Texto de Antonio Carlos Popinhaki
João Antunes Gomes, conhecido por muitos como “João Góme”, nasceu em 30 de outubro de 1905, na localidade de Vigia, em Coxilha Rica, no interior de Lages, Santa Catarina. Ele era um homem alto e tinha um grande porte físico. Filho de Salvador Trindade Gomes e Felicia Antunes de Lima, Salvador era natural de Lages. Casaram em 21 de janeiro de 1893, na cidade de Lages. João Antunes Gomes cresceu em meio a uma numerosa família, com os irmãos Hilário, Fermino, Ovídio, José, Simão e Avelina. Sua infância e adolescência foram moldadas pela rotina da fazenda na Coxilha Rica, onde desde cedo se envolveu com a lida do campo, laçando e montando em bezerros, desenvolvendo as habilidades que definiriam sua vida: o ofício de domador e a confecção de indumentárias para o trabalho rural. Apesar de não haver registros formais de sua escolaridade, João era um homem alfabetizado, pois sabia ler e escrever, e cuja principal formação veio da escola da vida, do trabalho braçal e do exemplo de sua família.
Aos 15 anos, João Antunes Gomes deu início à sua vida profissional com uma coragem característica. Sua primeira empreitada foi uma viagem até a Campanha, no Rio Grande do Sul, para negociar cavalos, trazendo em sua primeira incursão mais de cem animais para vender na região de Lages. Esta foi a gênese de sua carreira como tropeiro, ofício que o levaria a passar meses fora de casa, percorrendo longas distâncias. Já adulto, um evento marcante definiu seu caminho: ao salvar um bezerro do afogamento numa lagoa no caminho entre Curitibanos e Lebon Régis, impressionou o fazendeiro Simpliciano Rodrigues de Almeida. Este encontro casual levou-o a trabalhar para o filho de Simpliciano, Graciliano Nonato de Almeida, em uma das fases mais significativas de sua carreira. Naquele momento, ao lado da lagoa, João contou a Simpliciano que estava enfrentando uma situação difícil, era recém-casado e estava procurando trabalho. Durante sete anos, João dedicou-se a comprar mulas xucras na Argentina, domá-las e vendê-las na região de Jacarezinho, São Paulo, enfrentando estradas precárias e os perigos inerentes a quem percorria a cavalo quatro estados brasileiros. João começou a prosperar e sempre recordava que graças àquele bezerro, conseguiu possuir alguns bens patrimoniais.
Sua capacidade de trabalho e sua reputação de honestidade abriram novas portas. Após o período como tropeiro de mulas, João passou 18 anos comprando porcos para o frigorífico dos irmãos Ângelo e Pedro Ponzoni e por André David, Arthur, Guilherme, Abrão e Saul Brandalise, de nome Ponzoni, Brandalize & Cia., o que viria a ser o Frigorífico Perdigão localizado na cidade de Videira, tocando os animais pelas estradas rudimentares da época. Em sua vida, foi também balconista de armazém, negociante de animais, comerciante e dono do Açougue Esperança, em Curitibanos. Sua trajetória profissional foi coroada com a fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Núcleo Tritícola, um legado de luta pelos direitos de sua classe. João Antunes Gomes foi um dos fundadores daquela entidade.
Na esfera pessoal, João construiu uma família exemplar ao lado de sua esposa, Maria Joaquina Mendes Gomes, com quem se casou após um namoro que começou no armazém onde trabalhava, na localidade de Palmeira, interior de Otacílio Costa. Juntos, criaram seus filhos: Eires, Odilon, Sebastião, Soni, Odirson, Geni e Romualdo, baseados em valores como honestidade, respeito, bom caráter e pontualidade. João era visto como um homem confiável, e sua família foi sempre seu maior apoio.
Mesmo após a aposentadoria, João manteve um estilo de vida ativo e sociável. Gostava de jogar canastra e dominó com amigos e familiares, e era um contador de causos nato, revivendo para todos as histórias e fatos que presenciou em suas andanças. Suas preferências simples incluíam uma boa costela assada no espeto e espinhaço de porco com batata doce. A música “Coração Solitário” e o livro da Bíblia eram suas referências culturais, e sua filosofia de vida era um reflexo direto de seu caráter: “Um homem não é obrigado a falar, mas se falar, será obrigado a cumprir”.
João Antunes Gomes superou as intempéries da natureza, a dureza das estradas e os desafios do comércio para, no final de sua vida, considerar-se um vencedor. Seu maior legado não está apenas nas instituições que ajudou a fundar, mas no exemplo de coragem, lealdade e honradez que deixou para sua extensa família e comunidade. Seu conselho para as futuras gerações ecoa sua própria história: “A honra é mais importante do que a vida porque um homem sem honra já está morto. Negociando com gente boa, todo negócio dá certo, já com gente ruim e desonesta, nenhum negócio dá certo”. Se pudesse reviver um momento, seria, sem dúvida, a vida de tropeiro, a estrada, os animais e a liberdade que moldaram o homem que se tornou João Antunes Gomes.
Faleceu em 17 de novembro de 1992 na cidade de Curitibanos e seu corpo foi sepultado no Cemitério Público Municipal São Francisco de Assis.
Texto baseado na biografia elaborada por Maria Eduarda (tataraneta), Sebastião Odeson Gomes (filho), Maria Pereira Dias (nora), Edilamar Teresinha Gomes (neta) e Sandro Dias Gomes (neto), em 16 de outubro de 2025.

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