Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Flávio Roberto Almeida Lemos nasceu em 1963, na cidade de Curitibanos, Santa Catarina, local ao qual sempre manteve profundo vínculo afetivo e identitário. Neto de Salomão Carneiro de Almeida, ex-prefeito do município por diversas gestões, cresceu em um ambiente marcado pelo serviço público, pela liderança comunitária e pelo compromisso social, valores que influenciaram decisivamente sua trajetória de vida.
Desde cedo, Flávio demonstrou sensibilidade às dores humanas e vocação para o cuidado com o próximo. Ainda jovem, mudou-se para o Paraná, onde iniciou um trabalho que se tornaria referência nacional no enfrentamento à dependência química. Foi nesse contexto que fundou a Casa de Recuperação Água da Vida (CRAVI), uma organização não governamental estruturada como comunidade terapêutica, voltada à acolhida, tratamento e reinserção social de dependentes químicos.
A CRAVI consolidou-se ao longo dos anos como uma instituição séria, comprometida e inovadora, sendo certificada nas esferas municipal, estadual e federal. Seu trabalho foi reconhecido por importantes parcerias governamentais, com projetos contemplados pela Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) e pelo Fundo da Infância e Adolescência (FIA). Sob a liderança de Flávio, a instituição tornou-se um espaço de transformação de vidas, oferecendo não apenas tratamento, mas dignidade, esperança e reconstrução de vínculos familiares.
Flávio possuía uma formação sólida e multidisciplinar. Era teólogo, técnico em dependência química, missionário, e concluiu sua graduação em Psicologia em 2007, colando grau em fevereiro de 2008, em cerimônia prestigiada por amigos e familiares. Dava continuidade à sua formação por meio de pós-graduação em Psicanálise, com o objetivo de aplicar o conhecimento tanto na CRAVI quanto em atendimentos ao público externo, sempre buscando integrar ciência, espiritualidade e prática humanizada.
Seu método de trabalho baseava-se no amor, no acolhimento e na responsabilidade compartilhada. Flávio defendia a ideia de que os internos não eram meros pacientes, mas “agentes de sua própria cura”, capazes de reconstruir suas histórias com apoio psicológico, espiritual e social. Em um período em que muitos desacreditavam da recuperação, ele acreditava, e fazia acontecer.
Reconhecido nacionalmente, Flávio foi frequentemente convidado a participar de debates públicos sobre políticas antidrogas e comunidades terapêuticas. Em 2003, ocupou a Tribuna Livre da Câmara Municipal de Curitiba, onde apresentou a atuação da CRAVI e defendeu a complementaridade entre políticas públicas e comunidades terapêuticas. Sua atuação foi destacada em importantes veículos de comunicação, como a Gazeta do Povo, onde contribuiu para o debate sobre modelos de tratamento da dependência química no Brasil.
Em 22 de julho de 2009, durante a XVI Semana Estadual de Prevenção ao Uso de Drogas – PREVIDA, foi homenageado com o Prêmio Mérito Pela Valorização da Vida, concedido pela Secretaria Nacional Antidrogas, em reconhecimento à sua contribuição efetiva na redução da demanda de drogas e na valorização da vida.
Mais do que um profissional exemplar, Flávio Roberto Almeida Lemos foi um líder amoroso, mentor, amigo, pai e referência humana e espiritual para milhares de pessoas. Seu trabalho marcou profundamente colaboradores, internos, famílias e comunidades inteiras. Inúmeros testemunhos relatam que, em momentos de dor extrema, foi sua mão estendida, sua palavra firme e seu exemplo de perseverança que reacenderam a esperança.
Flávio faleceu em 17 de setembro de 2015, deixando um profundo sentimento de perda, mas também um legado imensurável. Sua missão permanece viva na continuidade da CRAVI, na atuação de sua família, nos profissionais que formou e, sobretudo, nas vidas que ajudou a reconstruir. Sua esposa, Ely Regina Franceschi Lemos e seu filho, Flávio Roberto Almeida Lemos Filho, continuaram trabalhando na sua missão, mantendo viva a sua memória e atuação.
Seu nome permanece associado à fé, à coragem, ao amor incondicional e à luta incansável pela recuperação de vidas.
“Flávio, sua conquista, nossa vitória.”

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