terça-feira, 8 de abril de 2025

Ecilda Ribeiro Nórcio


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Ecilda Ribeiro Nórcio nasceu em 13 de junho de 1945, na Fazenda Guarda-Mor, interior de Curitibanos, Santa Catarina. Filha caçula de Alcino da Silva Ribeiro e Teodorina dos Santos Maciel, cresceu em uma família numerosa e humilde, composta por nove irmãos sobreviventes de um total de quinze filhos. Sua infância foi marcada pela simplicidade da vida no campo, pelos desafios da pobreza e pela forte influência dos valores de honestidade e trabalho duro transmitidos por seus pais.

Aos seis anos, Ecilda vivenciou um dos primeiros grandes traumas de sua vida: a morte de seu irmão mais novo, Rogério, com apenas três anos de idade. O enterro do irmão, realizado sob uma intensa nevasca, ficou gravado em sua memória como um momento de profunda tristeza e resiliência. Sua mãe, Teodorina, era uma mulher forte, que enfrentou quinze partos em casa, muitas vezes sem assistência médica. Ela também trabalhava incansavelmente na agricultura ao lado do marido. Seu pai, Alcino, era um homem calmo e dedicado à família, que, apesar das dificuldades financeiras, sempre priorizou a educação dos filhos.

A vida no interior era dura, mas também repleta de pequenas alegrias. Ecilda recorda-se das brincadeiras com os irmãos, como atrair porcos para a lagoa com espigas de milho, uma travessura que lhe rendeu uma cicatriz permanente na mão após uma mordida de um dos animais. Essas memórias, embora simples, foram fundamentais para moldar seu caráter resiliente e sua capacidade de encontrar felicidade mesmo nas adversidades.

Em 1958, Ecilda iniciou seus estudos na Escola Isolada Municipal de Salto Correntes, onde teve sua primeira professora, Dona Dalva, uma mulher paciente que alfabetizava crianças de diferentes séries em uma única sala. Foi ali que nasceu seu sonho de se tornar professora. Apesar das dificuldades financeiras da família, ela persistiu nos estudos, mesmo quando as mudanças de cidade a obrigaram a interromper temporariamente sua educação.

Com a mudança da família para a área urbana de Curitibanos, Ecilda foi matriculada no Colégio Santa Terezinha, mantido por freiras. A Irmã Florentina, diretora da escola, foi uma figura essencial em sua trajetória, ajudando-a com materiais escolares e uniformes. Mesmo sem condições de pagar um curso preparatório para o exame de admissão ao ginásio, Ecilda foi incentivada pela freira a fazer a prova e, para sua surpresa, foi aprovada.

No entanto, a vida escolar não foi fácil. Na terceira série ginasial, reprovou em álgebra e, desanimada, abandonou os estudos temporariamente. Trabalhou como balconista em uma livraria, mas o desejo de voltar à sala de aula a fez retomar os estudos após seu casamento, concluindo o ginásio e, posteriormente, o Curso Normal Regional (Magistério).

Em 1961, Ecilda casou-se com Gilson, um jovem que conheceu em uma festa na Igreja Luterana de Curitibanos. O casal enfrentou dificuldades financeiras no início, mas o amor e a determinação os mantiveram unidos. Da união, tiveram quatro filhos: Rosane, Gilson Luís, Joni Robert e Márcio André.

A vida de Ecilda como mãe foi marcada por desafios profundos, especialmente com o nascimento de Joni, seu terceiro filho, que apresentou deficiência intelectual e autismo. Durante anos, ela lutou para garantir o melhor tratamento possível para ele, enfrentando preconceitos, limitações médicas e a exaustão física e emocional que acompanha o cuidado de uma criança com necessidades especiais. Mesmo assim, nunca abandonou sua carreira como professora, conciliando o magistério com a dedicação à família.

Em 1965, Ecilda foi nomeada professora primária, realizando seu sonho de lecionar. Trabalhou em escolas rurais e urbanas, enfrentando longas caminhadas sob sol e chuva para chegar às salas de aula. Sua paixão pela alfabetização a levou a se especializar no ensino de crianças pequenas, e ela se orgulhava de ver seus alunos progredirem, muitos deles se tornando profissionais bem-sucedidos.

Quando Joni precisou de cuidados mais intensivos, Ecilda transferiu-se para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais — APAE, onde trabalhou por oito anos antes de se aposentar. Ali, descobriu uma nova forma de ensinar, adaptando-se às necessidades de alunos com deficiência e encontrando alegria em pequenas conquistas, como ensinar tricô a suas alunas.

A vida de Ecilda foi uma sequência de provações e superações. Além dos desafios com Joni, enfrentou a perda precoce do marido, Gilson, em 2002, e a morte de Joni em 2007. Apesar das dores, manteve-se firme em sua fé, encontrando forças em Deus e no amor da família.

Após a aposentadoria, dedicou-se a escrever suas memórias no livro “O Sonho”, publicado em 2020, onde relatou a sua trajetória de lutas e vitórias. Sua história é um testemunho de resiliência, amor maternal e dedicação à educação.

Ela faleceu em 15 de abril de 2021 de problemas relacionados ao Coronavírus, COVID 19. O velório foi reduzido, envolvendo apenas os familiares por causa das restrições estabelecidas na época pelo governo devido à pandemia. O seu corpo foi sepultado no mesmo dia no cemitério público municipal São Francisco de Assis de Curitibanos. Ecilda Ribeiro Nórcio deixou um legado de perseverança e esperança. Sua vida ensina que os sonhos, por mais difíceis que pareçam, podem ser realizados com determinação e fé. Para mães de filhos especiais, ela deixou uma mensagem de encorajamento:


Vocês são privilegiadas por receberem essa missão. Sigam até o fim, amando seus filhos e dando exemplos de amor para as pessoas que têm filhos normais. Muitas delas reclamam por qualquer dificuldade que aparece. Mas vocês, por serem especiais, não devem reclamar, e sim agradecer.”


Sua trajetória inspira não apenas aqueles que a conheceram, mas também todos que acreditam que, com amor e persistência, é possível transformar desafios em conquistas.



Referências para o Texto:


NÓRCIO, Ecilda Ribeiro. O Sonho. Editora 3 de Maio. Blumenau/SC 2020.

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