se vereador e também recebeu o nome de uma rua.



Referências para o texto: 



BRASIL — Decreto nº 20.348, de 29 de agosto de 1931, Institui Conselhos Consultivos


Concurso dos Correios. Jornal “A Gazeta”, 1935, ed. 139, p. 4.


Concursos no Correio. Jornal “O Estado”. Florianópolis, 25 de janeiro de 1921. Ano VI, nº 1779, p. 3


Curitibanos — Lei Ordinária nº 99/150. Denomina ruas.


De Curitibanos. Jornal “A Época”. Jornal Independente. 8 de fevereiro de 1936. Ano XI, Ed. 385, p. 1


Falecimentos. Jornal “O Estado”. Florianópolis,19 de julho de 1945. Ano XXXI, nº 9425, p. 8. 


Fotografia do acervo da E. E. B. Santa Teresinha de Curitibanos.


Informações adicionais da senhora Eloiza Margareth Ferreira.


LINS, Paulo Cezar Zanoncini. A formação urbana de Curitibanos, 1851 — 1969. Curitiba/PR. Factum Editora. 2021, 1ª ed.


Missas. Jornal “O Estado”. Florianópolis,21 de julho de 1945. Ano XXXI, nº 9428, p. 3 e 6. 


Município de Curitibanos. Jornal "República", Florianópolis, sábado, 14 de novembro de 1931. Ano I, nº 320, p. 3.


Município de Curitibanos. Jornal "República", Florianópolis, quinta-feira, 8 de junho de 1933. Ano II, nº 883, p. 2.


Nomeação na Fazenda. Jornal “O Estado”. Florianópolis, 11 de abril de 1924. Ano IX, nº 2940, p. 2.


Pela Instrucção. Jornal “O Estado”. Florianópolis, 6 de fevereiro de 1922. Ano VII, nº 2287. p. 2.


POPINHAKI, Antonio Carlos. Célia de Andrade Lemos. Blog Curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2021/08/celia-de-andrade-lemos.html


Prefeitura Municipal de Curitibanos — Balancete da Receita e Despesa relativo ao mês de junho de 1933. Jornal "República", Florianópolis, terça-feira, 18 de julho de 1933. Ano II, nº 915, p. 5.


Prefeitura Municipal de Curitibanos — Balancete da Receita e Despesa relativo ao mês de julho de 1933. Jornal "República", Florianópolis, terça-feira, 22 de agosto de 1933. Ano II, nº 944, p. 3.


Prefeitura Municipal de Curitibanos — Balancete da Receita e Despesa relativo ao mês de setembro de 1933. Jornal "República", Florianópolis, domingo , 1º de outubro de 1933. Ano II, nº 978, p. 7.


Prefeitura Municipal de Curitibanos — Balancete da Receita e Despesa relativo ao mês de outubro de 1933. Jornal "República", Florianópolis, quinta-feira, 2 de novembro de 1933. Ano II, nº 1004, p. 6.


Prefeitura Municipal de Curitibanos — Balancete da Receita e Despesa relativo ao mês de novembro de 1933. Jornal "República", Florianópolis, domingo, 14 de janeiro de 1934. Ano III, nº 1062, p. 3.


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